Chapas se unem por oposição à nova mesa do Conselho do Cruzeiro: 'não serão reeleitos'

Guilherme Piu e Alexandre Simões
Hoje em Dia - Belo Horizonte
22/05/2020 às 16:40.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:34
 (Montagem sobre fotos Divulgação do Cruzeiro)

(Montagem sobre fotos Divulgação do Cruzeiro)

Montagem sobre fotos Divulgação do Cruzeiro 

 A disputa acirrada na eleição que definiu por apenas dez votos o advogado Paulo César Pedrosa como presidente do Conselho Deliberativo do Cruzeiro já promove alterações políticas no clube. As três chapas derrotadas na última quinta-feira se uniram em um bloco denominado "Cruzeiro Forte" e, assim, prometem oposição intensa e efetiva à nova mesa diretora. Esse é o posicionamento de Giovanni Baroni, Paulo Sifuentes e Luiz Carlos Rodrigues.

Os três entendem que o momento não é de judicializar o resultado das eleições, até para não criar mais um cenário que possa atrapalhar o Cruzeiro. E por isso prometem firmeza nas cobranças e no acompanhamento dos trabalhos do novo presidente. 

Cenário desfavorável ao vencedor

Com pouca popularidade entre os torcedores, a chapa "Somos Todos Cruzeiro", que além de Pedrosa tem Nagib Simões (vice-presidente), Evandro Vassali (1º secretário) e Marcus Edmundo Lambertucci (2º secretário), assumirá o Conselho em 1º de junho sem ter a maioria no legislativo da Raposa.

"Após os resultados das eleições, eu, o (Paulo) Sifuentes e o Luiz (Carlos) fizemos um grupo. Ficaria satisfeito se o Sifuentes ou o Luiz vencessem, não queríamos que o Pedrosa ganhasse. Mas vamos corrigir um erro nosso (falta de união). “Somamos maioria agora e temos mais de 2/3 do Conselho. Assuntos como eleição para conselheiros natos, aprovação de Estatuto, ele não vai aprovar nada da forma que quiser e se não for por meio de princípios éticos, morais. Não vamos aceitar mais imoralidades. Pode ter certeza que vamos agir e ele não vai conseguir as coisas que prometeu", afirma Giovanni Baroni. 

Uma das principais promessas de campanha da chapa "Somos Todos Cruzeiro" foi a de realizar eleições e preencher vagas que estão em aberto para cargos de conselheiro nato no clube. 

"O nosso mandato é de sete meses, mandato para elevar a 60 vagas de conselheiros natos que estão abertas. Há ansiedade dos conselheiros efetivos. E subir 65 conselheiros suplentes para efetivos. E a reforma do Estatuto é a prioridade número um. Agora em junho vocês vão ver a portaria publicada", disse Paulo César Pedrosa logo após a eleição.

Giovanni Baroni e Paulo Sifuentes, em entrevista ao Hoje em Dia, concordaram entre si que essa eleição para nova definição do status de conselheiros até deve acontecer, desde que dentro das medidas legais. Luiz Carlos Rodrigues acha que esse processo só poderia ser discutido no próximo mandato, já que a atual formação do Conselho Deliberativo está sub-júdice por problemas ainda na eleição passada (nomes duplicados na inscrição de chapas). 

O que é comum a todos é o fato de nenhum presidente usar essa promoção de conselheiros em benefício próprio.

"O que a gente tem que preocupar é que o Conselho, se tiver a responsabilidade que esperamos que vá existir, precise eleger conselheiros representativos e que respondam à altura do que a gente merece. É oportuno elevar os conselheiros, mas dentro de uma transparência. Não queremos que ocorram facções, grupos que possam dividir as ideias dos que estão imbuídos em bons propósitos. Que essa eleição possa gerar ascensão dos que pensam melhor no Cruzeiro, e que sejam eleitos de forma representativa, eleição que retrate o melhor para o clube por meio da legalidade, transparência, ética, todos esses são pilares que devem ser observados para essa eleição", opina Paulo Sifuentes.

