Entrevista

‘O desafio é imenso, mas me move’, diz ex-gerente de mercado do Galo

Rodrigo Weber detalha trajetória no clube mineiro, os bastidores da montagem do elenco e os planos para a carreira internacional

Angel Drumond
angel.lima@hojeemdia.com.br
Publicado em 07/07/2025 às 07:30.
Rodrigo Weber deixa o Galo com sentimento de dever cumprido (Divulgação: Atlético)
Rodrigo Weber deixa o Galo com sentimento de dever cumprido (Divulgação: Atlético)

Com uma trajetória consolidada no futebol brasileiro, Rodrigo Weber, de 43 anos, se despede do Atlético Mineiro após mais de três anos de atuação no departamento de mercado. Convidado por Rodrigo Caetano em 2022, ele participou ativamente da estruturação do Ciga (Centro de Inteligência e Gestão de Atletas), contribuindo para transformar o setor em um dos mais respeitados do país. Durante a passagem, o clube conquistou três títulos estaduais consecutivos (2023, 2024 e 2025), além de alcançar a final da Libertadores e da Copa do Brasil.

Weber também esteve envolvido em negociações estratégicas, como a contratação de Paulinho e a posterior venda ao Palmeiras. Antes de chegar ao Galo, acumulava experiência no Internacional, onde atuou por 12 anos em diversas funções, e no Coritiba, onde participou do acesso à Série A em 2021 e da conquista do Campeonato Paranaense em 2022. Com formação em comunicação e qualificação como diretor executivo de futebol pela CBF Academy, o profissional acredita que a base multidisciplinar foi decisiva para os resultados obtidos ao longo da carreira.
Agora, prestes a assumir um novo desafio como diretor em uma equipe de Portugal,

Rodrigo Weber conversou com o  sobre sua trajetória, os bastidores do futebol, os aprendizados no Galo e a evolução dos departamentos de mercado no cenário brasileiro.

Durante mais de três anos no Atlético, você esteve diretamente envolvido em momentos importantes do clube. Quais considera os principais marcos da sua passagem pelo Galo?

O que mais vou levar na memória é a campanha da Libertadores de 2024. Ter vivido as vitórias contra Fluminense e River Plate junto à Massa foi emocionante demais — um turbilhão de emoções e vitórias marcantes. Em termos de influência direta no trabalho, destaco o apoio ao Rodrigo Caetano na contratação do Paulinho e, depois, na venda ao Palmeiras. Foi um ciclo que começou em abril de 2022 e terminou em dezembro de 2024, e que foi muito gratificante.</CW>

O departamento de mercado tem papel estratégico na montagem do elenco. Como era o seu processo de trabalho dentro do clube e como as decisões eram tomadas em conjunto com a diretoria e a comissão técnica?

O processo de prospecção de mercado no Galo é muito robusto. O Ciga consegue fornecer à direção subsídios em todas as etapas da tomada de decisão — desde a identificação de necessidades até as escolhas finais. O mercado é muito bem explorado, as análises são profundas e envolvem diferentes camadas, o que dá muita segurança a quem decide. Tive muito respaldo, em todos os escalões, e vejo o trabalho do Ciga hoje totalmente consolidado internamente.

Você participou das contratações que resultaram em títulos para o Atlético. Como é o equilíbrio entre encontrar nomes de impacto e respeitar as limitações orçamentárias?

Essas são questões que devem ser sempre consideradas em conjunto. A montagem de um elenco é como um quebra-cabeça — é preciso ter consciência dos recursos disponíveis para direcionar a melhor estratégia. O Atlético hoje tem concorrentes com mais poder de investimento, mas possui condições de competir em alto nível com muita eficiência. Esse sempre foi o caminho.

Antes do Galo, você teve passagens pelo Internacional e pelo Coritiba, com atuações diferentes nas áreas de comunicação e futebol. De que forma essas experiências ajudaram no seu trabalho como gerente de mercado?

O background em comunicação é essencial em todos os momentos — desde o relacionamento interpessoal e a capacidade de criar vínculos até saber como transmitir a informação a cada departamento. É um trabalho que exige muita sensibilidade. Logicamente, ter trabalhado no Inter e no Coxa me deu estofo, experiência de vestiário e muitas relações no mercado. Mas o maior aprendizado foi aqui. O Galo me confiou responsabilidades maiores, e o resultado me dá muito orgulho. Hoje sou um profissional muito melhor do que quando cheguei.

Sua saída recente do Atlético marca o início de um novo desafio no futebol europeu. O que motivou essa mudança e o que já pode ser adiantado sobre o novo projeto em Portugal?

Foi muito difícil tomar essa decisão. Elisa, minha noiva, e eu fomos muito felizes no Galo e em Belo Horizonte. Tive o privilégio de conviver diariamente com pessoas espetaculares e profissionais geniais. Abrir mão disso não é fácil. O que mais pesou foi a confiabilidade do projeto que me foi oferecido, dando um passo à frente agora como diretor. O desafio é imenso, mas também é o que me move. Minha saída também permite o crescimento de profissionais que mereciam oportunidades dentro do Galo — e tenho convicção de que eles vão elevar ainda mais o trabalho do Ciga.

O futebol brasileiro tem mudado bastante em relação à estrutura dos departamentos de mercado e análise. Com sua bagagem, como você enxerga o momento atual do mercado no Brasil e quais pontos ainda precisam evoluir?

O mercado não para de crescer. O Brasil entrou atrasado nesse processo. Lembro que, há dez anos, poucos clubes no país tinham um departamento de mercado. Salvo engano, apenas o Internacional e o Athletico-PR. O Manchester United, por exemplo, já tinha 72 pessoas no seu departamento, espalhadas pelo mundo. Hoje, esse setor é essencial — o mercado é global e pode haver oportunidades em qualquer lugar. Existem ferramentas que ajudam a otimizar, mas elas nunca vão substituir a percepção humana. Vejo os departamentos de mercado como o nicho mais promissor da indústria do futebol no Brasil, com grande potencial de crescimento, principalmente com a tendência dos clubes adotarem modelos de gestão mais profissionais. O que ainda precisa evoluir é a cultura — entender que o trabalho de análise não vem para substituir a intuição ou a experiência, mas para somar. Tomar uma decisão sem respaldo de uma análise profunda é correr um risco grande demais

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