Crônica: Cuca, o destruidor de tabus, arquiteto de títulos

Thiago Prata
@ThiagoPrata7
15/12/2021 às 22:19.
Atualizado em 29/12/2021 às 00:33
 (Pedro Souza/Atlético)

(Pedro Souza/Atlético)

Pedro Souza/Atlético

No semblante e no discurso, uma mescla de seriedade e anseio em pavimentar um novo caminho para glórias, assim como o fez em sua primeira passagem pelo Atlético, e preocupação com a luta da mãe contra a Covid-19. “Prometo que vou fazer meu máximo como fiz da outra vez que aqui passei. (...) Estou muito feliz de poder voltar, claro que não no momento que estou vivendo hoje, com minha mãe numa situação muito delicada de saúde. Mesmo assim me prontifiquei a vir a trabalhar e dar meu melhor", enfatizava Cuca, no dia 16 de março de 2021, na coletiva de inauguração de sua segunda saga pelo Galo. Dali em diante, de forma gradativa, as tristezas do comandante e o olhar de desconfiança de parte da Massa dariam lugar a celebrações, tendo como tônica um rótulo que marcou o treinador na década passada e voltaria à baila neste ano: o destruidor de tabus.

Após salvar o time do rebaixamento no Brasileirão em 2011, o técnico foi crucial para o clube findar dois hiatos. O primeiro deles, o de passar mais de dez anos sem obter um bicampeonato estadual em sequência. Depois de 1999/2000, o Atlético repetiria a dose com Alexi Stival em 2012/2013. Mas o maior feito se deu em 24 de julho de 2013. Diante de um Mineirão pintado de preto e branco nas arquibancadas e cientes de outros milhões de corações apreensivos, Cuca e o Galo conquistaram a Libertadores de forma épica, encerrando um jejum de quase 42 anos sem um título de grande relevância ao clube.

O tempo passou, e o técnico retornou a BH em 2021 para fazer história novamente. E que história! Daqueles que torciam o nariz para o treinador, magoados pelo fato dele ter aceitado o convite de treinar o Shandong Luneng, mesmo em meio à disputa do Mundial de Clubes de 2013, ganhou o perdão (pelo menos, da maioria). Dos que ainda confiavam em seu trabalho, ouviu os gritos de “eu já sabia”. De todos eles, recebeu agradecimentos pelos títulos que viriam a comemorar nesta temporada.

Responsável por emplacar mais um Mineiro, consolidando um novo bi em sequência (a conquista de 2020 teve Sampaoli à frente do time), algo que não ocorria à agremiação desde que o treinador deixou o Galo, Alexi Stival bateu na trave na Libertadores. Porém, mesmo ali, numa eliminação de uma equipe invicta na competição sul-americana, entoava um discurso positivo. “Quando venho a campo, peço a Deus me dar o que eu mereça, me dar o melhor. Às vezes, a vitória não é o melhor. E você não entende no momento o porquê disso. O porquê está no fim da estrada, está no dia 9 de dezembro”, afirmava ele, referindo-se à data da última rodada do Brasileirão. Só que a explicação para este “porquê” veio uma semana antes do previsto.

Em 2 de dezembro, o Atlético venceu o Bahia, de virada, por 3 a 2, em Salvador, sacramentando o bicampeonato da Série A, depois de 50 anos na fila. Cinquenta anos de gerações de atleticanos que conviveram com o grito de campeão entalado na garganta, mas que, na noite daquela quinta-feira histórica, lavaram a alma com lágrimas de alegria em uma festa que ainda duraria dias. E, para falar a verdade, ainda não acabou.

O ano ainda reservaria a Cuca mais uma quebra de tabu. Na Arena da Baixada, ante o Athletico-PR, nessa quarta-feira (15), o Galo voltou a reinar em uma competição, desta vez na Copa do Brasil, sete anos depois de vencer o torneio pela primeira vez, em 2014.

Um cenário totalmente distinto daquele do dia 16 de março, com a luta da mãe, que venceu a batalha contra a Covid. “Eu vim para o Atlético com ela praticamente... com o médico me dizendo que ela tinha pego uma rua sem saída. Foi difícil largar tudo e vir. E ela hoje está comigo aqui, podendo estar dentro do campo, dar a volta olímpica e ganhar minha medalha, como eu tinha prometido”, disse ele, emocionado, após a conquista do Brasileiro.

E com essa coleção de “bis”, a torcida pede bis para 2022. Ou melhor, pede “tris” (e o bi da Liberta). Quem sabe o destruidor de tabus não constrói uma nova história de sucesso com o Galo no ano que vem?

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