“Pressão da torcida me fez tomar essa decisão”, disse Gilvan sobre demissão de Luxemburgo e Tinoco

Alberto Ribeiro - Hoje em Dia
31/08/2015 às 18:46.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:35
 (Flávio Tavares / Hoje em Dia)

(Flávio Tavares / Hoje em Dia)

“A pressão da torcida nas redes sociais me fez tomar essa decisão”. Foi assim que o presidente do Cruzeiro, Gilvan de Pinho Tavares, explicou a demissão do técnico Vanderlei Luxemburgo e do diretor de futebol, Isaias Tinoco. Nitidamente insatisfeito com o atual momento do clube, que vive um momento tumultuado na temporada, Gilvan revelou que chegou a colocar o cargo à disposição e anunciou ainda que o nome do novo treinador será decidido em conjunto com o novo vice-presidente de futebol do clube, Bruno Vicintin.

Indignado, Gilvan confessou ainda que nunca mais aceita ser presidente do Cruzeiro, após o término do atual mandato, que será em 2017. “Jamais serei único dono da verdade. Chega de membros da imprensa terem algo contra treinador e buscar todo contra ele. Vocês deveriam ver que jogar torcida contra treinador, só piora as coisas. Eu não aceito mais nunca (ser presidente do Cruzeiro). Gente de bem não pode mexer com futebol. Não dá para passar as coisas que passei. Sou ofendido. Vão me ofender, trarão medo para minha família, mas estarei lá. Podem falar contra mim, mas estarei lá. Sou homem de coragem e atitudes”, falou.

Confira a integra da entrevista de Gilvan

Saída de Luxemburgo

"Hoje, eu tive a incumbência como presidente do Cruzeiro e gestor do clube de tomara decisão de conversa com nosso ex-treinador Vanderlei Luxemburgo e com diretor Isaías Tinoco, e expor a eles o fato de que havia uma tendência da torcida de não aceitá-los mais como treinador e diretor do Cruzeiro. Posso confessar que sou dos cruzeirenses que não consegue dormir quando o time perde. Passei mais uma noite acordado. Tenho dormido pouco. Convoquei meus parceiros de diretoria pela manhã"

"Sexta-feira, já havia me encontrado com conselheiros, que foram levar apoio. Hoje não foi diferente. Todos foram à sede administrativa cedinho para mais um dia de solidariedade. Eu disse a eles que a coisa havia tomado um rumo que não entendia direto se parte da imprensa e grande parte da torcida estavam querendo e precisavam da cabeça de alguém, que talvez fosse a do presidente, e estava disposto a deixar a eles essa decisão. Não aceitaram de forma nenhuma”.

"A gente, quando vive tanto e sabe essa repugnância, criada por parte grande da imprensa, muito dificilmente você consegue mudar perfil das pessoas. Tenho ouvido que sou teimoso, velho, que não deveria estar mais no Cruzeiro, como se idade fizesse com que a pessoa não exercesse mais funções. Esses dias, depois de um resultado negativo e de ouvir ofensas no nosso camarote, me chamarem de ladrão... até então era pessoa intocável nessa parte. Não conseguiam um dirigente mais sério que eu, eu saí. Ouvi repórteres dizendo que saí correndo do Mineirão. Ontem, ouvi entrevistados dizerem que é absurdo presidente sair do Mineirão antes do ônibus do time. São coisas que deixam a gente amargurado. Não são derrotas. São as formas de parte da imprensa e rede sociais que deixam a gente e familiares intranquilos. Depois de examinar isso tudo, cheguei à conclusão que fosse melhor me afastar. Esse ódio criado contra um presidente que ganhou dois Brasileiros... mas, você não serve mais, você vira velho, pirracento. Mas não deixaram que eu tomasse essa decisão. As outras pessoas que têm repugnância de grande parte da imprensa eram o treinador e o Isaias Tinoco. O treinador, já conhecia há muito tempo. Poucas vezes, vi um treinador tão dedicado. E sendo acusado de não dar treino. Mas, como Deivid apita o treino, eles falam que é o Deivid que dava o treino"

