Além do machismo, deve-se combater o racismo

Cinthya Oliveira
24/12/2015 às 09:41.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:27
 (Frederico Haikal / Hoje em Dia )

(Frederico Haikal / Hoje em Dia )

Todas as manifestações contra o machismo realizadas em 2015 são decorrentes de uma luta histórica, não há dúvida. Mas há olhares novos sobre o movimento feminista que se tornaram mais evidentes agora e que abrem portas para novos caminhos e conquistas.

Como é o caso da diferenciação da luta da mulher negra dentro do movimento feminista. Isso ficou mais evidente depois que o Ministério da Justiça divulgou uma pesquisa que indicou que a taxa de mulheres negras vítimas de homicídios no país é mais que o dobro da de mulheres brancas – para cada 100 mil habitantes, o número é de 7,2 e 3,2 respectivamente.

“A marcha das mulheres negras em Belo Horizonte, no dia 13 de maio, foi significativa, chamando para a 1ª Marcha Nacional das Mulheres Negras, em novembro, que foi um marco”, relembra Rosália Diogo, curadora da última edição do Festival de Arte Negra (FAN) e professora da Universidade Federal de Ouro Preto.

A marcha nacional, realizada em Brasília, reuniu 4 mil mulheres, que passaram por um embate com manifestantes pró-impeachment na ocasião.

Segundo ela, toda ação, na rua ou na internet, é importante para a quebra de paradigmas, especialmente em nome da valorização da mulher negra. “Temos de ter uma junção de várias forças para quebrar essa estrutura secular que insiste em nos oprimir”, diz a professora. “É preciso pegar a pesquisa que indica que o número de homicídios de mulheres negras aumentou e pensar: quais são os motivos? Temos de ter políticas públicas para resolver”.
 
Ataques
 O combate ao racismo não é novidade na carreira de Taís Araújo

Uma prova de que a mulher negra vivencia um preconceito muito maior do que as brancas é a série de ataques cibernéticos a mulheres negras famosas nas redes sociais. A primeira vítima foi Maria Júlia Coutinho, repórter do tempo da Globo que, em 2015, foi transferida do “Bom Dia Brasil” para o horário nobre do “Jornal Nacional”. Os ataques de agosto geraram a hashtag #somostodosmaju, que bombou nas redes sociais.

No dia 1º de novembro, foi a vez de Taís Araújo sofrer ataques, após postar uma foto no Facebook. Ficou ainda mais claro que os ataques são realizados por grupos organizados quando os mesmos insultos foram replicados no perfil das atrizes Cris Vianna e Sheron Menezes.
 
E MAIS:

 
Nas redes sociais, o machismo foi um assunto debatido intensamente
 
Este ano, foram muitos assuntos que levantaram debates sobre o machismo. Recentemente, houve o caso do marido traído que destruiu um carro – boa parte das pessoas fez piada sobre o assunto e colocou a culpa na mulher – e da estudante Poanka Faleiro, que expôs no Facebook o histórico de violência do namorado, depois de ele ter sido preso por tê-la espancado. As hashtags #primeiroassédio (criada no momento em que pedófilos fizeram comentários de cunho sexual sobre uma participante de 12 anos do programa “Master Chef Júnior”) e #meuamigosecreto permitiram que as mulheres pudessem compartilhar suas histórias de opressão e mostrar que as relações machistas são cotidianas.
 
O papel da mulher pautou criações no cinema, na música e no teatro
 
No universo das artes, o empoderamento feminino foi pautado de diferentes formas. Duas franquias de sucesso no cinema colocaram mulheres como protagonistas: “Mad Max” (em “A Estrada da Fúria”, além do trabalho de Charlize Theron, a objetificação da mulher está no centro da discussão colocada) e “Star Wars” (em “O Despertar da Força”, Rey, vivida por Daisy Ridley, se descobre como jedi). No universo da música, Elza Soares chamou a atenção para a violência doméstica com a sensacional “Maria da Vila Matilde”, faixa de “A Mulher do Fim do Mundo”. O teatro também pautou o assunto em vários espetáculos, como “Rosa Choque”, “A Mulher que Cuspiu a Maçã”, “Cassino do Cupido”, “A Fantástica Casa de Bonecas” e outros.
 
Temática foi tratada em discurso do papa e em dois momentos do Enem
 
A luta contra o machismo está tão forte na atualidade que o papa Francisco fez questão de tratar do assunto em um discurso, em abril, contra “os excessos do machismo, que considera a mulher de segunda classe”. O Ministério da Educação também deu seu recado por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2015, que trouxe a figura de Simone de Beauvoir nas questões de múltipla escolha e tratou da violência doméstica como tema de redação. No fim do ano, foi a vez de uma ONG norueguesa dar o seu recado contra o machismo, por meio de uma campanha publicitária em que uma bebê conversa com o pai sobre seu futuro contato com o machismo. Em 20 dias, o vídeo teve 6,5 milhões de visualizações.

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