Bicampeão da Copa América, Juan fala sobre torneio e analisa nova geração

Henrique André
21/06/2019 às 18:31.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:13
 (Gilvan de Souza/Flamengo/Divulgação)

(Gilvan de Souza/Flamengo/Divulgação)

Da estreia na equipe principal do Flamengo, em 5 de julho de 1996, à despedida dos gramados, em 27 de abril deste ano, num duelo contra o Cruzeiro, o agora ex-zagueiro Juan construiu em 8.331 dias (quase 23 anos) uma respeitável história no mundo da bola.

Bicampeão da Copa América, em 2004 e 2007, ele vestiu a camisa da Seleção Brasileira em 79 oportunidades e marcou sete gols.

Fora do país, o carioca de 40 anos vestiu as camisas de Bayer Leverkusen, da Alemanha, e Roma, da Itália, clubes pelos quais também fez história.

Nesta entrevista ao Hoje em Dia, Juan fala do desejo de trabalhar nos bastidores do Flamengo, viaja no túnel do tempo para relembrar alguns momentos como atleta e as competições disputadas pela Seleção, compara gerações de futebol e responde se em algum momento foi procurado para defender Atlético ou Cruzeiro.

Você completou 40 anos em 2019 e resolveu pendurar as chuteiras. Como é ser aposentado?

Tenho procurado aproveitar esse tempo de férias com a família, fazendo coisas simples, que quando você joga é mais difícil fazer. Tem sido um período bem gostoso, mas sei que logo devo voltar ao Flamengo e começar a me preparar para trabalhar fora dos gramados e ajudar o clube como eu ajudei dentro de campo.

Você foi campeão da Copa América em 2004 e 2007. Qual das duas edições te marcou mais?

Ganhar com a Seleção é sempre especial. As duas edições foram bem difíceis de conquistar o título, mas com certeza a de 2004 foi mais especial, porque foi meu primeiro título com a amarelinha e pela forma como aconteceu. A gente estava com a Seleção não considerada ideal e realmente foi muito especial.

Apesar de ser uma competição que não tem tanto apelo, qual a importância dela para a Seleção Brasileira e para os jogadores?

A gente sabe que quando se veste a camisa da Seleção Brasileira, a pressão por vencer e ganhar títulos é sempre muito grande, independentemente da competição que for. A Copa América é a competição mais importante que a gente tem na América do Sul. É claro que, em comparação à Eurocopa, em nível de glamour, é bem abaixo, mas na América do Sul não existe competição mais importante.

No Brasil, você defendeu as camisas de Flamengo e Inter. Chegou a receber propostas ou sondagens para atuar por outros clubes? Se sim, pode citar alguns? Teve interesse de Atlético e Cruzeiro?

Na verdade, não. É claro que sondagem a gente sempre recebe no período da Europa, mas sempre deixei muito claro que meu objetivo de jogar no Brasil era só pelo Flamengo. Então realmente nunca conversei com outros clubes. Infelizmente naquele período eu não consegui voltar para o Flamengo. Então, optei por ir para o Inter. Foi uma experiência incrível. Fui muito feliz em Porto Alegre, bem recebido, muito bem acolhido. E pude contribuir com o clube também dentro de campo, mas nunca teve sondagem de times de Minas não.Internacional/divulgação / N/A

Ao lado de Júnior Baiano, você é o maior zagueiro-artilheiro do Flamengo. Como o Juan aprimorou essa capacidade de estufar as redes?

Desde muito novo eu sempre tive essa característica de apoiar o ataque, de sair com a bola dominada. Depois, para nós zagueiros, o cabeceio sempre é uma arma muito importante, e por isso eu treinei muito e fiz muito gols de cabeça. Hoje em dia eu penso que o futebol se modernizou muito, então um zagueiro tem que estar preparado para ir à frente. Naquela época, quando surgi, era menos comum, mas é sempre especial fazer um gol e ajudar o time.

Você conviveu com várias gerações de atletas. Como analisa a atual? A facilidade para ganhar dinheiro e sair do país acaba acomodando os jovens?

