Braço direito de Deivid, ex-jogador Pedrinho sonha com parceria duradoura

Henrique André - Hoje em Dia
28/02/2016 às 10:05.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:36
 (Washington Alves/Light Press)

(Washington Alves/Light Press)

Como jogador, o talento de Pedrinho com a bola nos pés era inquestionável, assim como o comportamento fora das quatro linhas. Porém, o atual auxiliar técnico do Cruzeiro foi do céu ao inferno na carreira com as seguidas lesões, que resultaram numa aposentadoria precoce, no início de 2013.

Hoje, aos 38 anos, o carioca está prestes a receber o certificado do Curso de Treinadores da CBF, e, desde dezembro, encara o desafio de ser o braço direito do amigo Deivid no comando da Raposa. Até agora, a dupla comandou o time celeste em sete jogos: foram quatro vitórias, dois empates e apenas uma derrota.

Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, Pedrinho fala sobre o passado como atleta, a experiência como comentarista de TV e o início de trabalho na comissão técnica do clube celeste.

Não fossem as lesões, você acha que poderia estar jogando até hoje, já que sempre teve biotipo favorável e ótima técnica?
O meu condicionamento físico sempre foi muito bom. Acredito muito que eu estaria em atividade, sim, se não tivesse tantos problemas de lesão. Se tivesse uma prevenção desde cedo, eu teria tido uma carreira prolongada.

Uma lesão, em especial, tirou você da Seleção e do Mundial de 1998, com o Vasco. O que você pode dizer daquele carrinho do Jean Elias, que defendia o Cruzeiro à época?
Eu estava numa trajetória de convocações pela Seleção de base, e era um percurso que estava se projetando para a Seleção principal. Já tinha sentido o peso de vestir aquela camisa. Essa lesão ela mudou toda a trajetória. Na própria recuperação, depois de cinco ou seis meses, tive que operar novamente o mesmo ligamento. Aí fiquei mais dez meses, e perdi muito tempo.

Desde a primeira vez, eu sempre disse que ele não foi na maldade. Ele usou uma força desproporcional. Sempre achei estranho por não termos tido um contato. Agora, já depois de ter encerrado a carreira, eu vi um depoimento dele falando que não me procurou porque tinha vergonha. Fiquei sentido e preocupado com ele, porque não é legal ter esse rótulo. Seria até legal ter um encontro.

No aspecto psicológico, como você lidou com tantos dramas? Parece que chegou a enfrentar até uma depressão, certo?
É verdade. A depressão eu tive quando estava no Palmeiras. Também tinha alguns problemas com a saúde dos meus pais, e acumulou tudo com uma lesão grave no joelho. Eu vivia altos e baixos numa intensidade enorme. O exemplo é ter sido convocado para a Seleção e, três dias depois, parar e ficar dez meses parado. Sempre fui muito profissional e, no Palmeiras, ouvia coisas que me desagradavam muito.

Por conta do meu salário alto e por não jogar tanto, começaram a me chamar de “chinelinho”. No meu caso, os episódios (de lesão) sempre foram comprovados. Cheguei a pedir para não receber salário. Queria voltar a ganhar apenas quando assinasse a súmula. O Mustafá (Contursi, ex-presidente) não aceitou isso, por acreditar no meu caráter.

A sua experiência serve para aconselhar atletas como o Alisson, que também já enfrentou muitos problemas musculares?
O Alisson está muito bem amparado aqui no Cruzeiro. O trabalho de fisioterapia, educação física e fisiologia é muito conjunto. Ele tem toda a resposta que precisa. Essa é uma grande vantagem.

Qual o melhor jogador com quem você atuou?
Fui privilegiado nesse ponto. O Ronaldo, na Seleção, e, no Vasco, Edmundo, Romário e Felipe. Esses foram os que mais me impressionaram.

Em 2014, já aposentado, você foi contratado pela Band para ser comentarista. Como foi a experiência de trabalhar “do outro lado”? Por que não investiu nessa carreira?
Até fiz um curso de jornalismo. É um lado muito interessante. Aprendi a respeitar quem estava dentro de campo. Falar numa sala, com ar condicionado, é muito fácil. No dia a dia, é mais complicado para o treinador. Eu falava com o Deivid que o cheirinho da grama e a adrenalina do campo ainda mexiam muito comigo.

Quais os treinadores que mais te influenciariam?
Os da base foram os mais importantes, como educadores e pela formação técnica e tática. Eles fazem praticamente 90% do trabalho. No profissional, o Antônio Lopes, por ter sido muito importante, e, em termos técnicos e táticos, o Vanderlei Luxemburgo.

