Com Neymar 'sumido' entre Putin e relíquias da Guerra, mercado popular atrai turistas na Rússia

Frederico Ribeiro
Enviado Especial à Rússia
04/07/2018 às 23:55.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:12
 (Frederico Ribeiro)

(Frederico Ribeiro)

MOSCOU – Enquanto os comerciantes estacionavam vans e descarregavam caixas, o chef Andrey Gorin vestia um puído avental por cima da camiseta preta. Hora de comandar a churrasqueira no Mercado de Vernisazh, a “Feira Hippie” de Moscou que fervilha durante a Copa do Mundo, com um comércio popular dominado pela pechincha.

Os espetos de carne acompanhados de batatas alimentam a fome de vendas nas 39 barracas repletas de matrioskas, camisetas, artigos esportivos, relíquias da Segunda Guerra Mundial e casacos de pele para o rigoroso inverno abaixo de 0°C. Enquanto prepara os assados, o cozinheiro atende os clientes em espanhol, inglês e italiano.

“Com o tempo, aprendemos as palavras-chave de cada língua. A senha é sempre perguntar ‘de que país você é?’ A tecnologia ajuda, mas a prática é diária. Ainda preciso aperfeiçoar o português”, diz Gorin, que trabalha com uma bandeira do México às costas, uma flanela do Panamá no alto do exaustor e um adesivo da Nasa na geladeira, a poucos metros de um pôster do famoso cosmonauta russo Yuri Gagarin.

A comida fica para o fim do passeio recheado de contrastes. Até lá, o visitante precisará de outras palavras mágicas para encurtar caminhos diante de fileiras de produtos artesanais ou Made in China (principalmente os relacionados ao Mundial).Frederico Ribeiro

Roupas de frio e símbolos socialistas estão entre os itens mais procurados

 “Skol’ko stoit?” é a pergunta mais simples e necessária (“quanto custa?”), num russo bem rudimentar para os estrangeiros. O preço inicial do vendedor será alto. Começa, então, a dança por um denominador comum entre o custo original e um possível desconto generoso.

“Esta é a segunda casa dos turistas que visitam Moscou. Depois da Praça Vermelha, eles precisam passar aqui para levar lembranças da cidade. Além do mais, temos o nosso próprio Kremlin”, afirma a vendedora de matrioskas Yelena Tarasenko.

Também conhecida como Mercado de Izmailovo, devido à localização no bairro homônimo da capital russa, a feira é facilmente acessada por duas estações de metrô. A área de 256 km² precisa de algumas horas para ser percorrida.

Antes aberto apenas aos sábados e domingos, o espaço agora está disponível todos os dias para sugar o máximo dos 700 milhões de visitantes no país de Lênin e outros ícones socialistas, mas cujas prateleiras aparecem ocupadas também por Donald Trump, Lebron James, Michael Jackson e grandes marcas capitalistas como a da Coca-Cola.

Nem sempre, porém, é preciso tirar a carteira do bolso para levar algum suvenir. Foi assim com os recém-casados que deixavam a igreja atrás de um prédio com estilo chinês e passaram por argentinos torcedores do River Plate. Felicidade para uns, tristeza para outros, já eliminados da Copa do Mundo.

 Presidente é figura "onipresente" em suvenires
e quase não enfrenta concorrência dos craques 

“Sumido” em meio aos produtos oferecidos no mercado de pulgas de Izmailovo, o atacante brasileiro Neymar pode ser encontrado em algumas barraquinhas na forma de matrioska, a tradicional bonequinha artesanal russa composta por cinco peças que se encaixam uma dentro da outra.

A referência à Seleção, portanto, não é solitária. O conjunto encabeçado pelo camisa 10 abriga outros quatro bonecos, com os rostos dos companheiros Philippe Coutinho, Thiago Silva, Marcelo e Willian, também titulares da equipe do técnico Tite neste Mundial. O exemplar verde e amarelo custa 600 rublos (R$ 36,92), mas pode sair por 400 rublos (R$ 25,00), a depender da pechincha.

Símbolo maior de uma equipe idolatrada pela população local, o jogador mais caro da história do futebol fica barato diante de outras peças, cujos preços chegam a R$ 2 mil. Em termos de popularidade, o atleta do Paris Saint-Germain vira coadjuvante diante do verdadeiro “dono” da Rússia, o presidente Vladimir Putin.

Sem camisa e montado sobre um urso, pescando de óculos escuros ou pegando Donald Trump no colo, o chefe de Estado é figura onipresente no país, seja em canecas, camisetas, bonés, chapéus e pôsteres, entre outros.

 Fora da poeira do Vernisazh, uma loja gigante da grife italiana Gucci é mirada pelos olhos do filósofo socialista Karl Marx, imortalizado em escultura do outro lado da praça. A sequência de quatro limusines atracadas próximas ao Teatro Bolshoi indica a mudança de perfil comercial na região.

Também é possível, no entanto, encontrar preços razoáveis em meio às mais de 1.500 marcas de roupas, calçados, bolsas e perfumes no Shopping Guma ou no TsUM Mall. Mesmo que as economias da viagem sejam mais compatíveis com as barraquinhas de madeira do Izmailovo, as catedrais das compras de Moscou já valem a pena apenas pela arquitetura palacial.

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