Carta branca da diretoria e idolatria da torcida não foram suficientes para Jorge Sampaoli

Alexandre Simões
@oalexsimoes
22/02/2021 às 20:50.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:14
 (Bruno Cantini/Agência Galo/Atlético)

(Bruno Cantini/Agência Galo/Atlético)

Poucos treinadores tiveram da torcida a idolatria que Jorge Sampaoli alcançou nos seus menos de 12 meses no Atlético. Nenhum técnico teve tanto poder na Cidade do Galo como o argentino. Mesmo assim, a relação chegou ao final na última segunda-feira (22), com o treinador anunciando, por meio de nota, que na próxima quinta-feira (25), contra o Palmeiras, às 21h30, no Mineirão, pela 38ª rodada do Brasileirão, ele e sua comissão técnica comandam o time pela última vez.

É o final de uma relação em que o “respeito” esteve presente em apenas um lado, o atleticano. E isso tem uma explicação simples. Os investidores viram em Sampaoli o treinador badalado, com esquema de jogo ousado, a solução para comandar o projeto que tem como objetivo recolocar o Galo na rota das grandes conquistas.Bruno Cantini/Agência Galo/AtléticoMaior aposta dos investidores do Atlético para um projeto iniciado há menos de um ano, Jorge Sampaoli deixa o clube sem cumprir totalmente o seu contrato, que iria até dezembro de 2021

Logo após sua eleição, o presidente Sérgio Coelho afirmou que por ele o treinador teria o vínculo renovado, pelo menos até dezembro de 2022, o que faria do argentino o comando alvinegro na inauguração da Arena MRV, estádio do Galo, que tem a conclusão das obras previstas para outurbo do ano que vem.

O torcedor, ansioso por uma grande taça, em especial a do Brasileirão, que o clube não ergue há quase meio século, viu no argentino o comandante que poderia encerrar o jejum, por parte da sua história, pelos vários reforços que chegaram à Cidade do Galo e pelo início empolgante da equipe na Série A.

Não esteve na mesma proporção o respeito do argentino. E a ruptura do projeto é a maior prova disso. A aposta nele foi grande, a diretoria e torcida o protegeram, mas ele preferiu deixar o processo pelo caminho.

Trabalhou muito no período, mas o ambiente é algo muito importante no futebol, e Sampaoli não prezou por isso.

Implantou regras que beiram ao absurdo, se sentiu incomodado com coisas simples e perdeu o grupo em alguns episódios, o principal deles a festa que teve a participação da sua comissão técnica pouco antes do surto de Covid-19 na Cidade do Galo.

Os jogadores eram muito cobrados no comportamento em tempos de pandemia pelo novo coronavírus. E o Atlético caminhava bem demais neste aspecto, até que no início do returno o vírus chegou com força no centro de treinamentos atleticano.

É impossível afirmar onde começou o surto, mas é uma realidade o fato de que os primeiros infectados eram todos da comissão técnica.

Multa

Como Sampaoli vai romper o contrato com o Atlético, terá de pagar ao clube uma multa, de cerca de R$ 4 milhões. A tendência é de que seja descontada a premiação a que ele tem direito por ter levado o time à fase de grupos da Copa Libertadores 2021.

Seu futuro deve ser no Olympique de Marselha, da França, que perdeu no início do mês o português André Villas-Boas, que deixou o clube insatisfeito com a contratação de um jogador que não foi indicado por ele.

Na próxima quinta-feira, contra o Palmeiras, Jorge Sampaoli completa 45 partidas no comando do Atlético. Foram 25 vitórias, nove empates e dez derrotas, todos os reveses no Campeonato Brasileiro, onde o G-4 está assegurado pelo Atlético, seja como terceiro ou quarto colocado.

No Galo, ele conquistou seu único título após deixar a seleção chilena, no início de 2016, o Campeonato Mineiro de 2020.

Muito pouco para a gente atleticana, que adotou o careca elétrico que carregava a esperança de ter com ele a volta dos tempos das grandes conquistas.

A nota de Sampaoli

O ano de 2020 foi duríssimo para a humanidade. Nós temos de ser criativos e quisemos construir um time que, ao passar na TV, fizesse esquecer a tristeza por um momento. Não nos propusemos simplesmente a ganhar: tentamos ser felizes.

Não houve um só dia no Atlético Mineiro em que abandonássemos nossa ideia sobre futebol. Este time teve a valentia de jogar dentro e fora de casa da mesma forma. Jamais renunciamos a pensar na trave do rival. O Galo colocou seu coração em todo o país. Isso me dá um orgulho impressionante. Desejo que seja uma ideologia que se mantenha no clube. O futebol brasileiro tem um talento infinito e me fez reencontrar com a beleza do jogo, algo que irá me marcar para sempre.

Chegou o final. Na quinta, será a última partida. Saio com a nostalgia de não poder ter dirigido com o estádio cheio. Sei que nos emocionamos muito. Queria viver os vídeos que tinha visto de uma torcida apoiando sem parar.

Quero agradecer a todo o clube. Aos jogadores, pela entrega. A todos os funcionários da instituição, por colocar a alma nesse projeto. Aos dirigentes, por nos dar grandes condições de trabalhar. À cidade, por nos tratar tão bem.

O Galo está destinado a brigar por grandes coisas. Sei que as vitórias virão. Gosto muito de vocês e desejo que sigam caminhando com o coração como guia.

Jorge Luis Sampaoli

A nota do Atlético

O Clube Atlético Mineiro informa que aceitou a decisão do técnico Jorge Sampaoli de rescindir seu contrato com o clube, ao término do Campeonato Brasileiro, nesta quinta-feira, dia 25.

Jorge Sampaoli teve papel importante para mudar o Atlético do patamar em que se encontrava nos últimos anos, graças a sua disciplina, enorme capacidade de trabalho e permanente espírito de cobrança.

O Galo agradece ao treinador, deseja-lhe sucesso e sente-se honrado por tê-lo tido como técnico por cerca de um ano.

Saludos y hasta luego, Jorge!

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