Paulo Roberto, o "Capitão América", relembra o caminho rumo à taça

Wallace Graciano
23/09/2012 às 02:14.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:30
 (Arquivo HD)

(Arquivo HD)

A famosa alcunha de "Capitão América", dada por torcidas brasileiras para aqueles que ergueram um troféu continental, pode resumir bem o ímpeto de Paulo Roberto Araújo Prestes, mais conhecido como Paulo Roberto, o “dono da faixa” da equipe que faturou a primeira edição da Copa Conmebol, em 1992. O lateral-esquerdo foi jogador Galo entre os anos de 1986 e 1996, defendendo as cores do clube em 504 jogos. Nesse período, ganhou o respeito que lhe rendeu a braçadeira e a liderança dentro de campo por oito anos, fazendo dele um herói da torcida alvinegra.

Naquela Conmebol, o lateral-esquerdo, assim como o super-herói dos quadrinhos, superou as limitações iniciais e foi crescendo com a força de seus fiéis escudeiros, que o ajudaram a superar os “temidos vilões” que apareciam pela frente, como os fortes Olímpia e Fluminense, as condições climáticas adversas e as legiões que transformavam os estádios em verdadeiros campos de batalha. Um feito épico, digno das grandes histórias, que é relembrado no bate-papo abaixo. 

Como foi a competição? A catimba realmente pesava a favor dos times sul-americanos?

Foi complicada. Era o nosso primeiro campeonato sul-americano, não tínhamos experiência, não sabíamos o que iriamos enfrentar.  Naquela época,  não havia mídia com tanta presença como há hoje. Íamos para o estádio no escuro, sabendo que seria uma batalha dentro de fora de campo. Felizmente, deu tudo certo. Tínhamos um time muito guerreiro. 

Falando em time, qual era a principal característica daquela equipe?

Tínhamos uma equipe mediana e sabíamos disso. Por isso, tivemos uma união muito forte. Com sorte, força e cobrança interna, nos esforçamos ao máximo para conquistar a Conmebol. E talvez o principal personagem fosse o Procópio, pois ele batia na tecla que deveríamos ter uma pegada forte a cada jogo, além de união, cada um fazendo o seu.

Após aquela goleada em cima do Fluminense (por 5 a 1, nas oitavas), vocês tiveram consciência de que poderiam ir longe no torneio?

Para ser sincero, não nos dedicamos tanto naquela partida como nos outros jogos. Os gols da goleada saíram naturalmente. Mas ali sabíamos que poderíamos ir longe. Nosso time era limitado em alguns aspectos, mas se sobressaía pela força. Como hoje, o futebol não tem muita distância do primeiro para quem estar lá embaixo, e a força de vontade pode ser um fator determinante. Com o passar dos jogos, conseguimos aumentar nossa confiança.  Tínhamos as características que a torcida do Galo sempre gosta. Eles assistiam a um time combativo, vibrante. Fizemos diferença na raça, na pegada forte, na correria. Éramos um time razoável, porém forte na determinação. Quanto ao Procópio, ele tinha uma coisa bacana. Tudo era resolvido depois. Qualquer discussão, dúvida ou posicionamento era discutido na hora. E os problemas não eram levados para fora.

Por ser o capitão e um dos mais experientes do grupo, você sentiu em algum momento que aquele troféu seria de vocês? 

Para ser bem sincero, só no Mineirão, após terminar o primeiro jogo da final com o Olímpia, tive a certeza de que seríamos campeões. Foi um jogo muito igual e eles tiveram mais chances. Como estávamos fechados, aplicados taticamente, vi que seria difícil o Olímpia reverter o placar no jogo de volta, pois cada um estava se doando muito. Ali éramos muito fortes.

Você fala de um time aplicado, mas como ele foi ganhando corpo durante o torneio? Havia algum segredo ou determinação do Procópio?

O bacana daquela equipe era que cada um fazia sua função, principalmente na final. Não queríamos que ninguém aparecesse mais que o outro e cada um sabia sua função. A do Sérgio Araújo era atacar e ajudar na marcação. Eu tinha que apoiar, mas também me preocupar em ajudar a defesa e cercar a lateral. Nossa defesa era sólida. Era fazer o básico que dava certo. A parte coletiva estava certinha. Só tivemos o jogo contra o Flu (2 a 1 para os cariocas, estreia da equipe no torneio) em que não jogamos bem. Dali em diante, crescemos muito coletivamente. 

À época, era comum aos times brasileiros passarem por apertos fora de casa. Enfrentaram alguma situação crítica fora de campo durante a Conmebol?

A final foi tensa, não vou negar. No Paraguai, nos colocaram em um campo pequeno (a partida seria no Defensores Del Chaco e foi transferida para o Manuel Ferreira, campo com dimensões menores). Bateram no ônibus, fomos ameaçados, ou seja, passamos por tudo. Para você ter ideia, quando eu precisava cobrar lateral ou escanteio, precisava pedir policiamento para pegar a bola. O Claudinho, nosso ponta-esquerda, foi sair de maca, mas, de repente, começaram a cuspir e jogar objetos, ele teve que descer da maca machucado para ir para o meio-campo. Quando fui pegar a taça, no meio da torcida, fui alvo de cuspes de todos os lados.

E a torcida daqui. Como era seu relacionamento com os atleticanos?

Onde vou o torcedor lembra sabe que respeitei e vesti com honra essa camisa. Fui capitão por oito anos. E eles sabem que fazem a diferença. A torcida do Atlético foi sempre forte. Um dos momentos marcantes foi quando descemos do avião, estávamos na expectativa de sermos recebidos por eles, mas não esperávamos tanto. Quando vimos o aeroporto tomado de camisas alvinegras, com pessoas chorando, não deu para esconder a emoção. Aquilo ficou marcado na cabeça de cada um. 

O Atlético tem este ano a chance de dar a sua torcida mais uma vez a chance de soltar o grito de campeão. Você tem algum conselho para dar aos jogadores desta temporada?

O Atlético tem um bom time. Para conquistar o título, precisa apenas se doar um pouquinho mais e ninguém deve querer aparecer mais que seus companheiros.

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