Aposentado desde o ano passado, Alex experimenta vida de comentarista

Alexandre Simões e Henrique André - Hoje em Dia
27/09/2015 às 08:23.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:52
 (Luiz Costa)

(Luiz Costa)

Quando a bola rolar no Mineirão, às 18h30, para o confronto entre Cruzeiro x Coritiba, pela 28ª rodada do Campeonato Brasileiro, o ex-jogador Alex estará voando de Curitiba para São Paulo, onde participará de um programa de televisão às 22h. Ídolo de alviverdes e celestes, o ex-meia pendurou as chuteiras no final do ano passado e atualmente trabalha como comentarista na ESPN Brasil.

Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, Alex fala para quem torcerá no duelo desta noite, opina sobre o momento difícil que vivem Raposa e Coxa dentro e fora de campo, e comenta a crise na Fifa e na CBF. Feliz com os novos desafios, o “Talento”, como ficou conhecido pelos cruzeirenses, fala também sobre a vida de ex-jogador e revela se aceitaria assumir um cargo diretivo em clubes ou entidades.

Como fica o coração do Alex num dia em que Coritiba e Cruzeiro fazem uma partida decisiva?

Pra mim é muito tranquilo. Gosto dos dois times. Cresci Coxa-Branca e nunca escondi isso de ninguém. Do outro lado está um clube (Cruzeiro) que eu aprendi a gostar. Não fico dividido. Eu vejo futebol gostando de futebol. Torço para que o Coritiba mantenha o bom momento dele, que o Cruzeiro consiga fazer um bom jogo e dentro dos 90 minutos quem for melhor vença.

Você passou as duas últimas temporadas no Coritiba. O que está acontecendo com o clube que passou a viver a rotina de brigar contra o rebaixamento?

O clube tem um potencial que não foi explorado ainda. Vive dificuldades financeiras enormes e com isso é obrigado a usar os meninos da base. O Ney Franco vem fazendo isso e eles vêm dando conta do recado. O time alcançou um bom nível nas últimas semanas.

E no caso do Cruzeiro, que é bicampeão brasileiro, o que provocou essa queda de produção tão acentuada?

Primeiro que desmontou o time bicampeão brasileiro. Perdeu o meio campo que era espetacular, sobrando só o Henrique. O Moreno era outra peça importante na frente e o Dedé, lá atrás, jogou pouco esse ano. Nessa situação, pagou a conta dentro de campo. A queda providencial talvez tenha sido com a saída do Marcelo, que não teve a oportunidade de refazer o time dele. Foi mandado embora pelo presidente (Gilvan de Pinho), que não deu a ele a oportunidade de refazer esse time que estava sendo desmontado, para a surpresa de todos. É uma situação nova para o Cruzeiro. Mas acho que daqui a quatro ou cinco jogos a briga contra o rebaixamento já vai ter diminuído bastante.

Dos dois esquadrões que você integrou no futebol brasileiro, qual era melhor, o Palmeiras campeão da Libertadores de 1999 ou o Cruzeiro que conquistou a Tríplice Coroa em 2003?

Já fiz esta análise várias vezes. Individualmente, o Palmeiras tinha muitos jogadores consagrados. Já o time de 2003 era formado com jogadores que, na maioria, estavam recebendo a primeira oportunidade; um ou outro tinham títulos que pesavam no currículo. O restante era tudo menino. Meninos que se consagraram por aí, inclusive. Dos 14 ou 15 que jogavam sempre, apenas o Recife não atuou na Europa. Analisando time por time, você tem que ver a figura dos treinadores também. O Felipão montou um time para ganhar a Libertadores, sem se preocupar com a forma. Já o Cruzeiro de 2003 era a cara do Luxemburgo na época, com muita velocidade e variação. O Palmeiras ganhava mas não encantava, ao contrário do Cruzeiro de 2003.

O Bom Senso F. C. surgiu com você sendo um dos líderes. O movimento sofreu um processo de regressão ou passou a ter menos espaço na mídia?

