Um mês após o astro se despedir do Atlético, amigos de R10 relembram os bons momentos

Felipe Torres e Gláucio Castro - Hoje em Dia
31/08/2014 às 09:45.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:01
 (Arquivo Pessoal)

(Arquivo Pessoal)

A ideia de transformá-lo em um legítimo super-herói nas telas do cinema indiano não foi por acaso. Ronaldinho Gaúcho deixou de ser um mero jogador de futebol. Desde que encantou o mundo da bola no Barcelona, há uma década, o brasileiro convive com a rotina de grande ídolo do esporte.

Pelos quatro cantos do planeta, a eterna estrela alvinegra arrasta multidões. São fãs de todas as idades à espera de um aceno, foto ou autógrafo. No entanto, o rótulo de astro se restringe aos compromissos profissionais.

Amizade

Em casa, R10 esbanja simplicidade, alegria e simpatia. Quem garante são os amigos que o craque fez em Belo Horizonte durante os mais de dois anos de trajetória no Galo.

Um mês após o meia se despedir do Atlético, os “irmãos mineiros” sentem falta do ilustre parceiro. A turma do samba, do futevôlei e os vizinhos revelaram ao Hoje em Dia como era Ronaldo de Assis Moreira longe das câmeras e das quatro linhas na capital mineira.

“Temos muita saudade do Ronaldo aqui perto da gente. Ele é uma pessoa sensacional, pra cima, de uma humildade impressionante. Não lembra em nada a imagem de superastro. Com certeza, agora somos ‘órfãos’ do Ronaldinho em BH. Conhecemos o cara por trás do nosso ídolo”, resume o músico Leandro Fernandes, o Leleo do Banjo, de 29 anos, do grupo de samba Amigos de Fé, apadrinhado pelo jogador.
 
Confira a música "Sai Maluca"

 
Simplicidade nas rodas de samba

Era para ser apenas mais uma noite de junho. O percussionista e compositor Ederson “Melão”, de 30 anos, comia um sanduíche na avenida Afonso Pensa, no Centro de BH, quando o telefone tocou.

Do outro lado da linha Ronaldinho Gaúcho perguntava: “Fala Melão, acabei de completar dois anos no Galo. Hoje eu quero sair de casa. Quero visitar a sua residência aí na Serra (aglomerado). Onde você está?”.

Melão, integrante do grupo de samba Amigos de Fé, apadrinhado pelo craque, pensou se tratar de uma brincadeira do parceiro. “Tô no Centro. Você quer ir para a Serra e eu para Portugal”, retrucou, com bom humor.

Assim que o músico chegou ao bairro, se surpreendeu. “O carro do Ronaldo estava parado em frente à minha casa. Ele abriu o vidro cantando o refrão de uma música nossa. Corri, acordei minha mãe e falei: ‘O Ronaldinho está aqui’. Claro que ela não acreditou. Batemos papo e demos muitas risadas”, relembra Melão, que já assinou quase 30 canções com o astro.

R10 retornaria à Serra para se despedir dos amigos logo depois de anunciar a saída do Atlético, há um mês. “A presença dele lá se espalhou. Juntaram 60, 80 pessoas, alguns até com camisa do Cruzeiro, para vê-lo, pegar autógrafo. Ele atendeu a todos”, elogia Melão.

Surreal

Mais que companheiros musicais, os mineiros do Amigos de Fé se tornaram “irmãos” de Ronaldinho na passagem do astro por BH. Participaram de quase todos os chamados “cultos”, as animadas rodas de samba no condomínio do atleta, no Estâncias das Amendoeiras, em Lagoa Santa, Região Metropolitana de BH.

A turma também viajou com R10 para Porto Alegre, Salvador e Rio de Janeiro.

“A palavra para descrever nosso convívio com o Ronaldo é ‘surreal’. Tremi quando toquei com ele pela primeira vez. O cara é o Ronaldinho. Mas ele é tão humilde que sempre nos deixou à vontade. Ao seu lado, decidimos criar o grupo de samba e colocar o nome de Amigos de Fé, que reflete nossa relação, ainda intacta, apesar da distância”, conta Leandro Fernandes, o Leleo do Banjo.

Ele vai comemorar o aniversário no próximo sábado com um show no bairro Palmares. “O Ronaldo é um músico e compositor de talento. Quem sabe ele não aparece lá na festa?”, espera o animado Leleo.

Dona Miguelina

Dono do repique no Amigos de Fé, Humberto Nery, o Betinho, de 30 anos, descreve outro momento especial com R10. “Foi quando o Melão mostrou a canção ‘Superação’, que escreveu para dona Miguelina. Ela enfrentava um câncer e, ao escutar a música, abraçou e chorou junto com o filho”, revela.

Por sua vez, o pandeirista Gilmar Monteiro enaltece a paixão do ídolo pelo Atlético: “Ele ama muito o Galo. Sente saudades daqui. Caiu em lágrimas depois da entrevista coletiva de despedida do clube, quando já estava em casa”.
 
