‘O momento ruim do país afasta investidores para o novo estádio’

Frederico Ribeiro - Hoje em Dia
12/03/2015 às 07:10.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:19
 (Ricardo Bastos)

(Ricardo Bastos)

Buscar os filhos na escola, planejar uma viagem com a família ou um almoço no fim de semana viraram tarefas impossíveis nos últimos meses. Daniel Nepomuceno desejaria que o dia tivesse mais do que 24 horas após ter a rotina completamente alterada.    Eleito presidente do Atlético em dezembro, o ex-vice de Alexandre Kalil passou a ter a palavra final no clube mineiro e completa exatos 100 dias de sua ascensão nesta quinta-feira (12). Entre as grandes tarefas do vereador pelo PSB, a mais urgente é o retorno do futebol competitivo de 2014. Para isso, o foco é totalmente voltado para o que acontece dentro das quatro linhas.    Isso obriga Daniel a marcar presença nos treinos, jogos e viagens, como a desta quinta para Poços de Caldas, onde o Galo enfrenta a Caldense pelo Campeonato Mineiro.   Em entrevista ao Hoje em Dia, Nepomuceno também falou sobre outras questões de sua agenda. Entre elas, a renovação de contrato de Guilherme, o estádio próprio e o processo trabalhista movido por Gilberto Silva.   Você completa nesta quinta-feira (12) 100 dias como presidente do Atlético. Qual é o balanço que faz?
  É um orgulho imenso completar essa mini-marca. Só tenho a agradecer a todos do clube que estão juntos na administração do Atlético. Estamos realizando um trabalho comprometido. A expectativa é a de que os próximos 100 dias sejam de valorização do time e da volta do futebol de antes.   Ser presidente do Atlético deve render privilégios e dor de cabeça. Qual o lado positivo e o negativo do seu cargo?
O lado positivo é que você trabalha em algo que acredita e ainda mexe com a paixão de milhões de pessoas. O ônus é a falta de tempo e o desgaste muito grande de presidir uma empresa com orçamento gigante. Você tem que estar presente em tudo. Acompanhar o futebol, as categorias de base, os patrimônios, lidar com contratação de jogadores, análise de contrato. Acompanhar o futebol no mundo todo, criar um network violentíssimo, sempre estar em busca de resultados e pontuando mudanças no plano estratégico criado no começo do ano.   Você assumiu o lugar do Alexandre Kalil. A pressão é grande?
Acredito que o grande objetivo da minha gestão é dar continuidade ao que foi plantado pelo Alexandre. Ele foi o melhor presidente da história do Atlético. O momento é de continuar com o trabalho que foi construído nos últimos seis anos. A gente se encontra de vez em quando, porque tem a falta de tempo que citei antes. Mas quando se junta, é em um ambiente descontraído. Temos uma diretoria que foi mantida e é muito unida. Ele é um grande conselheiro e amigo. Ele sabe como ninguém o que é ser presidente do Galo, o que é sentar nesta cadeira. O Kalil dá o conselho na hora certa. Dá muita força e sempre diz que podemos contar com ele.   As duas derrotas na Libertadores mudaram sua maneira de administrar o futebol?
Quando o trem tenta sair do trilho, há a necessidade de mudar e reagir. Tivemos azar. Viemos com a taça da Copa do Brasil e a ótima apresentação no amistoso contra o Shakhtar. Depois vieram várias lesões. Perdemos o Lucas Pratto e o Marcos Rocha na véspera de viajar para o Chile. A derrota cria pressão em todos nós, principalmente no treinador e no presidente. Temos que focar 100% no futebol. Então a mudança foi essa: ir mais aos treinos, acompanhar de perto, tentar ir a todos os jogos, viajar com o time.   O Atlético acertou patrocínio com a MRV para este ano. Mas as conversas com a CEF continuam?