"Quantas vezes eu vi o Luxemburgo recomendar os jogadores, comandando o treino. Mas, os resultados não vieram, e ele estava sendo acusado de coisas que não fazia. Chega a um ponto desse, não tem como segurar. Acho que não era momento bom para trocar treinador. Mas não podia deixar a coisa continuar dessa forma. Vim para a Toca mais cedo, conversei com ele. Ele entendeu o momento do Cruzeiro. Ele me agradeceu demais, disse que respeitava minha decisão, mesmo porque era pessoa do bem, que não merecia passar por essas coisas aqui no Cruzeiro. Eles nem sequer falaram em multa rescisória. Vanderlei não é mais técnico. Isaias Tinoco não é mais diretor”

Novo treinador e novo vice de futebol, Bruno Vicintin

“Não temos um nome (para treinador). Não é fácil. Conversamos para Deivid e Mello ficarem até termos um nome. Se não contratarmos um treinador, Devid dirigirá o time no domingo. Ele vai nos ajudar. Ele conhece o time. Tomei outra decisão hoje pela manhã de convocar um companheiro que está comigo desde o princípio, que era funcionário na base, que é o Bruno Vicintin. Convidei para ser vice-presidente de futebol, e dividir esse fardo pesado de comandar o Cruzeiro. O treinador, nós vamos estudar um nome, que a gente possa trazer. Já que uma pessoa como o Bruno que é vice-presidente de uma empresa grande como a dele, às vezes ele não pode estar inteiramente à disposição, acompanhando o time, dividirá comigo essa função. Quando ele não puder, eu vou. Ele assumirá o cargo e me ajudará a escolher o nome desse diretor de futebol. Espero que ele agora caia nas graças da imprensa”

Erros da diretoria na temporada

“Te pergunto: onde que a diretoria errou? Não era para vender Everton Ribeiro e Goulart? Na minha opinião, essas duas peças que fazem falta. A imprensa divulga coisas que não sabe. O Marcelo Moreno, disseram que fizemos um desmanche. Não fizemos com Moreno, Egídio, Lucas Silva... sendo que Egídio era jogador do Tombense. O Lucas Silva, já cansei de dizer, não tinha o menor interesse em vender, porque só tínhamos 10%. A pressão foi grande e conseguimos tirar dos investidores quase 40%. Do próprio Lucas Silva, conseguimos que ele cedesse 10%. Demoramos quase um mês para encerrar a negociação. O Everton, foram 15 dias de negociações. Com ele e o empresário exigindo que pagasse a ele o que ganharia ou concordasse com a venda. E contrato estava próximo de se expirar. Não poderíamos perder esses valores. Precisávamos pagar a conta desses dois anos, e desses dois títulos. Quando montamos aquele elenco, não tínhamos dinheiro, contratamos fiado. Já trazíamos dívidas anteriores. Suávamos sangue para pagar a folha de pagamento. Tínhamos folha que poucos clubes tinham. O próprio Nilton, quando saiu, ele consegui liberação do Vasco. Não tínhamos dinheiro para comprar, ele cedeu 50%, mas não tínhamos dinheiro para pagar"

"Chegou um momento que ele e a esposa dele conseguiram uma negociação com Inter, que resolveu pagar mais de 50% que tínhamos e os 50% que devíamos. Com Goulart, foi a mesma coisa. Foram fortunas. Os contratos venceriam. Estavam faltando no Cruzeiro, segundo imprensa, e minha opinião também, esses dois atletas que davam mais consistência ao Cruzeiro, que eram Everton e Goulart. Lucas Silva não era totalmente titular. O Nilton também não. Ele fez cirurgia, que até atrapalhou negociação com a Fiorentina. Não sei o motivo de eu ser o culpado. Evidentemente, as decisões são tomadas pelo presidente. Se ele não achar peças à altura, tem de ser taxado como responsável, mas não de deixar de procurar. O Robinho, quase estivemos com ele aqui, mas uma proposta estrangeira nos impediu, porque não conseguimos chegar nem próximo do que foi oferecido de salário. Tentamos o Cícero, mas existia uma dívida da Unimed com o investidor do Cícero, e ele não conseguiu negociar essa dívida com a Unimed. Então ele retornou ao Fluminense. Tentamos de todas as maneiras trazer o Luca Lima. Era jogador que iria suprir uma dessas lacunas que ficaram. Lutar para cobrir essa falta... não tínhamos dinheiro, como não temos”

Cargos de confiança no Cruzeiro no departamento de futebol.