Confira a música "Superação"
 

 
Nas folgas do gramado, ídolo tocava a bola para os amigos no futevôlei
 
As competições de futevôlei nunca mais foram as mesmas. Sempre que tinha uma folguinha, Ronaldinho Gaúcho participava de uma animada roda do esporte em um condomínio vizinho ao seu, em Lagoa Santa.

Formada por ex-jogadores, músicos e vários amigos, a confraternização acontecia de duas a três vezes por semana, regada a muita descontração.

“Não era toda vez que ele podia vir, por causa dos treinos e jogos, mas quando ele aparecia, era uma alegria para todos nós. A primeira vez que ele veio foi até engraçado a cara de algumas pessoas que estavam aqui. Elas não acreditavam”, relembra o ex-zagueiro Dênis, revelado pelo América, com passagem pelo Botafogo, Grêmio e Palmeiras, um dos organizadores.

Irênio e Evanilson, outros ex-jogadores do Coelho, também eram integrantes da animada turma do futevôlei.

Mesmo eleito duas vezes o melhor do Mundo pela Fifa, a simplicidade de R10 chamava a atenção de todos. “Lembro da primeira vez que ele foi à minha casa. Ele me perguntou se podia tirar os chinelos e ficar descalço no quintal”, relembra Dênis.

A amizade entre Ronaldinho e o ex-zagueiro começou no tempo em que ambos ainda estavam nos gramados. Apesar de nunca terem jogado no mesmo time, o camisa 10 e o defensor viraram grandes parceiros, principalmente depois da vinda de Gaúcho para Minas.

Mas nem sempre foi assim. Às gargalhadas, Dênis relembra de uma ocasião em que os dois praticamente chegaram a trocar cabeçadas em uma partida entre Botafogo, do zagueiro, e Grêmio, de Ronaldinho. “Aquele dia, os ânimos esquentaram. Saiu até uma foto no jornal da época. Mas tudo coisa de futebol. Hoje achamos graça dessa história e até reproduzimos a cena em uma dessas partidas de futevôlei”, conta o ex-americano, hoje empresário de jogadores, enquanto mostra o recorte com as duas imagens.

“O futevôlei segue. A gente continua jogando, mesmo sem ele. Mas claro que quando o Ronaldo estava era muito mais divertido. Ele é um exemplo de humildade. Brinca com todo mundo, está sempre sorrindo. Com ele, o ambiente era diferente. De tão humilde e simpático, todo mundo fica ainda mais fã. Está fazendo falta”, diz Dênis.

Confira uma roda de samba de Ronaldinho com seus amigos

 
Vizinho atencioso em condomínio de luxo

Um elegante condomínio na entrada de Lagoa Santa, a poucos quilômetros da Cidade do Galo, foi o local escolhido por Ronaldinho Gaúcho para morar durante os dois anos em que viveu em Minas. O local se tornou praticamente um ponto de peregrinação. “Toda hora tinha alguém aqui na porta tentando vê-lo ou tirar uma foto”, conta o gerente do local, Carlos Otoni. “Ele acabou virando um garoto-propaganda do condomínio”, completa o administrador.

A engenheira Gabriela Rivetti levou até um susto. “Um dia recebi um telefonema de alguém dizendo que o Ronaldinho queria alugar a minha casa. Fiquei lisonjeada, claro”, relembra a proprietária da confortável casa de 600 metros quadrados de área construída em um terreno de 5 mil metros quadrados no condomínio de luxo de Lagoa Santa. “Me disseram que a casa era muito parecida com uma que ele morou no exterior. Por isso fez a escolha e cuidou muito bem do imóvel”, acrescenta Gabriela.

No local, todos são unânimes em confirmar a simplicidade do hóspede ilustre. Em várias oportunidades, R10 saía acompanhado de longe por um segurança para jogar basquete em uma quadra do condomínio. “Ele sempre cumprimentava todo mundo e tirava foto com todos”, garante a funcionária Lidiane Silva. Uma vez o craque surpreendeu e até apareceu para jogar bola no aniversário de um menino morador do condomínio.

Estrategicamente localizada em uma das extremidades do residencial, a casa escolhida por Ronaldinho Gaúcho não tinha outras residências tão próximo, o que dava mais privacidade para as festas promovidas por ele. Em uma ocasião, o volume do som estava muito alto e os vizinhos foram obrigados a acionar o síndico. Mesmo assim, o ex-jogador do Galo era bem quisto.

“Não posso dizer que ele era um morador exemplar, mas também não tenho nada a me queixar dele”, conclui o gerente Carlos Otoni.

Jô presente nas confraternizações

Parceiro dentro e fora de campo, Jô foi o grande amigo de Ronaldinho Gaúcho na passagem do craque pelo Atlético. Além de dividirem quarto na concentração, o atacante frequentava as rodas de samba na casa do astro, em Lagoa Santa. Porém, Jô admite que pouco falou com o amigo depois da saída de R10 do Galo.

“Está difícil achar ele. Ronaldo deve estar resolvendo outras coisas e descansando. Acho que falei duas vezes com ele desde então. E ele não me entregou para onde vai. Só perguntou como eu estava”, afirma o camisa 7 alvinegro.

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