Você estuda e se prepara para se tornar treinador? Quais cursos já fez?
Fiz os cursos da CBF, dois, no Rio de Janeiro, e um estágio no Barra (clube do Rio) para pegar o certificado. Agora em junho pego a Licença A, para passar ao último estágio, que é o certificado definitivo.

Onde você e o Deivid se conheceram? Como aconteceu o convite para que você integrasse a comissão técnica do Cruzeiro?
Conheci o Deivid no colégio, pois nossos filhos estudam juntos. A gente, sempre que se encontrava, falava muito, mas muito mesmo, de futebol. Numa conversa que era para ser um simples “boa tarde”, ficávamos 40 minutos. Trocávamos ideias. Fomos juntando os laços, até que fomos para o curso da CBF. Lá, com futebol o dia inteiro, ele me conheceu um pouco mais e, por estar no mercado, me fez o convite.

 


(Ex-jogador (E) chegou à Toca para ocupar vaga deixada por Deivid (C). Foto: Washington Alves/Light Press)


Como é a atuação do Pedrinho auxiliar? Suas análises têm sido consideradas pelo Deivid?
O que eu tento fazer é sempre emitir uma opinião. Nunca vou concordar se achar que não está certo. A gente troca muita ideia, com muito respeito. Coloco o que estou vendo, ele analisa e toma a decisão final. Sempre que posso filtrar algo importante, jogo para ele, e ele quebra a cabeça para definir.

Como tem sido o contato com os jogadores do elenco? Como vem sendo essa experiência até aqui?
Muito bom. Eu vim de uma geração em que existia uma certa distância. Hoje, esse grupo está muito mais próximo. Os atletas têm muita coisa para passar para a gente durante o jogo. O Deivid não é um ditador. Somos mais jovens, e o nosso diálogo é parecido com o deles. O respeito a gente demonstra com conhecimento. Eles percebem o nível do treinamento, das informações, e sabem que somos caras sérios, que o trabalho é muito intenso.

Quando acabar, pode brincar. Mas não adianta nada se não tiver resultado. Falaram muito da seleção da Alemanha, que demorou dez anos para montar um grande time. Só que, aqui no Brasil, as pessoas querem logo o ano dez, sem passar pelos anteriores. Se você chega com um conceito novo de jogo, é um trabalho de médio ou longo prazo.

O futebol do Cruzeiro vem sendo criticado nesse início de trabalho do Deivid. Quais são as maiores dificuldades que vocês estão encontrando?
Nós percebemos uma evolução e fazemos uma avaliação interna dos jogos e do dia a dia. Temos que diferenciar as críticas que vêm para ajudar daquelas só porque somos mais jovens. Os mesmos que pedem reformulação e renovação no futebol criticam quando ela acontece. Não vejo (o cargo) como aposta.

Vejo como oportunidade. Se fosse um treinador mais experiente, tendo esse nosso mesmo desempenho, a pressão não seria essa. Estamos convictos do que estamos fazendo, mas sem ignorar críticas positivas, que vêm para o bem.

O grupo do Cruzeiro conta atualmente com cinco estrangeiros, além do Federico Gino, que tem dupla nacionalidade. Como você encara esta “invasão” gringa no Brasil?
É bem diferente da minha época. Peguei alguns ainda, como o Arce (lateral, ex-Grêmio e Palmeiras) e o Gamarra (zagueiro, ex-Corinthians, Flamengo e Palmeiras). Eu penso que, se for bom jogador, não tem alto, baixo, forte.

Se for bom, pode ser brasileiro, paraguaio, argentino... Todos eles que estão aqui no Cruzeiro têm demonstrado uma qualidade muito grande. Estão se adaptando. Olhando tecnicamente, todos têm agradado muito ao Deivid.

O que esperar do time nesse ano? Vocês acreditam que essa linha de trabalho dará bons frutos?
Temos convicção no trabalho. Os jogadores têm demonstrado uma intensidade enorme. Sempre digo para eles que a vontade de se preparar tem que ser bem maior do que a de vencer. Eles estão abraçando a ideia. O processo de saber como eles jogam também faz parte, mas estamos vendo uma evolução e um aumento da competitividade por uma vaga no time titular.

Você e o Felipe (ex-lateral e meia) cresceram no Vasco e são amigos de infância. Você pensa em trabalhar com ele um dia como técnico e auxiliar. Tem o sonho de reeditar a dupla no clube cruzmaltino?
O Felipe também fez o curso da CBF. A gente é irmão. Num futuro, pode acontecer. Mas, a princípio, eu quero me dedicar ao máximo ao Cruzeiro e ao Deivid. Quero ter vida longa com o Deivid e estou empenhado em passar muitos anos com ele.

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