“Aqui, contávamos com duas pessoas que estão no futebol há muitos anos: Benecy e Valdir Barbosa. Ambos conviveram no setor de futebol há muitos anos. Achei que poderia contar com eles. Tenho conversado com outros presidentes, e sinto que eles têm essa mesma dificuldade. Uma palavra que, às vezes, escapa de um dirigente de futebol pode colocá-lo em dificuldade com a torcida. Alguns são midiáticos, como se todo trabalho fosse deles. o Alexandre Mattos foi uma pessoa que ajudei a formatar no Cruzeiro, porque quando veio não era sequer diretor de futebol do América. Conversei muito antes de trazê-lo, e achei que, com minha experiência, que a gente poderia fazer dele um bom dirigente. E acho que logrei êxito nessa minha empreitada. Hoje, ele é um dirigente muito respeitado, foi para o Palmeiras. Quando ele saiu daqui, fizeram injustiça e disseram que não fiz esforço para mantê-lo. No dia em que ele me comunicou a saída, ele disse que havia vencido o ciclo no Cruzeiro. Ele disse que tinha a esperança de ficar mais próximo da CBF. E a realização dele seria ser diretor da CBF. A mesma coisa aconteceu com o diretor de marketing, fui acusado de não ter me esforçado para segurá-lo. E ele me disse a mesma coisa. Eles não têm no Fluminense esse departamento de marketing, ele foi para montar o departamento de marketing”

Isaías Tinoco

“Confesso que essa parte que foi perguntada sobre falta de diretor, não foi. O diretor foi o Valdir. O outro contratamos. O outro veio por período de experiência, não chegou a assinar contrato. Depois que chegou, ele não teve atividade de contratação para fazer. Ele só ajudou na contratação do Uillian Correia, mas achei ele pessoa muito humilde, e de capacidade de trabalho incrível. Ele enxerga as coisas longe. Mesmo hostilizado, principalmente pelas organizadas, ele teve discernimento e coragem de procurar as torcidas organizadas, que queriam entrar na Toca. Eu disse que na Toca não entravam. Ele marcou um encontro, sem segurança, com toda coragem, expôs os problemas do Cruzeiro. Ele conseguiu colocar a torcida para aplaudir o time, só vaiar depois que o jogo terminou. Mas era uma pessoa que teria muito para ensinar a gente. Ele foi acusado de não ser diretor, ser um membro da base. Ele foi diretor do Flamengo, do Vasco. Quem conviveu com ele, a gente via o tanto que ele é estimado no meio do futebol. Recebia muitas ligações no meio do futebol. Ele estava em um período de experiência. Falamos que só contrataríamos se ele vencesse essa prova. Acho que ele seria útil"

Futuro

“Jamais serei único dono da verdade. Chega de membros da imprensa terem algo contra treinador e buscar todo contra ele. Vocês deveriam ver que jogar torcida contra treinador, só piora as coisas. Eu não aceito mais nunca (ser presidente do Cruzeiro). Gente de bem não pode mexer com futebol. Não dá para passar as coisas que passei. Sou ofendido. Vão me ofender, trarão medo para minha família, mas estarei lá. Podem falar contra mim, mas estarei lá. Sou homem de coragem e atitudes”

Demissão de Marcelo foi um erro?

