Advogado do Cruzeiro disseca acordo com o Zorya e diz que acusação dos ucranianos é 'absurda'

Guilherme Piu
@guilhermepiu
03/09/2020 às 20:25.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:27
 (Arquivo Pessoal)

(Arquivo Pessoal)

Arquivo Pessoal

 O superintendente jurídico do Cruzeiro revelou na noite desta quinta-feira detalhes do imbróglio que envolve o pagamento de dívida da Raposa com o Zorya, da Ucrânia, ainda pela contratação do atacante Willian “Bigode”, em 2013, na gestão de Gilvan de Pinho Tavares.

O advogado Flávio Boson Gamboji disse à imprensa que se surpreendeu negativamente com as declarações de dirigentes ucranianos, responsáveis por alterar completamente o rumo do acordo que já estava detalhado, e que falaram em assinaturas falsificadas nos documentos trocados via e-mail entre as agremiações.

“Fiquei surpreso como torcedor e profissional envolvido em todo o episódio. É um episódio que surpreende negativamente, enfim, coisas do futebol. Espero que isso um dia não vá para frente”, disse Boson.

O acordo

O advogado explicou ponto a ponto como se deu o acordo entre o Cruzeiro e o Zorya, citou nome de envolvidos na ponte que ficou acordada por meio de concessão de crédito à Alik Management Football, da Estônia, um suposto credor do clube ucraniano. Nessa negociação a Raposa pagaria cerca de R$ 6,2 milhões em dez parcelas ao Alik, com a primeira parcela no valor de R$ 627 mil em dez dias, após homologação do acordo, e as demais no dia 30 de cada mês até maio de 2021. 

“O Cruzeiro foi procurado algum tempo antes do prazo de vencer a dívida, a segunda e terceira dívidas do Zorya, porque eram três processos, e a primeira foi acertada antes da posse da nova diretoria, do presidente Sérgio. O clube foi Procurado por um representante brasileiro da empresa Alik Management, que teria recebido crédito cedido pelo Zorya. Essa pessoa é o doutor Marcelo Amoretti, advogado no Rio Grande do Sul, filho do ex-presidente do Internacional. Passamos a negociar,ele disse que teria havia a cessão do Zorya com esse Alik. Negociamos e chegamos a um termo, que seria um desconto e parcelamento do valor devido”, revelou.

Boson explicou também que fez exigências para definir o acordo e garantir segurança jurídica ao Cruzeiro e que recebeu confirmações importantes do negócio remetidas pela conta oficial de e-mail do Zorya. Endereço eletrônico que, de acordo com o próprio advogado, está cadastrado no sistema oficial da Fifa.

“Perguntei qual era o próximo passo para formalizar o acordo garantindo segurança a todos e ao Cruzeiro. Disse que era preciso um comunicado oficial do Zorya dizendo que o crédito foi cedido ao Alik. A operação de cessão de crédito é absolutamente natural, você tem um crédito e você pode ceder esse crédito a terceiro, como é regulamentado e admitido pela lei brasileira e em todos países do mundo. Foi feito essa operação. Pedi que fosse enviado pelos canais oficiais do Zorya a confirmação do crédito e isso foi feito no dia 19 de agosto deste ano, em e-mail enviado no canal oficial do Zorya, o email do clube que é cadastrado no sistema da Fifa”, contou.

Comprovação com documentos

Flávio Boson mostrou aos jornalistas o endereço do e-mail da equipe ucraniana e disse que o endereço é o cadastrado diretamente na Fifa.

“Não é qualquer e-mail que alguém pode enviar, não é o e-mail particular de dirigente do Zorya, não é e-mail particular de alguém da Ucrânia, não, de fato é o e-mail da equipe do Zorya cadastrado na Fifa. Eu demorei quase um mês para cadastrar o meu e-mail nesse sistema Fifa depois da minha posse como superintendente para receber as intimações. Para vocês (jornalistas) terem ideia do grau de segurança e confiança que ainda tenho nesse sistema. Pedi que fosse encaminhado e-mail do Zorya como primeira condição para que fosse assinado o acordo. E esse e-mail veio”, falou.

Por garantias ao Cruzeiro o advogado solicitou que o Zorya assinasse o termo de concessão de crédito ao Alik como o terceiro interessado. Boson exigiu também que qualquer pagamento fosse feito pelo Cruzeiro após a homologação do acordo pela Fifa.

A entrevista serviu para o Cruzeiro deixar transparente a operação realizada via internet e apresentou e-mails oficiais envolvidos na transação, inclusive o endereço FC@Zarya-luhansky.com, que é o e-mail do Zorya cadastrado na Fifa.

O Cruzeiro presentou uma carta enviada pelo Zorya confirmando que o clube ucraniano confirmava a operação de concessão de crédito ao Alik. Mas depois de tudo feito a diretoria do clube da Ucrânia afirmou à Fifa não reconhecer a negociação. E a Raposa foi punida com o “transfer ban”, que é o impedimento de novas inscrições de atletas até que a dívida seja paga.

“Acabou, infelizmente, ao meu juízo por um ato muito estranho, para não falar coisa pior, que o Zorya disse que esse documento é falso. Até me pergunto, por mais absurdo que seja, e eu não concordo, o carimbo pode ser falsificado? Sim. A assinatura pode ser falsificada, acho que sim. O e-mail pode ser hackeado? Duvido, o e-mail do Zorya? Isso ele (dirigentes ucranianos) não fala em seu comunicado à Fifa, não disse que o e-mail foi hackeado. Engraçado, o mesmo e-mail que o Zorya diz ao Cruzeiro que o crédito era do Alik, é o endereço que o Zorya envia à Fifa dizendo que o documento era falsificado. Não é o e-mail particular do dirigente do Zorya, é o e-mail cadastrado no sistema da Fifa”, explica.

Questionamentos

À Imprensa, Boson disse que mantém a confiança nos advogados brasileiros que procuraram o Cruzeiro para negociar. E colocou questões que precisam ser respondidas para desatar os nós dessa história envolvendo brasileiros e ucranianos.

“O e-mail oficial do Zorya cadastrado no sistema Fifa é seguro, o sistema é seguro? O e-mail foi hackeado? Essas perguntas precisam ser respondidas, e o Cruzeiro não tem como responder essas perguntas. O Cruzeiro se resguardou de todas as formas. O Cruzeiro não pagou até agora ninguém, porque espera a confirmação de fato das negociações, o Cruzeiro confiou no sistema Fifa 0...) O Cruzeiro confiou nos advogados envolvidos e continua confiando, e tem plena convicção que os procedimentos foram corretos e adequados”, comentou.

“Que a gente possa esclarecer esse triste episódio. Fica mais triste ainda, infelizmente, porque a imagem do Cruzeiro está de fato manchada, pessoas que nos antecederam acabaram de manchar a imagem do Cruzeiro. Parece que o Cruzeiro é que está errado. Fizemos questão de exibir os documentos e abrir o meu e-mail para que todos possam ver o que ocorreu sobre esse episódio”, disse Boson.

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