Cruzeiro encanta o país, como em 66 e 2003

Wallace Graciano - Hoje em Dia
13/11/2013 às 23:38.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:09

“Vamos embora, vamos bem ligeiro, rápido e rasteiro, como o ataque do Cruzeiro”. Durante a década de 60, a música “Can Can do Mineirão” traduziu em uma linha o estilo de jogo daquela “academia”, que trocava passes de forma veloz e precisa para envolver seus adversários.

Com o passar do tempo, o  “Rápido e  Rasteiro” se tornou uma marca da Raposa país afora. Enquanto alguns times ficavam no imaginário do torcedor como exemplos de “raça”, o Cruzeiro sempre tinha seu estilo de jogo evocado graças ao futebol envolvente do passado.

E ele foi repetido nesta temporada. Com requintes de classe, o futebol ofensivo dos comandados de Marcelo Oliveira empolgou o país e fez com que muitos relembrassem daquela marchinha. Trocas rápidas em diagonais ditaram a tônica da equipe. Não foi raro ver equipes jogando no Mineirão como se fossem "pequenas", fechadas, tentando achar alguma brecha em meio à rápida movimentação dos jogadores celestes. E falharam miseravelmente.

Em seu tricampeonato Brasileiro, o time estrelado não se limitou a ser o melhor time do país e faturar o caneco ao fim do torneio. Era preciso mostrar um futebol envolvente, que fosse contra a cultura de cada período e ficasse eternizado na memória de quem o acompanhou. Como este ano está vivo, resolvemos resgatar as duas primeiras taças da Raposa, em 1966 e 2003, anos em que a imagem do Cruzeiro resplandeceu como agora.

1966

Naquele ano, o torcedor brasileiro acompanhou aquele que talvez seja o maior Cruzeiro de todos os tempos. O time montado por Airton Moreira, que vinha dominando o cenário estadual, expandiu suas fronteiras ao conquistar a Taça Brasil, único torneio nacional que era disputado no período.

Formado por jogadores jovens, porém talentosos, o Cruzeiro foi superando os grandes campeões de cada estado do país até a grande decisão. Na final, teriam pela frente o Santos, de Pelé, que era o atual campeão da competição.

E foi logo no primeiro jogo da decisão, disputado no Mineirão, que aquele time resplandeceu. Foi direto. Preciso. Mortal. 6 a 2, fora o baile. No jogo da volta, uma placar final de 3 a 2, conquistado após estar perdendo de 2 a 0. Aqueles "sacodes" fizeram com que o Cruzeiro trouxesse para Minas Gerais mais que o caneco da Taça Brasil. Era o orgulho de ter batido justamente o grande time do país do período.

Os comandados de Moreira jogaram tanto por música, que acabaram se eternizando em uma. “Ê, Cruzeiro, você foi campeão do Brasil/ Honrando sua cor azul anil/ Venceu o Santos de Pelé/ Mostrou que é bom, e deu olé/ Ê, Cruzeiro, você traz alegria/ mostrando à massa a sua academia/ Raul na meta/ Procópio e Neco/ William, Pedro Paulo, Piazza e Natal/ Dirceu Lopes, o furacão /e o grande artilheiro Tostão/ Evaldo, que não é de brincadeira/ e lá na ponta corre o Hilton Oliveira”.

 

Tostão e Dirceu Lopes lideravam aquela equipe (Foto: Arquivo HD)

Outro feito daquela equipe foi mudar a geografia do futebol brasileiro. O título nacional deixou nítido que não havia mais espaço somente para os clubes do eixo. Era preciso ir além. A partir daquela conquista, o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, que somente abrigava clubes do Rio de Janeiro e de São Paulo, recebeu equipes de Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Em 1968, o Nordeste já figurava na peleja.

2003

A tão aclamada fórmula por “pontos corridos” seria disputada pela primeira vez. Era uma nova ideologia, um novo campeonato, que premiava não somente a qualidade técnica, mas também a regularidade. E aquele Cruzeiro comandado por Vanderlei Luxemburgo soube misturar os dois.

Poucas vezes o país assistiu uma equipe com tamanho domínio. E olha que a competição era forte. Para faturar o caneco, o Cruzeiro teve vencer a corrida contra boas equipes, como o Santos, então atual campeão do torneio e que contava com sua terceira geração de “Meninos da Vila”. Ainda que tivesse um time que encantava o país graças ao talento de Diego e Robinho, o Peixe não conseguiu ser páreo para a Raposa, que foi líder em 38 das 46 rodadas possíveis.

Alex, o maestro (Foto: Carlos Roberto)

Alex, em um ano que ninguém conseguia pará-lo, foi o maestro de toda a obra. Ele regeu o ritmo de jogo conforme o compasso pedia. Ora era um futebol cadenciado, tentando furar os esquemas bem elaborados dos adversários, ora eram lançamentos rápidos e bolas paradas, contra as “retrancas” que se tornaram costume no Mineirão.

O Cruzeiro mostrou ao país o quanto valia a pena apostar em um planejamento a longo prazo. Outra virtude daquela equipe foi mostrar a importância de um elenco forte, para todas as posições, o que muitos clubes só passaram a perceber durante o torneio, quando não tinham peças de reposição conforme os jogadores ficavam fora de combate.

Por fim, aquele elenco ficou eternizado pela conquista da “Tríplice Coroa”, feito até hoje inédito no país, já que nenhum clube conseguiu faturar o Estadual, a Copa do Brasil e o Brasileiro. O Cruzeiro, até então “copeiro”, se afirmava de vez no cenário nacional ao conquistar um campeonato de forma absoluta.

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