Bolivarianos frente a frente: duelo da Copa América em BH opõe parceiros de visão política

Rodrigo Gini
20/06/2019 às 17:30.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:12
 (Fernando Torres / CBF)

(Fernando Torres / CBF)

Bolivarianos do mundo, uni-vos! Ou não, se o assunto for o futebol e a disputa por uma posição de destaque na Copa América. Representantes do sistema político típico da América do Sul, de traços populistas e comumente associado de forma indevida ao socialismo, Bolívia e Venezuela fazem neste sábado (22), às 16h, o terceiro dos cinco jogos do Mineirão na competição.

Ou, como poderia dizer o ex-deputado e candidato a presidência da República Cabo Daciolo (Podemos), o Clássico da Ursal – a tão falada (quanto até então desconhecida) União das Repúblicas Socialistas da América Latina, que supostamente teria planos para transformar a região num bloco de nações inspiradas nos ideais de Simon Bolivar. 

O aristocrata e militar, que no fim do Século XIX foi um dos primeiros a lutar pela independência das colônias espanholas no continente, teria problemas para definir sua torcida, já que presidiu os dois países – comandou venezuelanos por dois períodos (entre 1813 e 1814 e por 10 meses em 1819) e foi o primeiro presidente boliviano, entre agosto e dezembro de 1825. 

Os atuais ocupantes dos cargos se eternizam no poder em situações distintas. O ex-líder cocalero Evo Morales está no poder desde 2006 e, apesar do discurso anticapitalista, sabe que depende das principais economias do planeta para vender as reservas de gás natural e lítio. Embora não conjugue as ideias do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), fez questão de comparecer à posse.

Já a atuação do chavista Nicolás Maduro não é vista com bons olhos pelo Palácio do Planalto, que chegou a defender a intervenção militar no vizinho. Apesar de destacado produtor de petróleo, a Venezuela vive uma crise sem precedentes, com inflação galopante, desabastecimento e racionamentos. Situação que o presidente, no poder desde 2013, com a morte de Hugo Chávez, atribui a uma ação liderada pelos Estados Unidos, diante do alinhamento venezuelano com a Rússia.

A crise chegou a levar à indicação, pela oposição, de Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional, como novo mandatário, reconhecido pelos EUA e pelo Brasil. A tentativa de um movimento popular para levá-lo efetivamente ao poder acabou esbarrando na fidelidade dos militares e de parte da população a Maduro. E a situação acabou interferindo na situação da seleção “Vinotinto” – irritado com o uso político de sua imagem, o técnico Rafael Dudamel chegou a entregar o cargo, mas foi convencido a permanecer.

Se depender da paixão pelo futebol das respectivas autoridades máximas, a vantagem é toda boliviana. Morales não só é fã declarado do esporte como chegou a atuar (já na presidência) como meia do Litoral, equipe da Segunda Divisão. E, preocupado com a ameaça da Fifa de proibir partidas pelas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo nos 3.640m de altitude de La Paz, participou de uma partida festiva com o amigo Diego Maradona.

Favoritismo

No gramado, no entanto, o favoritismo é todo dos venezuelanos que, com uma vitória, asseguram vaga nas quartas de final, num grupo que também tem Brasil e Peru. 

Dudamel, ex-goleiro que por muitos anos foi o destaque de sua seleção, comandou um bem-sucedido trabalho de renovação que culminou com o vice-campeonato mundial Sub-20 há quatro anos, a maioria dos atletas atua no exterior, e os clubes deixaram de ser saco de pancadas na Libertadores e na Sul-Americana, conseguindo campanhas dignas. 

O objetivo de uma classificação inédita à Copa do Mundo (para o Catar’2022) nunca esteve tão próximo, mesmo com os problemas do país. O grande destaque é o atacante Salomón Rondon, do Newcastle, com 12 gols marcados na última Premier League. 

Seu companheiro de ataque Josef Martínez, do Atlanta United, foi eleito o melhor jogador da Major League Soccer (MLS). E a dupla de zaga composta por Osorio e Villanueva mostrou sua força ao conter o ataque brasileiro na Fonte Nova, em Salvador. Quem esperava uma retranca forte e capaz de cair assim que os comandados de Tite abrissem o placar viu uma resistência organizada que culminou no segundo empate e na chance concreta de seguir na disputa.

Sem renovação

Já os bolivianos sofrem justamente a dificuldade para rejuvenescer um grupo que ainda tem Marcelo Moreno e Chumacero como principais nomes. Especialmente quando não contam com o sempre decisivo reforço da altitude.

Eduardo Villegas assumiu o comando da equipe no começo do ano e teve pouco tempo para fazer experiências e mudanças. As derrotas para Brasil (3 a 0) e Peru (3 a 1) expuseram um time limitado e previsível, com alguma obediência tática, mas pouco potencial criativo. 

Ainda assim, a fórmula de disputa da competição permite à equipe sonhar com a terceira vaga, desde que leve a melhor sobre os venezuelanos e de acordo com os resultados dos outros dois grupos. O que teria sabor de façanha para um grupo que busca se reinventar na tentativa de retornar a um Mundial.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por