Criciúma diz que foi 'feito de bobo' após zagueiro acertar com São Paulo

FOLHAPRESS
23/09/2015 às 14:27.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:50
 (Reprodução / Facebook)

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Enquanto a CBF investiga como aconteceu a transação do zagueiro Iago Maidana para o São Paulo, as partes envolvidas tentam se explicar. O jogador era do Criciúma, não teve seu contrato renovado, foi para o Monte Cristo, da terceira divisão do Campeonato Goiano, onde ficou dois dias, e chegou ao time do Morumbi, por intermediação de uma empresa chamada Itaquerão Soccer. O valor da transferência foi de R$ 2 milhões (e pode aumentar mais R$ 400 mil, se o atleta jogar dez vezes pelo profissional).

"Fomos feitos de bobo. Fomos bobalhões", respondeu por telefone o presidente da equipe de Santa Catarina, Antenor Angeloni. "O Criciúma foi vítima da podridão que é o futebol. Não conseguimos renovar com o jogador, por pressão dos empresários, não chegamos a um denominador comum. Liberamos, então ele. O contrato ia até o meio do ano que vem, mas aceitamos liberar porque ele logo ficaria livre. O São Paulo está por trás de tudo isso", completou o gerente do clube, Claudio Gomes.

De acordo coma versão do dirigente, o Criciúma recebeu R$ 400 mil para liberar o atleta. Iago Maidana, de 19 anos, ficou cinco dias sem clube nenhum, segundo seus registros na Confederação Brasileira de Futebol. No dia 9 de setembro, porém, foi contrato pelo Monte Cristo, onde ficou até o dia 11, mesmo dia que foi anunciado pelo São Paulo.

"Não tem ninguém bobinho aqui. O Iago foi para a seleção sub-20, ficou concentrado com o Lucão [jogador do São Paulo]. Se o São Paulo queria o jogador, tinha que ter procurado a gente. Por que não fez isso? Não somos os primeiros a sofrer com isso. Isso chama aliciamento. Eu fico triste de ver que isso ainda acontece", completou Gomes.

Há dois anos, na gestão que ainda era de Juvenal Juvêncio, o São Paulo sofreu um boicote dos outros clubes, que não queriam sua participação em campeonatos da base. A situação só foi resolvida com uma carta enviada pelo então presidente para a Federação Paulista de Futebol, firmando um compromisso de não negociar mais com atletas com menos de 16 anos.

"A gente está aqui trabalhando todos os dias e fica com cara de tapado em um negócio como esse. Parece que somos idiotas de termos liberado um jogador por R$ 400 mil, que depois foi vendido por mais de R$ 2 milhões. É lamentável uma situação como essa. Vamos tomar todas as medidas cabíveis para resolver esse problema", finalizou o gerente do Criciúma.

Procurado, o São Paulo afirma que: "fez uma aquisição junto ao clube Monte Cristo, dentro de todas as normalidades, e que não negociou com empresa" e que "prestará esclarecimento à CBF, e todas as entidades com legitimidade no processo, se solicitado". Há a suspeita de que o negócio infringiu uma regra da Fifa, já que teria havido a participação de terceiros na compra dos direitos econômicos do atleta.

De acordo com o novo regulamento nacional de registro e transferência de atletas de futebol, que seguiu às novas orientações da Fifa, "nenhum clube ou jogador poderá celebrar um contrato com um terceiro por meio do qual este terceiro obtenha o direito de participar, parcial ou integralmente de um valor de transferência pagável em razão da futura transferência dos direitos de registro de um atleta de um clube para outro, ou pelo qual se ceda quaisquer direitos em relação a uma futura transferência ou valor de transferência".

Há menos de uma semana, a Comissão Disciplinar da Fifa sancionou o FC Seraing, da Bélgica, por caso semelhante. O clube foi proibido de registrar jogadores por dois anos e ainda recebeu multa de 150 mil francos suíços (R$ 623 mil). A menor sanção é uma advertência da entidade.

Iago Maidana

Revelado na base do Criciúma, o zagueiro apareceu na equipe profissional no ano passado, nos últimos jogos do Brasileiro. Sem chances de seguir na Série A, o clube colocou jogadores da base em ação para avaliação antes do término de 2014. Ele atuou em 12 partidas, entre Catarinense e Copa do Brasil, e acabou sendo convocado pela seleção sub-20.

No dia 11 de setembro, já com um novo comandante na base do time tricolor, Iago foi anunciado como nova contratação. Ele tinha contrato até junho de 2016, mas saiu no dia 4 de setembro do Criciúma, acertou no dia 9 de setembro com o Monte Cristo, clube da terceira divisão do Goiano, onde ficou até o dia 11. Quem pagou pela rescisão de seu contrato em Santa Catarina foi a empresa Itaquerão Soccer, que foi aberta em 15 de julho. A multa rescisória do garoto pelo contrato com o Monte Cristo era de R$ 50 mil. Mas o valor do negócio foi fechado em R$ 2 milhões, por 60% dos direitos econômicos. Esse valor pode aumentar R$ 400 mil, se ele for usado dez vezes em jogos do profissional.

De acordo com o presidente do Montecristo, Getúlio Getúlio Orlando de Souza, toda negociação foi feita diretamente pela empresa Itaquerão Soccer, tanto do lado do Criciúma quanto do lado do São Paulo. Foi ela quem desembolsou o dinheiro para conseguir a liberação do garoto e também é quem vai receber a maior parte do dinheiro. O Monte Cristo, segundo o dirigente, ficará com R$ 500 mil. Ele admite que a negociação começou antes de Iago deixar o Criciúma. "A negociação já estava toda encaminhada, antes mesmo de ele chegar aqui no Monte Cristo. Mas não sei o motivo de ele ter vindo parar aqui, isso é coisa que os empresários podem explicar", explicou o mandatário.

Itaquerão Soccer

"A gente já desenvolve o trabalho com eles há um tempão. A negociação começou há nove meses. A gente falou com o pai do garoto. O São Paulo era um dos clubes interessados. A gente teve uma proposta forte do Atlético-MG. Quem intermediou no São Paulo foi o Junior Chávare [ex-comandante da base]. O primeiro valor que falamos era mais de R$ 3 milhões, depois caiu para R$ 2 milhões. Não vejo nada de errado no que fizemos. A Fifa permite isso. Não tinha nada certo com o São Paulo antes, se alguém falou isso, é mentira", disse Fernando Moraes, representante da empresa.

O problema é que as regras da Fifa para a participação de terceiros (investidores) em direitos econômicos de jogadores mudaram desde o início deste ano.
A CBF disse que vai apurar o caso e pedir esclarecimentos para todos os envolvidos. Se for provado que os clubes negociaram com empresas, eles poderão ser punidos. O castigo pode ser desde uma multa até o rebaixamento, passando pelo impedimento de novas contratações.


 

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