'Aquele futebol de Zico, Romário, Reinaldo e Ronaldo não vai ter mais'

Gláucio Castro e Alexandre Simões - Hoje em Dia
29/02/2016 às 07:44.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:37

Quando olha para trás e relembra da sua carreira, o que passa pela sua cabeça?

Fui bandido, ladrão, fui parar na Febem e fiquei preso. Hoje me orgulho de ser o Dario José dos Santos, o Dario Peito de Aço. Passar tudo que eu passei e chegar aonde eu cheguei. Me sinto um homem digno de entrar em qualquer casa.

Acha que daria para ter feito algo diferente?

Eu mudaria sim. Fui muito bobo. Eu fui bom demais mas também fui bobo. Até os jogadores chegavam perto de mim e falavam que eu deveria pedir aumento. Mas eu não ia, largava para lá. Eu nunca pedi nada. Se tivesse pedido estaria rico.

Você e o João Saldanha chegaram a fazer as pazes?

Não deu tempo. Eu tinha que ter conversado com ele. Mas onde ele estiver eu sei que ele vai me ouvir. Peço desculpas, João Saldanha. Eu achava que ele tinha zombado de mim e depois fui descobrir que tudo não passou de um mal entendido. Me mostraram uma entrevista editada do que ele tinha falado a meu respeito, depois fui descobrir que não era nada daquilo.

Agora, o fato de ele não gostar do meu futebol e não ter me convocado é um direito dele. Depois que ele morreu, publicaram uma entrevista dele e ele encheu minha bola. Fui ao Maracanã, abracei a estátua dele que inauguraram lá e pedi desculpas.

O Yustrich custou a te dar oportunidade. Foi difícil conquistar a confiança pelo temperamento dele?

Quem falar mal do Yustrich é o maior absurdo do mundo. Eu tenho muita gratidão a ele. Vim para o Atlético quando o Airton Moreira era o técnico e ele falava que eu era perna de pau. Depois chegou o Yustrich e também não me colocava para jogar. Um dia, cheguei para ele e pedi uma oportunidade. Entrei num coletivo no time reserva e fiz dois gols. No intervalo falei para ele me colocar de titular que eu ia virar o jogo. Ele colocou e eu fiz mais três. Foram cinco gols no total, só neste treino. Aí não teve como me tirar mais.

Você acha que está faltando no futebol mais jogadores irreverentes como você?

Ótimo tocar nesse assunto. Não aguento mais ouvir jogador falar que está focado. Sou amigo do Pelé, mas não achava legal ele comemorar apenas com um soco no ar. Acho que o público queria ver mais. Eu inventava coreografias, frases e os torcedores adoravam. O público gosta de ver alegria nos estádios. Muitos políticos até hoje usam as minhas frases. Espero que o futebol volte a ter essa alegria.

Você sente saudade do futebol da sua época?

Aquele futebol do Gérson, do Romário, do Zico, do Reinaldo e do Ronaldo não vai ter mais. Hoje privilegiam muito a força física, mas o pessoal tem que voltar a fazer aquelas tabelas, aquelas jogadas bonitas. Vejo nos treinos todo mundo trabalhando mais a parte física, mas falta a parte técnica. Eu que era horrível, mas treinava e dava para enganar. No fim, até driblando eu estava.

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