Capitão Rafael Lima diz que equilíbrio psicológico foi arma do Coelho na Série B

Henrique André
hcarmo@hojeemdia.com.br
24/11/2017 às 15:59.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:52
 (Mourão Panda/América)

(Mourão Panda/América)

Quem vê o zagueiro Rafael Lima dentro de campo, imagina que o xerife da zaga do América se aproxima dos 40 anos. A experiência e tranquilidade do catarinense, porém, foram adquiridas ao longo de 31 aniversários. Capitão do alviverde, o defensor pode comemorar neste sábado o primeiro título nacional da carreira. Ele, inclusive, terá a incumbência de levantar a taça da Série B do Campeonato Brasileiro caso o Coelho supere o CRB, de Alagoas, ou o Internacional tropece diante do Guarani, no Beira Rio.

Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, Rafael Lima fala da preparação da equipe para o último duelo da temporada, afirma que a tranquilidade nos momentos adversos e também nos de alegria foi a receita para chegar tão longe na divisão de acesso, revela que pensa em homenagear os ex-companheiros de Chapecoense, mortos no acidente aéreo que completa um ano na próxima semana, e projeta o futuro com a camisa do América.

A semana é decisiva para o América. Como tem sido a preparação para o jogo mais importante de 2017?

A preparação é a mesma. É um jogo diferente, principalmente por valer o título que o clube não conquista há 20 anos. O trabalho é duro, sério, que visa um jogo bem difícil, apesar do CRB não brigar por mais nada. Lá também tem atletas e pais de família que querem ganhar.

O grande diferencial do grupo do América é a tranquilidade nos bons e maus momentos?

Sim. No jogo do nosso acesso, na vitória contra o Figueirense, a gente comemorou, mas não foi nada igual ao que outros clubes fizeram quando subiram, com muita euforia. Depois dali, sabíamos que poderíamos conquistar o título. Foi assim em todos os momentos do campeonato. Quando passamos por dificuldades não houve desespero, e com os resultados positivos não ficamos eufóricos. É preciso muito equilíbrio para conquistar os objetivos na carreira. Nossa comissão técnica não nos deixa empolgar muito.

“Tenho contrato por mais um ano, e sempre procurei fincar raízes por onde passei. Joguei por pouquíssimos clubes nestes 13 anos de carreira. Se depender de mim, quero muito ficar por um bom tempo no América”



Você foi revelado pelo Figueirense e, curiosamente, o acesso veio contra ele, no Orlando Scarpelli. Qual a sensação que você teve naquele momento, acompanhado de seus familiares que estavam no estádio?

Um sentimento diferente. Fiquei no Figueirense por dez anos. A minha formação foi toda lá. Foi o clube que me formou como atleta e como cidadão. Sempre nos ofereceu toda estrutura, como escolas particulares, por exemplo. Minha família estava toda lá no jogo; meus amigos de infância também. Apesar de torcerem pelo Figueira, ali estavam torcendo por mim. Com o gol que fiz, conseguimos a vitória e o acesso. Foi um dia especial.

Como tem sido o casamento com o Messias? Com toda experiência no futebol, o que você tem passado para ele dentro e fora de campo?

É uma troca. O Messias é um atleta de potencial extraordinário e que estará nos próximos anos numa liga europeia. Ele demonstrou durante o ano que foi merecedor de ter conquistado a titularidade e este espaço. Tenho só um pouquinho a mais de experiência do que ele, e procuro passar o atalho para que chegue à frente do atacante. Tenho muita confiança nele e conseguimos formar uma dupla bacana este ano.

E como é olhar para trás e ver o João Ricardo, um dos melhores goleiros da Série B, ou o Leal, o substituto que tem mostrado seu valor?

Eles têm dois treinadores de goleiros que são excepcionais. No dia a dia são muito chatos, puxando os goleiros para que alcancem sempre o melhor nível, na ponta dos cascos, como costumamos dizer.

Você atuou por dois anos no Al-Sharjah, dos Emirados Árabes. Como foi esta experiência fora do país?