O Bom Senso passou por vários momentos. Primeiro que, para ter exposição, tem que ter alguém para falar. De quem dava a cara a tapa, o único que sobrou (como titular) foi o Paulo André. O Dida perdeu espaço no Inter, mas participa ativamente. O Ruy tem falado, mas é ex-jogador. Temos uma sociedade de jogadores de futebol totalmente desinteressada pela causa. É muito difícil fazer com que eles participem ativamente. Treinadores também não se posicionam, assim como preparadores físicos. A maioria concorda mas não se posiciona. Vivemos numa sociedade individualista, que muita gente defende o momento. Em contrapartida, (o Bom Senso) ganhou força política, participando da MP-671, que pode ser a porta para a salvação do futebol brasileiro. Aquela exposição inicial (com protestos antes das partidas) diminuiu bastante, até pela falta de interesse dos jogadores. Além disso, se preocupam com os empregos e com as famílias, pois infelizmente temos dirigentes que gostariam que o futebol continuasse como está e a retaliação come solta.

O que você pensa da crise na Fifa e que acabou atingindo em cheio a CBF?

Temos que dissociar muita coisa. A CBF, no papel de detentora dos direitos de transmissão da Seleção, faz bem as coisas. Sempre fui bem tratado como jogador e não tenho uma vírgula para falar mal dela. Isso ela (CBF) faz de uma forma fantástica. O resultado técnico e financeira desde 1989 é bom. A forma como é feita é que tem que ser analisada e é justamente isso que está sendo investigado. O futebol brasileiro em si não tem nada a ver com a seleção e tem que ser melhor tratado. Vemos a discussão sobre erros de arbitragem, por exemplo. É um pseudo-profissionalismo que existe. A CBF ganha muito dinheiro e as federações fomentam muito pouco o futebol em seus estados. É momento de investimento e de discussões.

Você ocuparia algum cargo diretivo em clube ou federação?

Não. Rechaço qualquer tipo de convite. Futebol é para quem tem preparo. Joguei vinte anos e só sou capaz de apontar o que vi e vivi. Hoje não me sinto capacitado para dirigir. Tenho até estudado fora, feito alguns cursos de capacitação, tentando tirar a vestimenta de jogador e me adaptar a nova rotina. Quem sabe mais para frente possa acontecer algo do tipo. Hoje o que eu consigo fazer bem é discutir ideias.

O final da sua carreira ainda é muito recente. Bate um arrependimento?

Nenhum. Eu brincava com a minha mulher, dizendo que eu tinha que me ver voltando ao estádio, vendo um jogo importante, para ver qual a sensação que eu teria. Conversei com ex-jogadores, que se aposentaram há muito tempo e com outros que largaram o futebol recentemente, e a conversa era sempre a mesma. Eles disseram que em algum momento eu vou sentir saudade. Fiz um teste e voltei ao estádio num jogo do campeonato paranaense e foi super divertido. Até hoje não bateu saudade alguma. Atualmente jogo um campeonato com uns amigos que atuaram na base comigo; uns chegaram ao profissional e outros tomaram outros rumos. Num dia desses fiz um gol de falta. Talvez seja a única saudade quando estou no estádio de futebol. É diferente você jogar bola e jogar futebol.

Você passou mais de uma década sem vestir a camisa do Cruzeiro. O que sentiu no dia da sua despedida no Mineirão, em 27 de junho?

Foi fantástico. Eu sou um cara que respeito muito a história. A grandeza do Cruzeiro de hoje é muito em cima dos nomes quem estava lá naquele dia. Num momento do jogo, eu brincava com o pessoal que aquilo era mágico. Num ataque você pegava três décadas. Passei o dia todo com Dirceu Lopes, depois tive a condição de dividir espaço com Marco Antônio Boiadeiro, que eu adorava desde criança. A maior satisfação foi ver jogadores que fizeram a riquíssima história do clube, mas que nunca haviam se encontrado no mesmo ambiente.

“O Felipão montou um time em 99 para ganhar a Libertadores, sem se preocupar com a forma. Já o Cruzeiro de 2003 era a cara do Luxemburgo, com muita velocidade e variação. O Palmeiras ganhava mas não encantava, ao contrário do Cruzeiro”

“Temos uma sociedade de jogadores de futebol totalmente desinteressada na causa (do Bom Senso F.C). É muito difícil fazer com que eles participem ativamente do movimento”

“Infelizmente temos muitos dirigentes que gostariam que o futebol continuasse como está e a retaliação (com jogadores que participam do movimento Bom Senso F.C) come solta”

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