Houve a negociação há mais tempo. Mas aconteceu o fenômeno de instabilidade no governo federal, que complicou. Tínhamos uma expectativa com a Caixa (Econômica Federal) e senti que não ia acontecer. Mas todo contrato tem cláusulas caso haja ofertas mais vantajosas para o Atlético. Por enquanto, estou focado no futebol e não há conversa com a Caixa há mais de um mês.   O Atlético ainda busca investidores para a construção do estádio. Houve algum avanço?
Estamos buscando investidores. Temos a área para a construção junto com algumas parceiras e há o projeto do estádio. Mas o momento do país é péssimo, principalmente para atrair investidores estrangeiros. O projeto está avançado. Mas prefiro não dar detalhes e nem criar um cronograma para o estádio.   Como você lida com o processo trabalhista movido por Gilberto Silva?
Acredito que o Gilberto Silva foi mal assessorado. Ele tinha a torcida do Atlético ao lado dele. Preciso conversar com ele ainda. Não quero que a ação arranhe a história dele no clube. Infelizmente, é comum no futebol (ações trabalhistas). Lógico que houve uma reação negativa dos torcedores. Foi uma ação mal instruída.   E como está a situação financeira do Galo hoje?
Tirando este final de ano, continua tranquila. Todos os grandes números da dívida foram renegociados com prazo e metas de pagamento. Acho que o futebol brasileiro não tem a consideração ideal do governo. Então, vai continuar este trabalho insano de tentar renegociar anos e anos de dívidas com os clubes.   E a renovação de contrato do Guilherme?
Quando o Guilherme machucou, disse que iria esperar ele voltar a jogar para tratar da renovação. Ele começou a pisar no gramado esses dias. Vamos deixar ele recuperar. Quero que ele jogue no Atlético e temos uma proposta muito boa para ele, em termos de salário e prazo.    O Luan deu uma entrevista falando de insatisfação e disse que quer uma valorização. Mas o contrato do jogador só acaba ano que vem...
Está tudo normal. Ele foi perguntado e disse que quer uma valorização, como qualquer jogador. Tem contrato até 2016. Não tem crise com o Luan, ele é novo. Não tem nada de saída.   Sobre as contratações, o Pratto machucou e está voltando. Mas Cárdenas parece não ter se adaptado ainda.
Se fizer um histórico dos jogadores estrangeiros que são contratados aqui, vamos analisar que eles precisam de um prazo para adaptação, para se encaixar. Depois eles entram na melhor forma. O Pratto se adapta melhor até pela posição. É atacante em um time muito veloz. Quando é um lateral, um volante ou um meia, a espera é maior, por ter de atacar e defender. Mas o Levir confia no Cárdenas.   Como é sua relação com o Levir? Ele tem alguma rusga com a diretoria?
Nada disso. É um cara muito sereno, um dos maiores técnicos do Brasil. Esses oito anos que ele ficou no Japão o transformaram em uma pessoa de outro patamar. Nos damos muito bem.
  Se o Galo for eliminado na Libertadores, Levir cai?
(A especulação) Isso é uma mentira absurda.   E o convite que o Levir recebeu da CBF para treinar a Seleção Olímpica?
O Marco Polo (Del Nero, futuro presidente da entidade) não faria isso.    E qual o percentual de direitos de imagem que o Atlético paga aos jogadores?
Por se tratar de valores de contrato, o clube não divulga essa informação. O que posso dizer é que cada jogador tem um contrato individual. Portanto, um pode receber tantos por cento de imagem e outro receber porcentagem diferente. Varia de contrato para contrato.   Você disse, antes do primeiro clássico deste ano, que torcida dividida seria pouco provável. Por quais motivos?
Todo mundo quer ver o estádio com as duas torcidas. Mas quem trabalha efetivamente para isso acontecer? Há questões de segurança. Antes a polícia revistava o torcedor, hoje não revista mais. Há dificuldade no trânsito, não pode parar o carro perto do estádio. Eu tive problemas de negociar 3% de torcida no último jogo. Imagina negociar 50%? São vários aspectos que impedem a volta das torcidas divididas. É muita vontade e pouca ação.

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