Com 150 jogos completados recentemente, Patric diz que vive um novo tempo no Atlético

Henrique André
31/05/2019 às 16:57.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:54
 (Gabriel Castro/ Grupo Eleven/ Divulgação)

(Gabriel Castro/ Grupo Eleven/ Divulgação)

“Vocês aceitam um cafezinho, uma água? Fiquem à vontade”. Foi dessa maneira que o lateral-direito Patric fez as honras da casa e recebeu a reportagem do Hoje em Dia na Cidade do Galo, local que tem como segundo lar desde 2010, quando assinou o primeiro contrato com o Atlético.

Nascido em Criciúma, “Patricão da Massa”, como gosta de ser chamado, coleciona troféus e medalhas do tempo em que brilhava como atacante das escolinhas do Ponto Futuro e do Próspera, antes de se achar no lado direito do campo.

Aos seis anos, ele viveu o maior aprendizado como jogador, quando, ao receber uma medalha de prata, apareceu na fotografia como o única garoto de cabeça baixa. Pela Seleção Sub-20, após a conquista do Sul-Americano da categoria, foi registrado em outra, sorrindo, com o amigo Douglas Costa nos ombros e com o ouro no peito.

Nesta entrevista ao Hoje em Dia, ele relembra a trajetória, fala das batalhas vividas, principalmente para superar as vaias, e afirma que o maior desejo é triunfar pelo Atlético, clube pelo qual já fez 152 jogos.

Você mudou bastante a postura e tem investido muito em mostrar para os torcedores o lado humano do Patric. Por quê?

Eu tenho vivido um momento muito especial e é como se algo tivesse despertado de dentro para fora. Um lado bem emocionado e um ponto bem fixo, assim, de um torcedor mesmo. Estou há tanto tempo aqui, já falei o quanto amo esse clube, mas, de fato, eu não tinha demonstrado muito isso. Acaba que para mim é um aprendizado. Creio que é meu momento, que chegou o meu tempo. Por tudo que já aconteceu, tinha tudo para não acontecer nada espetacular, mas tudo se fez novo para mim.

Você apanha tanto, é tão criticado, então por que esse amor tão exacerbado pelo clube?

O sentimento sempre existiu, assim como as cobranças. O que eu posso falar da minha parte é demonstrar para fora o que eu sou. Quando roubo uma bola no treinamento ou ganho um rachão, em que sempre costumo ser o capitão, vejo que os guris gostam de treinar contra mim, porque eu me motivo e os motivo também. Talvez o erro de quem apanhou muito foi de não ter demonstrado tudo isso antes. Sempre que vejo o Dominic em casa, ele pega a mochila e fala “papai, Galo!”. É um sentimento que tem aflorado. Eu sei que o torcedor gosta de mim e sabe o quanto posso doar para o clube. Tenho que entender minhas características também.

Sua postura profissional mudou após o nascimento do Dominic?

Quando cheguei ao Atlético, eu era um jogador de futebol e não um atleta profissional. Bebia exageradamente, comia lanche toda hora, vinham as lesões também... Ao longo dos anos, desde que conheci minha esposa, em 2011, vim mudando. Vivi fora do Atlético e retornei com uma nova mentalidade, bem maduro. O Dominic é um ensinamento para a vida. Sem dúvida ele veio para ser um divisor de águas na minha vida.

Seu filho é o melhor amigo do filho do Dedé. Porém, você e o zagueiro do Cruzeiro não têm uma amizade. Por quê?

Até pouco tempo atrás, eu e o Dedé não tínhamos nos encontrado, até pela rivalidade. Mas minha esposa e a dele são melhores amigas. Elas se encontram toda semana para os meninos brincarem, pois estudam em colégios diferentes. A gente não consegue se encontrar porque as pessoas de fora não conseguem entender; mas já nos encontramos, conversamos, e é importante separar as coisas. Sabemos que faz parte do futebol, mas também é preciso ter um período de lazer, em momentos propícios. Fico feliz de ver a amizade do Biel e do Dominic; são crianças, puras. Quando chegar no jogo, velho, cada um tem que defender o seu clube.Gabriel Castro/ Grupo Eleven/ Divulgação 


Pelo Próspera, você ganhou uma medalha de prata e foi eternizado numa foto com a cabeça baixa. Na Seleção Sub-20, conquistou o Sul-Americano. O que esses momentos distintos significaram para seu amadurecimento?