Gostei demais. Aqui no Brasil, quando os resultados aparecem, somos atletas; quando é diferente, você não é considerado o mesmo. Por parte de algumas pessoas falta respeito. Em muitos campeonatos fora isso não acontece. Lá nos Emirados Árabes, independentemente do resultado, eles sabem que o atleta sempre vai buscar o melhor, pois quer dar uma condição de vida boa para a família. Aqui, se não vencemos, muita gente fala que o jogador fez corpo mole ou que não é merecedor. Eu e minha família gostamos muito desta experiência.

“Quando passamos por dificuldades (no Brasileirão) não houve desespero, e com os resultados positivos não ficamos eufóricos. É preciso ter muito equilíbrio para poder conquistar os objetivos na carreira. Nossa comissão técnica também não permite que a gente se empolgue muito”

  


Se o América for campeão da Série B, você será o responsável por erguer a taça. Tem pensado muito nisso?

Sem dúvida alguma. É um objetivo, que antes era um sonho muito distante, pois o Inter estava com uma pontuação muito superior. Conseguimos tirar a diferença rodada a rodada. Temos tudo para fazer um grande jogo no sábado e aí sim, após os 90 minutos, poder comemorar este título.

O Inter encara o Guarani, no mesmo horário. Vocês conseguem focar apenas no campo e esquecer o que acontece em Porto Alegre?

Dependendo do nosso resultado, assim como aconteceu contra o Londrina. Lá, aos 35 minutos do segundo tempo, eu perguntei para um repórter quanto estava o jogo do Inter contra o Goiás. O placar havia anunciado apenas o gol do Goiás, mas não falaram nada que tinha sido anulado; então, para nós, éramos campeões naquele momento.

O que você achou do erro do árbitro Heber Roberto Lopes, que anulou o gol do Goiás após uma verdadeira lambança?

Eu conheço o Heber há muito tempo, lá em Florianópolis. Ele, inclusive, foi o único árbitro que me expulsou na minha carreira. Sou suspeito de falar dele. Foi um erro muito grande, que se fosse na última rodada, poderia decidir o título. Ele tem que ser punido, assim como um atleta que agride o outro ou xinga o árbitro é. A punição tem que ser dura, porque são vidas e futuros que estão em jogo.

“Eu quase que diariamente sonho com alguns dos meus amigos, que eram verdadeiros irmãos. Aconteceu, mas só espero que as pessoas que cometeram aquele erro sejam penalizadas e que a diretoria da Chapecoense dê todo respaldo e conforto aos familiares”


Um ano após o acidente aéreo com a Chapecoense, seu ex-clube, você pode conquistar um título nacional. Você tem pensado muito nisso? Principalmente nos amigos que perdeu naquela tragédia?

Muito. Eu quase que diariamente sonho com alguns dos meus amigos, que eram verdadeiros irmãos. Esse último ano parece ter sido de sonho e pesadelo. Sonho porque vim para cá como uma incógnita, sem saber como seria, e deu tudo certo. Pesadelo porque perdi pessoas queridas. Tenho contato com as famílias de todos eles, sempre nos falamos. Infelizmente é vida que segue e a gente não pode rebobinar a fita. Aconteceu, mas só espero que as pessoas que cometeram o erro sejam penalizadas e que a diretoria da Chapecoense dê todo respaldo e o mínimo de conforto aos familiares.

Gostaria de voltar ao clube?

Eu não gosto muito de ficar planejando assim. Se acontecer, ficaria feliz, mas infelizmente as pessoas que assumiram lá, depois de cinco anos, resolveram não contar comigo. Defendo muito o clube que estou representando. Lá já joguei machucado e não me arrependo disso. Eu me envolvo pelo clube que estou. O América abriu as portas para mim, através do Ricardo Drubscky, e fui muito bem tratado também pelo Enderson Moreira. Ele sempre demonstrou enorme respeito, como poucos treinadores já fizeram. Me tratou da mesma forma que fez com Neymar e outros.

Qual sua função no pagode do vestiário?

Eu sou o dono dos instrumentos (risos). Por onde eu vou eu carrego. Pra mim, esta interação é fundamental para unir o grupo e, assim, ter sucesso. Por onde passei, independentemente da religião dos jogadores, busquei esta criação de identidade e união. A rapaziada é boa no pagode, apesar de muito ruim para cantar.AVASSESORIA/Divulgação

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