Careca fala da 'cabeçada mortal' de 1990, da vinda ao Cruzeiro e da saudade dos clássicos dividos

Alexandre Simões
@oalexsimoes
03/06/2020 às 11:46.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:40
 (Reprodução YouTube)

(Reprodução YouTube)

Maior ídolo da torcida cruzeirense no final da década de 1980, a mais dura da história do clube na Era Mineirão, o meia-atacante Careca, mineiro de Passos e atualmente com 51 anos, falou ao Hoje em Dia sobre o gol que marcou há exatamente 30 anos e que decidiu o Campeonato Mineiro de 1990, na única final entre Cruzeiro e Atlético, entre as 24 que eles já disputaram, que foi em partida única.Reprodução YouTube

Careca em entrevista para a TV Cruzeiro em 2018. O ex-jogador trabalha nas categorias de base do clube, que estão com atividades suspensas

O ex-camisa 10 da Raposa lembrou ainda de outro gol decisivo sobre o Atlético, na final de 1987, da sua chegada ao clube, pelas mãos de um grande craque e também da “ajuda” na chegada à Toca da Raposa de outro ídolo cruzeirense, o ex-volante Ricardinho, que é seu conterrâneo.

Você ainda se lembra daquele gol em 3 de junho de 1990?
Não há como esquecer aquela cabeçada mortal. Quando o Edson pegou a bola para bater o escanteio, todo mundo estava buscando espaço. Um empurra daqui, outro empurra dali. Aí pensei que não ia ficar brigando. Resolvi sair e esperar a bola no segundo pau. Do jeito que imaginei, a bola chegou. Não teve nada combinado, mas saiu como se fosse.

Sua ideia era cabecear para o chão mesmo?
Sim, a cabeçada para o chão foi consciente. Treinava muito este tipo de jogada. Era bom na bola parada. Um jogador de 1,86m e forte, é difícil de ser marcado. Na época, era uma altura muito boa. Tinha explosão, força.

Antes, você já tinha marcado na decisão de 1987, logo no início da sua história no time principal. Como foi aquela jogada?
Naquele lance, o Hamilton tentou dominar a bola, mas ela passou. Acreditei na jogada e ela sobrou para mim. Cheguei batendo de fora da área. Acertei o ângulo. Não teve chance para o João Leite, que nem pulou.

O que representava o clássico na década de 1980?
O clássico era tudo para a gente. Sempre que entrava para disputar o Campeonato Mineiro, esperava o torneio todo para encarar o Atlético. A rivalidade dos torcedores. Aquele Mineirão antigo, dividido, era o máximo. Aquilo marcava muito. O Campeonato Mineiro naquela época valia demais. Era um título muito importante e desejado.Lucas Prates

Em 2012, Careca teve Hamilton como companheiro nas categorias de base do Cruzeiro. Os dois formaram a dupla de ataque do clube no final dos anos 1980

Você já foi a clássicos com o visitante recebendo apenas 10% da carga de ingressos? O que você achou do ambiente do jogo?
É muito diferente o clima. A motivação com as duas torcidas é muito maior. Claro que o clássico motiva, mas não acho que seja do mesmo jeito. Fica estranho demais o Mineirão sem estar dividido. Aquela gozação sadia era bacana, as duas torcidas gritando. Ficou muito simples. Não tem cara de clássico.

Como você chegou ao Cruzeiro?
Sou de Passos (Sul de Minas). Cheguei ao Cruzeiro com 15 para 16 anos. Fui descoberto com 13 para 14 anos, mas minha mãe não deixou eu vir. Depois de um ano e meio eu vim. Rossi (ex-jogador de Cruzeiro, Santos e Botafogo) e Ary da Frota Cruz (dirigente do Cruzeiro já falecido) me descobriram. O júnior do Cruzeiro foi inaugurar um estádio lá em Passos. E joguei na preliminar, pelo time da Usina Açucareira Passos. Enfrentamos o Esportivo. Fiz dois gols. Era a final do Campeonato Regional de Passos na categoria dente-de-leite. Fomos campeões. Ganhei o melhor do jogo, artilheiro. Depois do jogo, eles foram na minha casa, bateram na porta e minha mãe abriu. E disseram que tinham ido fazer um convite para me levar para o Cruzeiro. Disseram que eu nem ia fazer teste. Mas minha mãe não deixou. Meu pai queria que eu fosse.

Como você convenceu a sua mãe?
Depois de um ano e meio, de tanto pedir, ela deixou, mas com a condição de eu não ficar. Eu já era bagunceiro na época. Ela dizia que eu já dava trabalho aqui na Usina, imagina numa cidade grande. A Usina tinha uma vila para os trabalhadores. Eram umas três mil famílias. Foi nessa condição que Dona Isaura, minha mãe (já falecida) me deixou vir para o Cruzeiro. Com a ajuda do meu pai, Seu Constantino (também já falecido), fui ficando.

Passos é a terra de um outro ídolo cruzeirense, o Ricardinho. Você ajudou na vinda dele para a Toca da Raposa?
Ele jogou na Usina também, mas temos idades diferentes. Ele é mais novo. Joguei com o pai dele, que me ajudou demais. Com 15 anos joguei de titular no time da Usina com o pai dele, o Mosquito. Jogava bola demais, camisa 8. Era um foguetinho. Depois o Ricardinho começou a jogar na Usina também. Fomos jogar em Passos, e o Ricardinho jogou na preliminar, e o Salvador Masci trouxe ele para o Cruzeiro.

Mas este processo teve sua participação?
A mãe do Ricardinho foi na minha casa e pediu para falar com o Salvador Masci para observar o Ricardinho. Eu estava lá, de folga. Aí avisei ao Seu Salvador, pois ele estava muito bem falado na cidade. Todo mundo falava da sua qualidade. O Salvador gostou demais do futebol dele, o mérito é dele, eu só indiiquei. Depois, mais dois garotos de Passos vieram para o Cruzeiro, também volantes, o Marcos Paulo e o Reginaldo, que também jogou no time da Usina.

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