Campeão por onde passa, Egídio quer mais 'canecos' com a camisa do Cruzeiro

Guilherme Guimarães e Henrique André
Hoje em Dia - Belo Horizonte
05/10/2018 às 20:19.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:49
 (Vinnicius Silva/Cruzeiro)

(Vinnicius Silva/Cruzeiro)

Colecionar títulos e buscar novas conquistas virou rotina na vida do lateral-esquerdo Egídio, que há 12 anos estreava na equipe principal do Flamengo. Titular absoluto no Cruzeiro de Mano Menezes, o camisa 6 criado na Zona Norte do Rio de Janeiro traz no currículo três troféus do Brasileirão, outros três da Copa do Brasil, um da Série B e diversos estaduais.

Nesta entrevista ao Hoje em Dia, o jogador de 32 anos fala sobre a carreira vitoriosa, relembra o início da trajetória no Flamengo, explica a relação de amor com a Raposa e a cidade de Belo Horizonte, credita à esposa Thaysa todo o amadurecimento como pessoa e profissional, não esconde o desejo de defender a Seleção Brasileira principal e projeta uma decisão difícil contra o Corinthians, na sua busca individual pela quarta volta olímpica na Copa do Brasil.

Como você iniciou sua caminhada no futebol e o que te fez segui-la?

Com seis anos de idade, tinha um campinho perto da minha casa, lá em Inhaúma (bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro). Um cara me viu jogando e pediu para eu chamar a minha mãe. Eu fui lá, chamei, e ela veio. Eu era bem 'bagunceirinho', e ela até achou que era besteira que eu tinha feito na rua. Mas ele disse que eu tinha futuro e pediu para me levar para jogar no salão. Comecei no Coimbra Esporte Clube, e minha mãe se revirou com o dinheiro da passagem, porque a dificuldade batia à porta. Quando ela não podia, minhas irmãs mais velhas me levavam. Depois fui para o Social Ramos Clube e, dali, outro rapaz me viu e me levou para o society. Fiquei pouco tempo e fui fazer um teste no Flamengo, onde tive vínculo dos 11 aos 26 anos e peguei praticamente todas as convocações para a Seleção Brasileira de base. Logo que acabou esse contrato, entre indas e vindas, é que eu vim para o Cruzeiro, em 2013. 

Você foi campeão por onde passou, mas parece que a identificação com o Cruzeiro é diferente. Como explica essa relação com a Raposa?

Quando cheguei aqui em 2013, junto com mais uns 15 jogadores, estava tranquilo, vindo de um bom ano de Série B (pelo Goiás), assim como o Ricardo Goulart. O clube estava reformulando o elenco. Fui ganhando espaço e ganhei a vaga de titular na final do Mineiro. Dali, segui e ganhei meu primeiro título na Série A. Foi uma festa linda que fizemos a do Tri. Em 2014, ganhamos o Mineiro e quase levamos também a Copa do Brasil. Conseguimos o tetra no Brasileiro e eu fui eleito o melhor lateral do país. Eu nunca havia sido vendido para nenhum clube, nem campeão nacional e nem o melhor da posição. Isso para mim foi muito marcante. Além disso, conheci a minha esposa e casei em Belo Horizonte. Meu vínculo com a cidade vai ficar para sempre. Quando eu saí, em 2014, eu tinha a certeza dentro do meu coração que eu voltaria para o Cruzeiro. Estou muito feliz, e acho que esse meu bom momento é pela alegria de ter retornado. Me sinto em casa e estou lisonjeado. Por isso, minha dedicação é enorme.

Você jogou com o Ronaldinho Gaúcho no Flamengo e se tornou muito amigo dele. Se tivesse seguido os “embalos” do Bruxo, estaria solteiro até hoje?

Em 2011, quando estávamos no Flamengo, ele me abraçou de uma tal forma e me levava para onde ia. Eu era solteiro, comecei a andar com ele, e minha mãe no início achava muito legal. Depois, ela viu que eu estava me envolvendo muito e saindo demais, chegando de madrugada ou nem dormindo em casa, enfim. Quando saí do clube, ele ligou para a minha mãe e perguntou se ela estava precisando de alguma coisa, querendo dar uma atenção, já que eu não estava mais no estado. O treinador (Vanderlei Luxemburgo) começou a implicar comigo e começou a me afastar do time, nem relacionado eu era. Isso me incomodou e eu pedi para deixar o Flamengo. 

“O que eu faço e o tanto que me dedico é em prol do Cruzeiro, mas se vier amanhã ou depois uma convocação para a Seleção principal, vou ficar muito feliz.O que eu penso e quero é manter esse nível que venho apresentando aqui”

E em 2013, quando ele defendia o Atlético?

Quando eu vim para o Cruzeiro, em 2013, ele estava no rival, o Atlético. Nos encontramos algumas vezes na casa dele, porém eu estava num clube que era rival. Como não sou burro, percebi que, se fui afastado do Flamengo por acompanhá-lo, jogando juntos, imagina com ele estando no nosso rival? Conheci a minha esposa, me apaixonei por ela, e ali vi que aquele era o meu caminho. Até hoje nos falamos. Ele (Ronaldinho) diz que eu o abandonei, mas sabe que foi por uma boa causa.

