Confederações ignoram penas contra discriminação no esporte

Wallace Graciano - Hoje em Dia
30/08/2014 às 10:03.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:00
 (Reprodução)

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Os insultos racistas contra o goleiro Aranha anteontem, na partida entre Grêmio e Santos pela Copa do Brasil, geraram uma onda de indignação. Atletas, dirigentes e personalidades se solidarizaram ao arqueiro e cobraram duras punições aos envolvidos. Porém, as últimas sanções não são nada animadoras para aqueles que desejam o fim da discriminação no esporte.   Um dos exemplos é o próprio Tricolor. Na final do Gaúchão, torcedores insultaram o zagueiro Paulão, do Internacional e, apesar de o regulamento do torneio prever perda de mandos de campo e até mesmo exclusão do clube, o Grêmio apenas foi multado em R$ 80 mil.   Não deveria ser assim. O artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) prevê penas a quem “praticar ato discriminatório relacionado a origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou com necessidades especiais”.   Pela regra, o clube envolvido pode perder os pontos conquistados ou até o dobro da pontuação, em caso de reincidência. Caso não haja atribuição de pontos, a equipe fica sujeita a ser excluída da competição. Tais punições, no entanto, nunca foram aplicadas nos torneios da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).   Futebol europeu   Penas brandas não são exclusividade do Hemisfério Sul. Em maio de 2013, o Comitê Executivo da Europa adotou medidas severas para combater o racismo, mas de nada adiantou.   Ficou estabelecida a suspensão por dez jogos, no mínimo, em caso de comportamento racista pelos jogadores. E a pena pode ser estendida para o fechamento do estádio onde foi praticado o ato, em caso de reincidência.   Porém, ao abordar ofensas praticadas pelo torcedor, justamente aquele que mais pratica tais atos, o texto é brando. Nesses casos, o clube pode ser penalizado, inicialmente, com a interdição do setor no qual ele estava. Em caso de reincidência, a regra prevê a perda de um mando de campo.    Na última temporada, o fechamento parcial das arquibancadas chegou a ser aplicado a clubes como CSKA Moscou e Lazio. Porém, as torcidas voltaram a promover cânticos racistas.   Punição a magnata da NBA longe de ser aplicada no futebol   Enquanto o Los Angeles Clippers iniciava a disputa por uma vaga na final da Conferência Oeste da NBA, um escândalo envolvendo o dono da equipe, Donald Sterling, colocou o basquete em destaque não somente nos noticiários esportivos.   Magnata do setor imobiliário, Sterling viu seu império começar a ruir em abril, após o site TMZ divulgar o áudio de uma conversa entre ele e a namorada, a modelo V. Stiviano. No diálogo, o empresário a recriminava por postar fotos em redes sociais ao lado de Magic Johnson, sem economizar nos insultos racistas.   “Fico muito incomodado em você querer aparecer ao lado de pessoas negras. Por que você faz isso? Você pode dormir (com negros), pode fazer o que quiser. A única coisa que peço é que não divulgue isso. E não os traga aos meus jogos”, dizia Sterling.   Após a divulgação do material, o empresário passou a ser recriminado pela opinião pública – até o presidente Barack Obama se mostrou indignado e pediu o afastamento de Sterling. Os jogadores e o técnico do Clippers até chegaram a cogitar um boicote aos playoffs do torneio, mas recuaram posteriormente.   Sem saída, a NBA anunciou o banimento definitivo de Sterling de qualquer atividade relacionada à liga, além de multa de US$ 2,5 milhões (cerca de R$ 5,5 milhões), valor bem superior às irrisórias punições dadas aos clubes de futebol.   O magnata tentou reverter a decisão, mas ainda foi obrigado pela Corte Superior da Califórnia a vender os direitos sobre o clube. A punição se tornou referência como a mais severa já aplicada no esporte.    Cronologia   12 de fevereiro Torcida do Real Garcilaso imita um macaco a cada vez que o volante Tinga, do Cruzeiro, pega na bola durante duelo entre os clubes, pela fase de grupos da Libertadores. Clube peruano é multado em US$ 12 mil (R$ 28 mil).    5 de março Márcio Chagas, árbitro do duelo entre Esportivo e Veranópolis, pelo Campeonato Gaúcho, é alvo de ofensas racistas da torcida do time da casa. Após a partida, o dono do apito encontra seu carro amassado e com bananas no capô e escapamento. Clube gaúcho foi punido com multa de R$ 30 mil e perda de cinco mandos de campo.   7 de março O volante Arouca, do Santos, é xingado de macaco por três torcedores do Mogi Mirim, durante partida válida pelo Campeonato Paulista. Clube é multado em R$ 50 mil, além de interdição temporária do estádio Romildão.   30 de março O zagueiro Paulão, do Internacional, sai do gramado da Arena do Grêmio sob gritos que imitavam um macaco. Tricolor gaúcho é punido em R$ 80 mil reais.   27 de abril Torcedor do Villareal atira banana em direção a Daniel Alves, do Barcelona, durante partida válida pelo Campeonato Espanhol. O lateral-direito responde à provocação comendo a fruta. Clube é punido em 12 mil euros e o torcedor responsável é banido do futebol.   21 de maio Balotelli sofre insultos racistas durante treinamento da seleção italiana no CT de Coverciano, em Florença. Policiais tentam encontrar os responsáveis pelos insultos, sem sucesso.

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