“A demissão do Marcelo não foi um erro. Ele falou que estava na hora de sair mesmo. Ele mesmo admitiu que perderia o comando. O Marcelo só ficou esse tempo todo porque eu trouxe e banquei aqui. Se dependesse dos outros, ele teria caído em 2013. Eu segurei depois de derrotas na Libertadores, banquei enquanto pude bancar. Mantê-lo foi um acerto do presidente. Fui eu quem trouxe e banquei contra tudo e contra todos. Chegou determinado momento que não dava para segurar”

Novo diretor de futebol

“Hoje, trouxemos outra pessoa para ajudar no departamento de futebol (Bruno Vicintin). Vamos conversar, analisar esse nome (treinador). Não vamos ser precipitados e cometer um erro”

Situação financeira

“Nós não tínhamos dinheiro, mas tínhamos credibilidade. O presidente do Cruzeiro consegue trazer, se buscar investidores. Clube nenhum tem dinheiro. Não existe um clube que tenha dinheiro para fazer isso. Quem consegue trazer é bancado por investidor. E é isso que temos de fazer”

Renovação de Fábio

“Vou dizer o seguinte: o contrato do Fábio vai até o fim de março, não sei por que a imprensa está com pressa. Nós fizemos contraproposta, quem fez foi o presidente. O empresário do Fábio já tem mais de uma semana, 15 dias com essa proposta, e não deu retorno ainda. Oferecemos um bom reajuste, reconhecendo trabalho de longos anos. Agora, quem deve a resposta é o empresário dele”

O que motivou a saída do Luxemburgo

“Perder do Palmeiras e do Santos... futebol, você vive de resultados. Se tivéssemos ganho, ninguém pediria cabeça de ele (Luxemburgo). Foi isso que aconteceu. Ele entendeu. Ele enxergou que a diretoria tinha de tomar essa atitude, porque futebol vive de resultados. Presidente não pode ficar à mercê disso tudo se resultados não vêm"

“O Luxemburgo já era quase imposição que tinha de muita gente. Recebia muitos emails pedindo a contratação dele. O mesmo tanto que recebi para tirá-lo. A torcida vive de resultados. Não foi nada de afogadilho, porque, assim que acertamos com o Marcelo a saída dele, procuramos o Vanderlei Luxemburgo. Foi rápido, mas não impensado”

Torcida

“Fui torcedor antes de ser presidente. Também fico morrendo de raiva quando a jogada não sai da forma correta. Também fico com raiva. Mas, com idade que tenho e tempo na direção do Cruzeiro, a gente engole essas coisas. Mas já xinguei muito. Entendo a reação da torcida. A gente sabe que não dá para engolir e ficar calado. Tenho de enaltecer o comportamento da torcida, que não foi tão grande no domingo, mas tiveram comportamento nota 10 no domingo. Agora, tem de aprender a comportar num momento crítico como esse. Tem de apoiar e não xingar. Espera o resultado primeiro. Fazer pressão sobre jogador na porta da Toca não fará jogador render mais. Eles estão preocupados. A gente vê a vontade deles de fazer o melhor. Uma hora é um que escorrega, outro falha na bola. A torcida tem de ajudar a melhorar, não trazer intraquilidade, que gera essas falhas. Acho está na hora de eles vestirem a camisa. O presidente é um cargo passageiro, mas o clube continuará. É preciso que eles joguem com o clube. Já conversei hoje com pessoal do Cruzeiro sobre preço dos ingressos. Vamos colocar preço bem mais barato, para colocar a torcida bem grande no domingo”

Muricy e Mano Menezes

“O momento para contratar treinador é muito difícil. Todos estão empregados. Tem dois de ponta que não dirigem clubes atualmente. Os dois já negaram diversos convites de clubes. Não sei se eles poderiam mudar de ideia. A gente tem de trazer um treinador que possa desenvolver um trabalho numa grande equipe como Cruzeiro. A camisa não pesa apenas em jogadores inexperientes. Pesa também em treinadores com menos experiência. Temos de pensar. Esses dois, Muricy e Mano Menezes, são treinadores de ponta que não estão dirigindo nenhuma equipe, mas já vimos pela imprensa que eles não querem dirigir clubes este ano. Sei que Muricy negou convite do Internacional. Não vejo com facilidade a chance de eles aceitarem convite do Cruzeiro”

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por