Como foram os dois primeiros anos no Cruzeiro, com o bicampeonato brasileiro? Foi o que, de fato, alavancou a sua carreira?

Ah, com certeza! Falo até com a minha esposa. Nos conhecemos, e logo que fizemos uma semana de namoro eu assumi a titularidade. Fui seguindo de titular e fomos campeões brasileiros. No ano seguinte, campeões mineiros e novamente brasileiros, além de fazer a final da Copa do Brasil. Fui eleito o melhor lateral-esquerdo do país. Isso mostra que meu maior desempenho profissional foi aqui. Quando voltei, quis dar continuidade nessa linda história e nos grandes títulos que tenho no Cruzeiro. E minha esposa sempre do meu lado. Hoje, inclusive, os caras aqui comentam comigo que sou outro como jogador e também como pessoa. 

Você mudou muito na parte técnica também. Era muito mais ofensivo e agora, com o técnico Mano Menezes, ganhou mais responsabilidade na marcação...

Quando cheguei aqui, vindo do Goiás, eu tinha feito oito gols no ano, como lateral, além de 29 assistências. Fui o melhor nesse quesito no Brasil. Cheguei aqui com essa fama de dar assistências porque eu atacava bastante. Mas não é que eu não priorizava a linha defensiva. Eu tinha liberdade de atacar, e aqui não foi diferente. Eu criei a questão de priorizar a linha defensiva junto com o Mano, mas não deixo de atacar. Hoje, consegui esse equilíbrio de fazer as duas coisas. Gosto de aprender sempre e de me cuidar, fazendo muito trabalho de força na academia para desfrutar nos jogos, com velocidade e potência. 

Você chegou para substituir o badalado Diogo Barbosa, que hoje defende o Palmeiras, seu ex-clube, onde você chegou a ser questionado. Os números, porém, mostram que o Cruzeiro se deu melhor nessa escolha. O que acha disso?

O Diogo teve uma passagem de um ano aqui, foi muito bem, conquistou o título da Copa do Brasil. Mas eu também tinha ficado dois anos aqui e fui bicampeão brasileiro, eleito o melhor lateral-esquerdo do país... Ele foi para o Palmeiras, onde eu também ganhei um Brasileiro e uma Copa do Brasil. Fiz mais de cem jogos lá. Então, a minha história lá não é apagada. Quando você ganha título, você vai ser sempre lembrado. Só tem história quem tem título. O futebol dele lá ainda não foi do mesmo nível que tinha no Cruzeiro.

“Sabemos da grandeza do Corinthians, da força deles, mas nós chegamos muito fortes nesta final. Temos que ter humildade e continuar fazendo o que apresentamos até agora. Temos que acreditar, pois temos feito grandes jogos”

Qual o sentimento de estar novamente no Cruzeiro?

Estou muito feliz por ter voltado para cá. O ambiente é muito bom, e todos me receberam super bem. Isso é uma alegria enorme, então eu venho todos os dias trabalhar no Cruzeiro feliz da vida.

Acha que ainda pode chegar à Seleção Brasileira principal?

O que eu penso e quero é manter esse nível que venho apresentando aqui. Se mantiver, tenho chance, sim, de pegar uma convocação, assim como foi na base. Na principal, ainda não peguei nenhuma. O que eu faço e o tanto que me dedico é em prol do Cruzeiro, mas se vier amanhã ou depois uma convocação, vou ficar muito feliz.

O Egídio é um jogador ‘papa-títulos’?

Não digo papa-título. Eu sempre agradeço muito a Deus pela minha carreira. Por onde passei fui abençoado com títulos. Quando você ganha, caraca! É bom para você comemorar, levar para sua família ver... Sempre que acontece, chego para eles e falo ‘esse título é nosso, vocês também são campeões’. Desde pequenininho, quando comecei a jogar bola, meu pai, quando queria me chamar, falava ‘vem cá, meu campeão, vem cá, meu campeão’. Então acho que essa fala dele tomou posse dentro de mim.

E a sua relação com o torcedor e com o clube?

Me sinto, muito, muito em casa mesmo. Quando fiquei sabendo que voltaria para cá, foi uma felicidade imensa de toda a família. Essa torcida, neste ano, mostra que está mais junta do que nunca com a gente. Pegamos toda essa energia para dar o nosso máximo dentro de campo. Eles têm um respeito por cada atleta, e nós damos a vida em campo em prol deles e do Cruzeiro. Essa união está muito bonita. 

Você está a dois jogos de mais um título da Copa do Brasil...

Sabemos que ganhar título é muito difícil. Para chegar até a final, passamos por muitas dificuldades. Temos que pegá-las e colocar na ponta da chuteira para ganhar mais este título. Sabemos da grandeza do Corinthians, da força deles, mas nós chegamos muito fortes nesta final. Temos que ter a humildade e continuar fazendo o que apresentamos até agora. Temos que acreditar, pois temos feito grandes jogos em partidas decisivas.

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