Bicampeão do NBB, técnico do Fla admite: 'Gostaria de um desafio internacional'

Estadão Conteúdo
09/07/2019 às 08:47.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:27
 (Reprodução/Facebook)

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Como auxiliar do Brooklyn Nets, o técnico Gustavo de Conti, do Flamengo, participa da Summer League da NBA até o dia 15. A competição que reúne novatos escolhidos no draft e jogadores que ainda almejam uma vaga na liga americana é mais um passo para o treinador, bicampeão do Novo Basquete Brasil (NBB), alcançar o objetivo de trabalhar fora do Brasil, vontade que confirmou em entrevista ao Estado. Confira abaixo:

Como recebeu o convite da NBA e qual importância para sua carreira?
Fiquei muito feliz. Não deixa de ser um reconhecimento. Será uma experiência muito bacana. Já estive nos EUA com o Flamengo e pela seleção brasileira, mas nunca dentro de uma equipe de lá. Agora estou convivendo com os treinadores, com os jogadores, com os profissionais da equipe, observando o funcionamento, é uma Summer League e talvez seja até mais importante porque são diversos times reunidos (em Las Vegas). É uma possibilidade para fazer bastante contato. Vou aproveitar da melhor forma possível.

Trabalhar no exterior é o caminho natural na sua carreira?
Sim. Não para agora, porque acredito que tenho muita coisa para fazer no Flamengo, inclusive internacionalmente falando. Nosso grande objetivo na próxima temporada, além do NBB, é conquistar o título da Liga das Américas. Mas gostaria de ter a oportunidade de um desafio internacional, seja na Europa ou nos EUA. Não apenas pelo aspecto profissional, mas também cultural e pessoal. Gostaria que as minhas filhas tivessem oportunidade de conviver com outras culturas, algo que eu não tive quando era criança.

Mas você faz um planejamento para daqui quantos anos?
É muito difícil fazer uma projeção, mas temos de estar prontos. É o que sempre falo para os jogadores. Pode ser um jogo fácil ou difícil, mas tem sempre alguém te observando. Qualquer oportunidade, você precisa estar pronto. Quero estar pronto, sabendo falar outras línguas, assistindo basquete de outros lugares, sabendo o que está acontecendo na NBA, Europa, Argentina, México... Tenho intenção de ficar bastante tempo no Flamengo, mas, após conquistar os meus objetivos no clube, quero ter uma oportunidade no exterior.

E seleção?
Será sempre prioridade, até mais do que ir para o exterior, ou qualquer outra coisa. Se for chamado, vou atender. Adoro estar na seleção. A seleção ajudou muito na minha formação como treinador, sou muito grato pelos anos em que fiquei lá. Agora tem um técnico, tem uma comissão bastante competente, que respeito muito e torço pelo sucesso no Mundial. Mas estarei pronto se eles precisarem de mim na seleção.

A conquista do NBB pelo Flamengo provou que você é um técnico completo, que pode trabalhar com jovens, como fez no Paulistano campeão, e também com jogadores experientes?
É sempre uma satisfação terminar uma temporada com um título, mas, no fundo, eu sabia que eu poderia ter sucesso trabalhando com jogadores mais experientes, com uma história maior no basquete, porque eu já tinha encarado este tipo de jogador, havia trabalhado com eles na seleção. Fui assistente técnico, talvez, nas duas vezes em que tivemos os jogadores com maior potencial, que foi na Espanha, no Mundial, em 2014, e nos Jogos Olímpicos de 2016. Sempre me dei bem com os caras. Claro que assistente técnico é diferente de ser treinador, mas eu sabia como eles trabalhavam, o que eles necessitavam. Na minha cabeça estava tudo bem claro. O desafio maior foi mudar de clube depois de 20 anos, mudar de cidade ao lado da minha família. Lidar com uma cobrança maior. No Paulistano, existia uma cobrança, mas era uma cobrança muito maior minha. A torcida do Flamengo é muito grande, tudo tem uma repercussão maior. Acho que o meu desafio maior era este.

Mas você precisou abrir mão de alguma coisa para ser campeão no Flamengo?
Mesmo no Paulistano, muitas vezes, eu abria mão taticamente do que acreditava pelas característica dos jogadores. Agora, em termos de disciplina, conduta, comportamento, tratamento com os jogadores foi sempre do mesmo jeito, e não foi diferente no Flamengo. Respeito ao trabalho, o time em primeiro lugar, ninguém está acima da equipe, isso será sempre igual nas equipes que eu for. São os meus princípios, os valores que acredito. Agora, taticamente, mudei. Depois do Carioca, tivemos uma etapa da Liga Sul-Americana no Rio em que não fomos bem taticamente. E percebi que tinha de mudar. Queria fazer o Flamengo jogar como o Paulistano na última temporada, que era um basquete de muita velocidade, volume de jogo, arremessos de três pontos, mas eu não tinha esses jogadores no Flamengo. Tínhamos de jogar mais pausado, valorizar a posse de bola, dar valor ao aspecto defensivo. Não iria ganhar campeonatos se continuasse daquela maneira. Não foi difícil tomar aquela decisão porque era o único caminho.

Como foi esta mudança, conversou com os jogadores?
A principal mudança é na estratégia de treinamentos. A mudança no tipo de exercício, na cobrança... Por exemplo, não exigia mais que os atletas corressem tanto em transição, que finalizassem o ataque com tanta rapidez. Com os treinos, juntamente com conversas e vídeos, demonstramos aos jogadores que estávamos tomando um outro caminho, ofensivamente falando. Defensivamente não mudamos muito.

A pressão foi maior por ter um salário top entre os treinadores?
Não sei muito deste aspecto, não tenho nem como comparar com outros times. Mas não foi apenas isso que me trouxe ao Flamengo. Claro que sempre busco dar melhores condições para a minha família, mas vim pela oportunidade de trabalhar em uma equipe que já era cinco vezes campeã brasileira, para ter um intercâmbio internacional maior, tivemos oportunidade de enfrentar o Orlando Magic, vamos disputar um torneio da NBA em outubro, no Uruguai, provavelmente vamos jogar um outro torneio em Dubai, e, principalmente, pelo desafio. Sentia necessidade de mudar após ser campeão com o Paulistano. Dar outro rumo à minha carreira.

O fato de trazer jogadores que estavam com você no Paulistano ajudou?
Os atletas que eu trouxe, Jhonatan, Nesbitt e Deryk, mas, principalmente, os dois primeiros, mostrou o tipo de jogador que eu gostava. Acho que eles não estão na lista dos jogadores preferidos de nenhuma equipe, mas eles são fundamentais para ganhar jogos e títulos. Eles fazem um trabalho quase invisível, de defesa, de rebote, para o time. Trouxe jogadores de equipe. Atletas para fazer pontos, para serem os principais já tínhamos aqui o Anderson (Varejão), Marquinhos, Olivinha, o Balbi, que foi contratado. Precisava desses jogadores. Isso deu sustentabilidade para o Flamengo e mostrou o que penso de basquete para quem já estava aqui.
 

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