Segundo apurou o Hoje em Dia, há o receio de que essa elevação de conselheiros dentro das graduações do Conselho Deliberativo alterem, para benefício próprio de Paulo Pedrosa, o cenário nas próximas eleições que vão acontecer em outubro.

Luiz Carlos Rodrigues falou abertamente do que ele chama de "manobra". "Claro que é manobra politiqueira, com certeza. Foi prometido que ele faria eleição para subir natos, que o número de vagas que criaria no efetivo elevaria todos os suplentes. Politiqueiro por um período de seis meses, num momento em que o clube não está pacificado ainda e tem tantos problemas para serem resolvidos", criticou.

Preocupação no Conselho

Há receio dentro do Conselho Deliberativo de que essa "promoção" repentina de conselheiros crie um “curral eleitoral” para alavancar pretensões de um grupo que não se distanciou e avalizou atos temerários da última gestão. 

A preocupação ficou maior a partir do momento que Paulo Pedrosa, na função de presidente do Conselho Fiscal, chegou a dizer que "não havia irregularidades" em documentos da gestão de Wagner Pires de Sá analisados pelo grupo. E é justamente o período em que o ex-presidente comandou o Cruzeiro que está sob investigação e suspeita de crimes graves, como falsificação de documentos, falsidade ideológica, apropriação indébita, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

Na opinião de Pedrosa todos os documentos que puderam ser analisados durante a última gestão foram analisados. Porém, boa parte dos registros, na opinião do agora novo presidente do Conselho Deliberativo, não puderam passar pelas mãos do Conselho Fiscal.

"Nós analisamos somente o primeiro semestre de 2018 (as contas) quando entramos. Então, nós não podíamos mudar nada, pagamentos eram feitos, nós conferiamos os contratos, pj's (contratos de pessoas jurídicas), carteiras assinadas, futebol você não pode interferir também, então temos que trabalhar juntos. Compete ao Conselho Deliberativo aprovar ou não as contas do Cruzeiro (...) Normalmente nas empresas do Brasil são aprovadas (as contas), a maioria, 90%, com ressalvas. Estamos tranquilos e nossos sucessores no Conselho Fiscal vão olhar a documentação toda de 2019 que não chegou nas nossas mãos.  A tal da Kroll pegou os documentos, mandou para a imprensa, não encaminhou para o Conselho Fiscal, nunca vi isso na minha vida", se explicou disparando contra a empresa que apontou irregularidades financeiras na gestão de Pires de Sá.

Sonho de ser presidente

Por ser eleito o novo presidente do Conselho Deliberativo do Cruzeiro, Paulo Pedrosa passará ao status de conselheiro benemérito, título concedido a todos que presidem o clube ou o Conselho.
Esse status é tido pelo próprio como "cargo top na carreira" dentro do clube. E ele deseja mais. Pedrosa não escondeu que um dia sonha em ser presidente do Cruzeiro. 

"Eu estou pensando lá na frente, sonho um dia em ser presidente do Cruzeiro Esporte Clube. Há 40 anos sou sócio do clube, há mais de 20 anos conselheiro, há quase 20 anos conselheiro nato. Agora, eu e o Sérgio Santos Rodrigues passamos a ser conselheiros beneméritos também, o que está previsto no Estatuto. Cheguei no top na carreira no Cruzeiro. Quem sabe um dia, não agora, mas quem sabe um dia eu não vou suceder o próximo presidente".

Pouco depois da entrevista, Paulo César Pedrosa precisou de um esquema da Polícia Militar para deixar a sede do Barro Preto em segurança, pois os torcedores que estavam do lado de fora do clube social, acompanhando a eleição para presidente do clube e do Conselho Deliberativo, gritavam palavras contra ele e o ameaçavam de agressão.

Procurado pela reportagem, Paulo César Pedrosa não atendeu as ligações. Assim que ele se posicionar sobre a nova confuguração política dentro do Conselho Deliberativo do Cruzeiro a matéria será atualizada.

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