Então, a medalha foi quando eu tinha 9 anos, e o jogo foi no campo do Próspera, contra eles. Nunca gostei de perder, sempre me cobrei muito e também fui cobrado. Sempre depositaram muito as esperanças em mim. Eu jogava bola nos campinhos que as pessoas usavam “seus negocinhos” ali, fumavam, e os amigos do meu primo falavam para não de darem nada, pois eu seria jogador. Cresci neste ambiente e tive vários primos assassinados por tráfico. Cresci jogando bola para ganhar um Ki-Suco para tomar em casa. Depois minha mãe falou que aquele suco de 10 centavos gastava muito açúcar, que manchava o pulmão, então eu comecei a apostar Tang (risos)... Hoje não tomo nem refri, pois procuro ter uma vida mais saudável. Aquela medalha me mostrou que eu precisava vencer. Quando cheguei à Seleção, na primeira convocação, fui campeão no primeiro torneio, depois no Sul-Americano... Quando recebo a medalha, estou com o Douglas Costa nos meus ombros. Ali eu já podia carregar alguém; antes eu era carregado. 

Em 2015, você assinou um pré-contrato com o  Osmanlispor, da Turquia, criou um mal-estar dentro Atlético e, após o clube bater o pé, alegando aliciamento, acabou seguindo no Brasil. Se arrepende daquele momento?

Foi um momento bem difícil ali. Eles agiram de má fé. O Galo entendeu que eles burlaram a lei. Tem ainda este processo em andamento, eles já recorreram, e, naquela época, coincidiu com o nascimento do Dominic. Não foi porque eu quis. Estamos esperando a sentença final para concretizar nossa vitória e estourar os fogos. Não me arrependendo de ter ficado. Fiquei triste pela maneira que eles agiram, que poderia ter estragado a minha imagem. Os profissionais do clube viram o quão profissional eu sou. O Eduardo Maluf foi fundamental neste processo, por me conhecer. Só tenho motivos para sorrir por ter ficado no Galão. 

E esse espírito de liderança?

Sempre o tive. A vida me preparou para isso. Muitos foram vaiados e xingados e não aguentaram a pressão. É no momento difícil que as pessoas precisam se superar. Tenho um amigo que jogou aqui no Atlético que brinca que eu poderia trocar o nome de Patric para “resiliência”. Eu penso “quem dera”. Isso me enche de alegria, de coragem e de vontade. Eu quero muito levantar um troféu aqui.

Você completou 150 jogos pelo Galo recentemente, mas em uma década de contrato. Não é pouco?

Se eu somasse todos os jogos que fiz fora do Galo, eu já teria mais de 400. No Sport, em um ano e meio eu fiz 92, no Coritiba tenho mais de 36, assim como no Avaí. Em todos os lugares, fui para jogar. Nunca me senti bem para receber bem e ficar no banco. Se pegar anos e números de jogos aqui, de fato não foram muitos, mas eu tenho que perguntar ao leitor: quem consegue? Não fiz 150 jogos sendo sempre apoiado. Mas essa chave mudou. Imagina se o torcedor começa apenas a apoiar? Vai fluir muito mais facilmente. Foram 150 com oscilações, apanhando, mas agora eu preciso sonhar e idealizar que serão outros com muito amor, respeito, entrega e levantando troféus. Milhares de pessoas me mandam mensagens falando que já me criticaram tanto, mas que enxergam a minha entrega. Fico feliz pra caramba com isso. Tenho vivido esse tempo novo, que, na verdade, eu nem me lembro do que passou.

O São Paulo quis te contratar em 2018, mas o Atlético não liberou e ainda te deu um novo vínculo. Na coletiva, você soltou aquele “Sim” do Cristiano Ronaldo. Por quê?

Meu filho se assustou e minha esposa também (risos). Muita gente não entendeu o porquê; mas eu não preciso ganhar uma Bola de Ouro para me expressar, né? Ser valorizado por um clube que queria me comprar, pelo valor que ofereceu para o Galo, e o Galo entender que era melhor eu ficar é muito bom. Toda vez que renovo eu comemoro. Porque estou vencendo. 

Você tem o papel de mostrar aos novatos o que é o Atlético?

Quero ter o meu legado no clube, quero que as pessoas me reconheçam pelo o que faço no gramado. Quando tiver 12, 15 anos de Galo, pode ter certeza que serei sempre o mesmo, respeitando e sendo respeitado. Quero vencer junto com o grupo. Eu sempre respeito o espaço de todos, mas, por estar aqui há muito tempo, as pessoas já falam para os recém-chegados virem até mim. O próprio Guga quando chegou, recebeu esse conselho do pessoal do Avaí. Eu não sou traíra.

E é um concorrente direto, né?

Cara, é o mesmo carinho pelo Emerson. Continuamos amigos até hoje. Quando um cresce, eu também cresço. Se todos vencem, eu também venço. Queremos montar um elenco para triunfar.

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