Coletivo de torcidas antifascista publica repúdio a comemoração do regime militar

Da Redação
31/03/2019 às 11:56.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:02
 (Divulgação)

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"No Brasil, o 31 de Março iniciou um 7 a 1 contra a democracia e a civilidade", declara uma nota publicada neste domingo (31) por coletivos de torcidas antifascistas de clubes de futebol de todo o país. Intitulada "Gol contra: Ditadura Militar impôs derrota ao Brasil", o texto manifesta o repúdio das organizações à recomendação do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de que o 31 de março, quando o regime militar foi instaurado no Brasil em 1964, seja comemorado em quartéis das Forças Armadas.

O texto enumera uma série de fatos marcantes ocorridos nos chamados "anos de chumbo", entre 1964 e 1985, como torturas, assassinatos, estupros e perseguições. No esporte, a nota cita atletas torturados e assassinados pelo regime, como Helenira Rezende e Carlos Alberto Soares Freitas, do basquete, os remadores José Huberto Bronca e Eremias Delizoicov e o boxeador Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão.

Ainda de acordo com o texto, o futebol também sofreu repressão. Entre os nomes mais conhecidos, o do técnico e jornalista João Saldanha. Muitos jogadores também sofreram com a repressão, alguns presos, outros sabotados, como Nando, irmão de Zico; Sócrates, Afonsinho, Reinaldo, Tostão e Wladimir.

Os coletivos também citam a repressão contra as torcidas de futebol, que teria sido o ponto inicial para a criminalização delas, já que eram consideradas como possíveis células subversivas. "É preciso, portanto, que os brasileiros acordem e resgatem a verdadeira história da Ditadura Militar e se conscientizem dos perigos representados pelo fascismo, um inimigo do esporte das multidões", afirma o texto. 

Leia a nota na íntegra:

GOL CONTRA: DITADURA MILITAR IMPÔS DERROTA AO BRASIL

Os coletivos e torcidas antifascistas vêm a público manifestar total repúdio ao incentivo irresponsável do presidente da República, Jair Bolsonaro, para que as Forças Armadas comemorem o golpe contra a democracia ocorrido em 31 de Março de 1964, no qual foi deposto o legítimo presidente João Goulart.

Hoje, em tempos de pós-verdade, a direita nacional procura difundir uma ficção em torno do período da Ditadura Militar, entre 1964 e 1985. Afirmam que “salvaram o Brasil do comunismo”, que “só bandidos foram presos”, que a “corrupção foi extinta” e que “houve grande crescimento econômico”.

Na verdade, trata-se de uma coleção de mentiras e falsidades. O governo Goulart não era comunista e apenas propunha tímidas reformas de interesse popular.

Nestes 21 anos de terror de Estado, operários, camponeses, índios, estudantes, professores, advogados, jornalistas, religiosos, entre outros cidadãos corretos e dignos, foram presos e torturados apenas por divergir do regime autoritário. No total, segundo farta documentação da Comissão da Verdade, 6.591 militares foram presos, torturados ou mortos durante esse período.

Muitas mulheres sofreram durante a repressão, liderada por delinquentes sádicos como Sérgio Paranhos Fleury e Brilhante Ustra, este último ídolo do fascista Jair Bolsonaro. A cultura do estupro punitivo vigorou em boa parte dos “anos de chumbo”. Muitas dessas companheiras foram torturadas e depois assassinadas. Hoje, historiadores e jornalistas mostram que também bebês, crianças e adolescentes sofreram nas mãos cruéis dos repressores.

O regime militar foi, sobretudo, corrupto. Os escândalos eram, no entanto, abafados por meio da censura à imprensa. Desviava-se dinheiro em obras faraônicas, como a rodovia Transamazônica. Os casos Capemi, Lutfalla, Coroa-Brastel, entre outros, mostram que a corrupção era uma marca do regime. O chamado “Milagre Econômico” foi fugaz e gerou benefício duradouro a poucos privilegiados. Na Ditadura Militar, marcado pelo êxodo rural, o Brasil assistiu à multiplicação de favelas e ao inchaço daquelas já existentes.

Os golpistas de 1964 geraram concentração de renda, atraso tecnológico e uma inflação galopante, que empobreceu os brasileiros. O esporte serviu para manipular a opinião pública, fenômeno ufanista que ficou claro durante a Copa de 1970, quando o presidente Médici aproveitou a conquista da Seleção Brasileira para calar opositores e reprimir os movimentos pela democracia.

Naquela época, até mesmo a escalação da Seleção Brasileira sofria com as ingerências do governo fardado.

O esporte, como instrumento educativo e de socialização, sofreu tremendamente com o regime infame instituído em 31 de Março. Muitos atletas foram torturados e assassinados, como Helenira Rezende e Carlos Alberto Soares Freitas, do basquete, e os remadores José Huberto Bronca e Eremias Delizoicov. E também caiu na luta o boxeador Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão.

Foram muitos os perseguidos no futebol, como o técnico e jornalista João Saldanha. Muitos jogadores também sofreram com a repressão, alguns presos, outros sabotados, como Nando, irmão de Zico; Sócrates, Afonsinho, Reinaldo, Tostão e Wladimir.

Foi também durante a Ditadura Militar que se iniciou o processo de criminalização das torcidas de futebol, consideradas como possíveis células subversivas. Naqueles anos, centenas de torcedores foram presos e muitos sofreram com a tortura em delegacias e centros de interrogatórios.

É preciso, portanto, que os brasileiros acordem e resgatem a verdadeira história da Ditadura Militar e se conscientizem dos perigos representados pelo fascismo, um inimigo do esporte das multidões.

No Brasil, o 31 de Março iniciou um 7 a 1 contra a democracia e a civilidade. Que seja lembrado como o início de um período de ignorância e barbárie.

Que possamos recuperar a verdade, instaurar uma cultura de paz e anular este “gol contra” que o fascista Bolsonaro marcou contra todos os brasileiros.

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