A gestão de Wagner Pires de Sá deteriorou ainda mais o Cruzeiro no que diz respeito ao lado financeiro. Com uma governança trágica e que levou o clube a um cenário de insolvência, o atual presidente criou ainda mais passivos trabalhistas preocupantes, tanto no que diz respeito aos funcionários administrativos quanto do departamento de futebol.
Por isso, de acordo com um dos notáveis que terá papel preponderante no Conselho que irá gerir o clube nos próximos meses até que uma nova eleição presidencial seja convocada, a intenção é criar um "consórcio de credores" para, paulatinamente, amortizar os valores arbitrados em processos já transitados e julgados e outros que ainda possam ser ajuizados.
Dessa forma, uma porcentagem dos ganhos do clube com venda de jogadores, bilheteria e outras receitas seriam destinadas a pagar esses passivos trabalhistas.
Entretanto, de acordo com o advogado especialista em direito do Trabalho, Bruno Milo, todo o acordo para a implementação desse consórcio de credores dependerá de avaliações de um juiz, e tudo será documentado no judiciário, com regras arbitradas que, se descumpridas, gerariam outras punições ao clube.
Dois atletas, até agora, já acionaram à Justiça cobrando salários e direito de imagem atrasados, além de rescisão contratual por falta de pagamento de Fundo de Garantia (FGTS). São eles: o meia Thiago Neves, que cobra R$ 16 milhões, e o zagueiro Fabrício Bruno, que pede R$ 4 milhões em processo que o Hoje em Dia noticiou de forma antecipada.
De uma forma geral, além dos jogadores, outras 84 ações trabalhistas contra a Raposa estão ativas na Justiça do Trabalho. Chama a atenção o número de processos que tiveram início no período em que Wagner Pires de Sá presidiu o clube.

Antes em alta com a torcida, Thiago Neves, um dos mais contestados em 2019, entrou na Justiça contra o clube
No sistema aparecem atualmente em tramitação 35 ações, todas iniciadas em 2019. Em 2018 foram 21 processos abertos contra o Cruzeiro. E a situação não deve parar por aí, já que a reportagem recebeu informações sobre o interesse de advogados em outras causas envolvendos jogadores.
"Confirmado que o Cruzeiro não recolhe FGTS dos seus atletas desde abril, o cenário que se projeta é o pior possível! Além de não ter verba para contratação de jogadores, o clube ainda corre o risco de ver todos os seus atletas ajuizarem demandas trabalhistas visando a rescisão indireta do contrato de trabalho", alerta o advogado especializado em Direito Desportivo Louis Dolabela.
O jurista ainda chama a atenção para o que está implícito na legislação e entende que pelas altas remunerações dos atletas, o Cruzeiro corre sério risco de grande prejuízo.
"A Lei Pele é clara ao dizer que a entidade de prática desportiva empregadora que estiver com pagamento de salário ou de contrato de direito de imagem de atleta profissional em atraso, no todo ou em parte, por período igual ou superior a três meses, terá o contrato especial de trabalho desportivo daquele atleta rescindido, ficando o atleta livre para transferir-se para qualquer outra entidade de prática desportiva de mesma modalidade, nacional ou internacional, e exigir a cláusula compensatória desportiva e os haveres devidos. Assim, por se tratar de atletas com alta remuneração, o prejuízo financeiro ao clube irá ser significativo", reitera Dolabela, que fala ainda da situação envolvendo o não depósito do FGTS.
"O pagamento de salário é compromisso essencial do empregador e, da mesma forma, o recolhimento do FGTS. O não recolhimento do mesmo é falta grave, de cunho econômico, que motiva a rescisão indireta do contrato de trabalho. O recolhimento do FGTS, por ter natureza alimentar, é cláusula contratual imprescindível à manutenção, à sobrevivência e à dignidade do trabalhador", concluiu o advogado.