'Cada um, à sua maneira, é o time do povo', diz pesquisador

Alexandre Simões e Clarissa Carvalhaes
asimoes@hojeemdia.com.br e ccarvalhaes@hojeemdia.com.br
Publicado em 16/04/2016 às 22:28.Atualizado em 16/11/2021 às 02:59.
 (Flávio Tavares)
(Flávio Tavares)

Nos anos 20, quando aconteceram os primeiros confrontos entre Atlético e Cruzeiro, já existia registros de rivalidade parecida com a que experimentamos atualmente?

Entre 1920 e a década de 1930 (período de profissionalização no futebol) a rivalidade que existia se limitava a Atlético (1908) e América (1912). Apesar disso, quando nasce em 1921 como Palestra Itália, o Cruzeiro já chega esportivamente forte. Ele herda alguns jogadores do Yale (time de operários do Barro Preto) e no final da década de 1920 é tricampeão (1928, 1929 e 1930). Somente a partir de 1942, quando tira o nome Palestra, o Cruzeiro se torna um grande rival do Atlético e isso ganha força na década de 1960, quando monta o grande time de Tostão e companhia.

Existe algum fato que pode ser considerado como o marco do início da rivalidade entre Atlético e Cruzeiro?

Existem muitos, mas há um fato curioso na década de 1940 e que pode representar esse marco. A torcida atleticana sempre chamou o time de Carijó por causa da camisa listrada e, com frequência, o jogador Zé do Monte levava seu galo carijó para o estádio para incitar a torcida. Em uma dessas ocasiões, a torcida do Cruzeiro acabou levando uma raposa e soltou o bicho no campo. Dá pra imaginar, né! As torcidas foram à loucura (risos) e esse gesto é um claro simbolismo da rivalidade: a raposa tentando tomar o terreiro do Galo.


 

A grande batalha entre os dois lados atualmente é pela marca de “Time do Povo”. É possível dizer quem está certo?

Os dois times reivindicam a alcunha de times populares, mas só agora há uma briga por esse lugar. O Cruzeiro, desde o início, é popular em termos de perfil social da torcida, já que a colônia de italianos era composta por gente pobre e operária. Já a representação da popularidade do Atlético se baseia na massa turbulenta e heterogênea. Cada um, à sua maneira, é o time do povo porque representa a popularidade de um jeito diferente.
 

A homofobia é uma marca da rivalidade entre atleticanos e cruzeirenses. Quando ela passou a fazer parte do processo?

Desde que o esporte é esporte. Fosse em sua época elitizada ou popular. Os xingamentos e atritos sempre existiram entre as torcidas. A diferença é que hoje o discurso racista encontra pessoas menos tolerantes.

Nesses quase 100 anos de história, vivemos hoje o auge da rivalidade?

É difícil mensurar o auge da rivalidade pós-década de 1960 porque ela tem muita ligação com questões circunstanciais: trata de jogos específicos, títulos alcançados e desempenho das equipes. Ela ainda abrange outras circunstâncias como a questão das torcidas organizadas, as dinâmicas da polícia e até a questão social dos torcedores. Fato é que desde que se tornaram rivais, Atlético e Cruzeiro incorporaram essa violência social e que eventualmente explode.

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