Aniversariante do dia, Cesar Cielo garante estar pronto para brigar por uma vaga na Olimpíada do Rio

Felippe Drummond Neto - Hoje em Dia
Hoje em Dia - Belo Horizonte
10/01/2016 às 08:37.
Atualizado em 16/11/2021 às 00:57
 (FRANCOIS XAVIER MARIT/afp - 3/8/2013)

(FRANCOIS XAVIER MARIT/afp - 3/8/2013)

O ano de 2015 não foi como o nadador Cesar Cielo gostaria. Uma lesão no ombro esquerdo o levou a abandonar o Mundial de Kazan, na Rússia, em agosto e, quatro meses depois, o Campeonato Brasileiro Sênior, em Palhoça (SC). Com isso, o campeão Olímpico dos 50m livre de Pequim, em 2008, e terceiro colocado em Londres 2012, chega ao ano da Olimpíada do Rio ainda em busca do índice.

Para tanto, o nadador, que comemora hoje 29 anos, terá apenas uma oportunidade, no Troféu Maria Lenk, que acontece em abril, no Centro Olímpico Aquático, no Rio de Janeiro. Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, Cielo fala sobre a carreira, o momento vivido pela natação brasileira e a expectativa de bons resultados da equipe brasileira nos Jogos Olímpicos.


Como está sua cabeça para 2016? E seu corpo?
Está tudo no lugar certo. Estou treinando bastante, focado na Olimpíada e no que tenho que fazer para chegar bem lá.

Apesar de ser atleta do Minas, você e o Thiago Pereira ficam pouco tempo em Belo Horizonte. Por que?  
Cada um escolhe o lugar que se sente mais confiança para treinar. E os Estados Unidos acabam sendo a escolha de muitos brasileiros pela facilidade de infraestrutura existente lá. Mas vai de cada um. Tem muitos atletas que dão certo aqui, como a Etiene Medeiros e o Felipe França, que treinam no Brasil e são campeões.

Após um período de crescimento exponencial, a natação do Brasil decepcionou em 2015, no Mundial de Kazan. Por que você acha que aconteceu essa queda?

Não acho que houve queda. Se analisarmos o grupo como um todo houve melhora. Estamos com grandes atletas em várias provas. Pode não ter refletido em medalhas, mas para a gente que está lá dentro foi uma melhora. O grupo é muito jovem e está apresentando uma evolução contínua. Além disso, também obtivemos bons resultados com a Etiene (Medeiros), que está medalhando em todas as competições, o Thiago (Pereira), repetindo sua medalha, o Bruno (Fratus), conquistando uma medalha nos 50m livre, e o Matheus Santana, chegando na final dos 100m livre.

Quis o destino que o melhor ano de sua vida pessoal (com o nascimento de seu filho) também tenha sido o pior ano de sua carreira de nadador. Como encarou isso?
Encarei com naturalidade, como tudo que acontece em minha vida. No esporte a gente tem dois resultados, vitória e derrota, e sabemos que nem sempre as coisas vão ser como a gente quer. Então, é bola pra frente. Estou mesmo muito feliz com minha vida pessoal, mas na profissional quero dar a volta por cima.

Confiança é a chave de tudo. Como está sua confiança depois de um ano como 2015?
A confiança está em alta e estou me sentindo bem. Agora é voltar a conquistar os grandes resultados.

Quem você considera seus principais adversários na Olimpíada, levando-se em conta que vai se classificar?
São vários, incluindo alguns brasileiros, como o Matheus Santana, Marcelo Chierighini, Bruno Fratus e o João de Lucca. Fora do país tem o Florent Manaudou (França), James Magnussen (Austrália), Cameron McEvoy (Austrália) e Nathan Adrian (Estados Unidos). Todos têm chances de ganhar na Olimpíada.

Como você lida com as cobranças e com os comentários sobre você?
Tento não ler muita coisa. Acompanho meu próprio Facebook, Twitter e Instagram, apenas. Não fico procurando nada meu na internet, pois sei que muitas vezes não vai me fazer bem. Por isso evito.

Essa lesão que o acompanha desde agosto do ano passado ainda te preocupa? Você já está recuperado? Se não, acha que dá tempo até a seletiva no Maria Lenk?
A lesão já não incomoda, estou totalmente recuperado e treinando normalmente, sem dor, e focado no Maria Lenk.

Você vai tentar índice olímpico para quais provas? E quais você realmente quer disputar no Rio?
Vou buscar os índices no 50m e 100m livre. Também quero compor a equipe do revezamento 4x100m livre.