Realmente, as coisas no futebol evoluíram, circula muito mais dinheiro do que antes, existe muito mais mercado que paga bem. Isso é certo, mas eu penso também que para você jogar um futebol de alto nível e a longo prazo, tem que ter uma mentalidade diferente da média, uma mentalidade que os grandes jogadores têm independentemente de geração. Mas, com certeza, se você não tiver cabeça, você acaba acomodando.

Você nunca escondeu o amor pelo Flamengo. Acha que ainda existe esse sentimento pela camisa ou os jogadores perderam isso com o tempo?

Existe. Ainda existe jogador que tem amor à camisa. Mas infelizmente o mercado se desenvolveu de uma forma que as coisas são muito prematuras. Então, dificilmente vão existir jogadores que ficarão muito tempo em seus times. A tendência é que os atletas de alto nível saiam cada vez mais jovens para os grandes da Europa.

Você disputou duas Copas do Mundo. Por que não tivemos sucesso em 2006 e 2010? O que faltou para irmos mais longe?

Ficou um sentimento de que faltou alguma coisa por não ter ganhado a Copa do Mundo. Eu sei que é muito difícil ganhar. Aqueles que conseguem isso são privilegiados na carreira. Mas, com certeza, em 2006 e 2010, a gente tinha condições de chegar mais longe na Copa do Mundo e brigar pelo título. É sempre frustrante quando isso não acontece, principalmente em 2010, porque eu sabia que era minha última chance, devido à idade e seria também minha última oportunidade de jogar pela Seleção.

Quem se tornou seu melhor amigo no mundo da bola? Fez bons amigos?

Graças a Deus eu me relacionei bem por onde passei, deixei muitos amigos, seja no Brasil, na Alemanha ou na Itália. Conheci grandes pessoas. Mas se tiver que destacar dois... O primeiro é o Julio Cesar. Fomos criados juntos desde muito novos no Flamengo e tivemos o privilégio de terminar a carreira juntos. O outro é o Reinaldo, com quem joguei junto desde os juniores do Flamengo. Ainda mantemos contato.

Como vê o atual nível técnico do nosso futebol brasileiro? Estamos muito aquém de épocas passadas e principalmente dos europeus?

O maior problema do futebol brasileiro é exportar os jogadores jovens, os muito jovens, que jogam muito pouco aqui no Brasil. Isso faz com que o nível técnico abaixe e, consequentemente, se jogue um futebol menos atraente em relação à Europa. Talvez, se a gente tivesse a grande maioria de jogadores, aqueles selecionáveis, jogando dentro do Brasil, o nível seria outro.

Sem Neymar, a Seleção perde o favoritismo na Copa América? Acha que sofreremos para tentar a conquista?

Acho que o Brasil sempre vai ser favorito em todas as competições que jogue. Claro que não é o único favorito, mas é a principal seleção da competição. Nunca vai ser fácil, sempre vai ser sofrido, porque o futebol é assim. No entanto, eu tenho a convicção e a torcida de que o Brasil faça uma grande competição e saia vencedor.

Poderemos ver o Juan como treinador? Ou seria um dirigente? Se enxerga nessas funções?

Treinador, não. Eu descarto essa possibilidade, mas com certeza vou estar ali perto do campo, ajudando os jogadores, a diretoria e o treinador a fazer um trabalho de alto nível e conseguir os objetivos.

Qual zagueiro em atividade apresenta as mesmas características que o Juan?

Existem muitos zagueiros que estão jogando bem, principalmente aqui dentro do Brasil, muitos jogadores jovens também. É claro que eu sou suspeito para falar, mas gosto muito de como joga o Rodrigo Caio, que hoje, graças a Deus, joga aqui no Flamengo. Léo Duarte é outro zagueiro jovem que atua no Flamengo e a quem deposito muita confiança. Vou puxar sardinha aqui para nosso lado e vou escolher esses dois.

Ainda temos espaço para jogadores clássicos e técnicos na posição? Estão sendo formados na base?

Com certeza. Eu acho que sempre há espaço para grandes jogadores, atletas muito técnicos. Hoje, principalmente na defesa, se pede muito que os zagueiros saibam jogar também, saibam sair para o jogo. O Brasil sempre vai ser um país formador da grandes talentos. Não é à toa que todo mundo vem aqui contratar nossos jogadores.

*Colaborou Hugo Lobão, sob supervisão de Thiago Prata

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