Cada vez mais capacitadas, auxiliares lutam contra o preconceito e cobrança diferenciada

Gláucio Castro - Hoje em Dia
20/10/2014 às 07:54.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:41
 (André Brant)

(André Brant)

Mais do que profissionais exemplares, elas precisam driblar o preconceito. Num universo dominado pelo sexo masculino, as mulheres que decidem entrar no mundo da arbitragem são desafiadas a provar muito mais do que competência a cada partida. Se um erro de qualquer juiz ou assistente é motivo de cobranças e chacotas a semana inteira, para elas, a situação é ainda pior.

Que o diga a catarinense Fernanda Colombo, de 20 anos. Após assinalar equivocadamente um impedimento no clássico entre Atlético x Cruzeiro, no primeiro turno do Brasileiro, no Independência, a jovem despertou a ira do diretor de futebol do Cruzeiro, Alexandre Mattos.

“Se ela é bonitinha, que vá posar na Playboy. No futebol tem que ser boa de serviço”, disse o cartola. A declaração custou 120 dias de suspensão a Mattos e Fernanda nunca mais trabalhou na Série A.

Professora de português e espanhol, a ipatinguense Jeanette Mara Arcanjo, de 34, é a única mineira atualmente aprovada para apitar jogos profissionais do futebol masculino. O curso para arbitrar as partidas de ambos os sexos é exatamente o mesmo, mas os testes físicos são diferentes. A mineira, que faz parte dos quadros da Fifa desde 2012, foi aprovada em ambos.

“É gratificante você chegar a este nível, mas ao mesmo tempo é uma responsabilidade muito grande, porque a cobrança também é muito maior”, explica a assistente.

Ela embarca no início de novembro para o Catar, onde participará de um seminário preparatório para trabalhar na Copa do Mundo de Futebol Feminino, ano que vem, no Canadá. “Os desafios aumentam a cada dia”, brinca Jeanette. Como a profissão não é regulamentada, todos os árbitros exercem outras profissões.

Início da carreira

Quem quiser investir na carreira de árbitro ou assistente precisa fazer um curso ministrado pela Federação Mineira de Futebol (FMF). O valor é R$ 2.500 e a duração seis meses, entre aulas teóricas e práticas.

Os novos juízes começam “bandeirando” para só então passar a trabalhar como árbitro. Quando já estiverem habilitados nas duas funções, cabe ao próprio profissional escolher a área que prefere.

Por cada partida, um auxiliar recebe R$ 600, quando faz parte dos quadros da FMF, R$ 1.000 os da CBF e R$ 1.500 quando são da Fifa. O valor corresponde à metade do que ganha um árbitro principal.

De olho nos passos de Jeanette e Fernanda Colombo está outra mineira. Estudante de educação física da UFMG, Fernanda Nândrea, de 23 anos, fez o curso na FMF e já trabalha nas divisões de base do futebol mineiro.

O sonho é um só: “Quero ir aos poucos, mas chegar a apitar a Série A do Campeonato Brasileiro e fazer parte dos quadros da Fifa”, projeta a jovem, que começou a apitar de brincadeira nas peladas do pai com amigos e acabou tomando gosto.

Uma das primeiras na profissão foi a paulista Ana Paula Oliveira, que começou a gostar da função ainda criança, quando ajudava o pai, que também era árbitro. Depois de vários anos à beira dos gramados, ela trocou a bandeira pelas páginas da revista Playboy.

O ensaio encerrou a carreira dela na arbitragem, mas abriu portas em outras áreas. Formada em jornalismo, Ana Paula apresentou um programa local de esportes em Minas e hoje, além de palestras pelo país, é secretária da Escola Nacional de Arbitragem.

Representante mineira no cenário nacional

Há 11 auxiliares de arbitragem do sexo feminino nos quadros da Federação Mineira de Futebol (FMF), mas apenas Jeanette Mara Arcanjo está habilitada para trabalhar em competições profissionais. As outras ainda estão em fase de transição, apitando futebol de base e amador.

Se Jeanette é a única mineira atualmente capacitada para trabalhar na Série A do Campeonato Brasileiro, ela não é a pioneira. Marley Leite da Silva e Ângela Paula Régis Ribeiro puxaram a fila, no início dos anos 2000.
“É um orgulho muito grande para nós termos nos nossos quadros uma profissional do nível da Jeanette. Ela vem nos representando muito bem nos jogos da Série A e B do Campeonato Brasileiro, além de despertar a atenção de outras mulheres para a profissão”, comemora José Eugênio, presidente da comissão de arbitragem da FMF.

Minoria

Apesar de o número de integrantes do sexo feminino no apito estar crescendo bastante, elas ainda são minoria em um universo dominado pelos marmanjos. No curso em andamento na FMF, iniciado há duas semanas, apenas duas mulheres estão inscritas, contra 21 homens.

Há hoje cerca de 160 homens e apenas 11 mulheres trabalhando atualmente na arbitragem do futebol amador e profissional de Minas Gerais.

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