Pela expectativa do COB de terminar entre os dez primeiros, a natação brasileira precisa conquistar no mínimo três medalhas. Acha essa meta possível? E quais as provas que você aposta em medalhas brasileiras?
Acredito que vamos conseguir alcançar essa meta. Acho que o revezamento pode conseguir uma medalha; o Thiago (Pereira), a Etiene (Medeiros). Nos 50m livres, a gente pode sonhar até mesmo com uma dobradinha, o Felipe França também tem boas chances. Por isso acho que três medalhas é totalmente palpável.

Até hoje, o recorde mundial dos 50m livre (20s91) pertence a você, mas ele foi conquistado na época dos super trajes. Acredita que algum dia ele será quebrado? E o recorde olímpico (21s30)?
Acho que um dia o recorde mundial será quebrado, afinal o esporte está sempre evoluindo. Cada ano que passa estamos vendo tempos melhores. Já o recorde olímpico acho que será quebrado no Rio.

Apenas um nadador acima dos 28 anos (Gary Hall Jr.) conquistou o ouro olímpico dos 50m livre. Como você, que completa 29, vê essa escrita? Acha que pode fazer o mesmo?
Isso só mostra que é totalmente possível. Se um já conseguiu, porque eu não posso fazer o mesmo?

Muitos atletas dizem que olimpíada é momento. Você também pensa assim?
Pra ser sincero, estou fazendo tudo da mesma forma de sempre. Na minha cabeça, Olimpíada é igual a Mundial, o nível da competição é muito parecido, apenas com um pouco mais de glamour, além de a disputa acontecer de quatro em quatro anos. Isso faz com que ela ganhe um pouco mais de visibilidade. Mas sempre encarei como uma competição normal, e acho que é a melhor forma de encará-la.
 

Roma 2009 – Com duas medalhas, Cielo leva o país ao seu melhor desempenho em mundiais. Foto: FRANCOIS XAVIER MARIT/AFP - 3/8/2013

 

Você considera que a natação brasileira evoluiu neste ciclo olímpico?
Considero que sim, tanto que temos hoje dois revezamentos muito fortes, o 4X100m medley e o 4x100m livre. Isso mostra que o grupo é muito forte. Não somos mais uma seleção feita por apenas um ou dois atletas. Desde que eu cheguei na seleção, em 2004, melhoramos bastante, e o futuro deve ser ainda melhor, já que todo ano vemos novos atletas surgindo. Acho que esta geração é a mais forte que já tivemos.
 

Qual será o legado para natação brasileira após a Olimpíada?
Espero que seja um legado de grandes resultados, mas principalmente de grande credibilidade para a natação. Não posso falar dos outros esportes, mas um dos melhores legados que teremos é o profissionalismo que os atletas alcançaram nos últimos anos. Essa geração é muito profissional e muito comprometida. E creio que a medalha virá para coroar tudo isso. Infelizmente, o grande público não tem acesso ao dia a dia, as exigências e os treinamentos, mas posso garantir que é exemplar o trabalho que está sendo feito. E se as próximas gerações seguirem nesse mesmo rumo, nós vamos continuar como potência mundial.

O Brasil tem vasto material humano para conseguir sucesso individualmente, e não apenas no coletivo. Para você, o que falta mais ao país: maior investimento ou treinadores mais capacitados para explorar o potencial desses atletas?
É difícil apontar um fator apenas para se melhorar. Acho que é um pouco de tudo. Realmente é uma roda, um ciclo de acontecimentos diretamente relacionados. Temos muitos problemas com o sistema esportivo brasileiro, tanto na base quanto no profissional. Na base estamos mais focados em ensinar do que dar uma continuidade, foi o que eu tentei fazer diferente no meu projeto. Não é só ensinar, é dar a oportunidade de competir, de experimentar o esporte de verdade. A prática é legal para o desenvolvimento da criança, mas se o Brasil quer ser uma nação competitiva, ter um esporte de alto nível, realmente precisa de competição. E este é um outro problema que enfrentamos aqui. Há muito poucas competições no Brasil. Temos uma a duas por semestre, enquanto nos Estados Unidos existem duas por mês. Esse lado competitivo no Brasil precisa melhorar muito, e isso só acontece com estímulo. E nesse caso afeta até os profissionais. No alto nível, as dificuldades são que os investimentos só aparecem após um bom resultado. Nunca é feito um apoio a longo prazo, acreditando que aquele atleta pode chegar, só depois que ele está pronto. A maioria aproveita a imagem do atleta quando ele está bem e espero que a Olimpíada ajude a mudar isso.
 

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