Rápido e rasteiro, Cruzeiro volta a encantar o país com bom futebol

Wallace Graciano - Hoje em Dia
23/11/2014 às 16:35.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:08
 (Luiz Costa)

(Luiz Costa)

Durante a década de 1960, a música “Can Can do Mineirão” embalou uma Raposa que encantou o país através de toques rápidos e precisos. Sob os versos de “vamos embora, vamos bem ligeiro, rápido e rasteiro, como o ataque do Cruzeiro”, a torcida traduziu das arquibancadas o futebol praticado por Tostão, Dirceu Lopes e companhia, que deram à Raposa seu primeiro título nacional, em 1966.   Com o passar do tempo, esse estilo se jogo se tornou referência quando se tratava do Cruzeiro. Era uma marca. Enquanto alguns clubes têm na raça uma virtude enraizada, não é difícil encontrar um torcedor da Raposa ou de qualquer outro adversário que associe ao time estrelado o futebol bem ao estilo “academia”.   E essa marca se tornou presente nos outros três esquadrões que conquistaram o Brasileirão para a Raposa. Tanto em 2003, quanto no bicampeonato de 2013/14, o que se viu foram times que não se limitaram a apenas a faturar o caneco ao fim do torneio. Todos eles mostraram um futebol envolvente, baseado na técnica, resgatando um pouco daquela equipe que bateu o Santos, de Pelé.   Mais que faturar o caneco, se tornar referência pelo bom futebol enche de orgulho qualquer torcedor do Cruzeiro. E que tal relembrar um pouco de cada um desses esquadrões que encantaram o país?   1966: sob música   Até aquele ano, o futebol praticamente se resumia ao Eixo Rio-São Paulo. Não à toa, o Brasil inteiro foi surpreendido por um grupo de jovens atletas, comandado por Aymoré Moreira, que já havia dominado Minas Gerais e agora prometiam conquistar o país, mesmo tendo pelo frente o poderoso Santos, de Pelé.   E foi logo no primeiro jogo da decisão, disputado no Mineirão, que aquele time resplandeceu. Foi direto. Preciso. Mortal. 6 a 2, fora o baile. No jogo da volta, uma placar final de 3 a 2, conquistado após estar perdendo de 2 a 0. Aqueles "sacodes" fizeram com que o Cruzeiro trouxesse para Minas Gerais mais que o caneco da Taça Brasil. Era o orgulho de ter batido justamente o grande time do país do período.

 

Tostão e Dirceu Lopes lideravam aquela equipe (Foto: Arquivo HD)

Encantado por aquele futebol, Nelson Rodrigues não poupou elogios a Tostão e companhia na edição de 9 de dezembro de 1996 do Jornal dos Sports. “Depois da vergonha e da frustração da Copa do Mundo, nenhum acontecimento teve a importância e a transcendência da vitória de anteontem. Por outro lado, não foi só a beleza da partida, ou seu dramatismo incomparável. É preciso destacar o nobre feito épico que torna inesquecível o feito do Cruzeiro. Não tenhamos medo de fazer a sóbria justiça: aí está, repito, o maior time do mundo”. Os comandados de Moreira jogaram tanto por música, que acabaram se eternizando em uma.   “Ê, Cruzeiro, você foi campeão do Brasil Honrando sua cor azul anil Venceu o Santos de Pelé Mostrou que é bom e deu olé Ê, Cruzeiro, você traz alegria Mostrando à massa a sua academia Raul na meta Procópio e Neco William, Pedro Paulo, Piazza e Natal Dirceu Lopes, o furacão E o grande artilheiro Tostão Evaldo, que não é de brincadeira E lá na ponta corre o Hilton Oliveira"   Outro feito daquela equipe foi mudar a geografia do futebol brasileiro. O título nacional deixou nítido que não havia mais espaço somente para os clubes do eixo. Era preciso ir além. A partir daquela conquista, o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, que somente abrigava clubes do Rio de Janeiro e de São Paulo, recebeu equipes de Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Em 1968, o Nordeste já figurava na peleja.   2003: Tríplice Coroa   A tão aclamada fórmula por “pontos corridos” seria disputada pela primeira vez. Era uma nova ideologia, um novo campeonato, que premiava não somente a qualidade técnica, mas também a regularidade. E aquele Cruzeiro comandado por Vanderlei Luxemburgo soube misturar os dois.   Poucas vezes o país assistiu uma equipe com tamanho domínio. E olha que a competição era forte. Para faturar o caneco, o Cruzeiro teve vencer a corrida contra boas equipes, como o Santos, então atual campeão do torneio e que contava com sua terceira geração de “Meninos da Vila”. Ainda que tivesse um time que encantava o país graças ao talento de Diego e Robinho, o Peixe não conseguiu ser páreo para a Raposa, que foi líder em 38 das 46 rodadas possíveis.   Alex, em um ano que ninguém conseguiu pará-lo, foi o maestro de toda a obra. Ele regeu o ritmo de jogo conforme o compasso pedia. Ora era um futebol cadenciado, tentando furar os esquemas bem elaborados dos adversários, ora eram lançamentos rápidos e bolas paradas, contra as “retrancas” que se tornaram costume no Mineirão.

Alex, o maestro (Foto: Carlos Roberto)

  O Cruzeiro mostrou ao país o quanto valia a pena apostar em um planejamento a longo prazo. Outra virtude daquela equipe foi mostrar a importância de um elenco forte, para todas as posições, o que muitos clubes só passaram a perceber durante o torneio, quando não tinham peças de reposição conforme os jogadores ficavam fora de combate.   Por fim, aquele elenco ficou eternizado pela conquista da “Tríplice Coroa”, feito até hoje inédito no país, já que nenhum clube conseguiu faturar o Estadual, a Copa do Brasil e o Brasileiro. O Cruzeiro, até então “copeiro”, se afirmava de vez no cenário nacional ao conquistar um campeonato de forma absoluta.   2013/14: Bicampeonato   Tal qual o time montado por Vanderlei Luxemburgo, o esquadrão de 2013/14, responsável pelo primeiro bicampeonato da Raposa, o Cruzeiro escreveu páginas heroicas e imortais graças a um elenco forte, que não deixou de lado a qualidade técnico.   Esse, porém, tinha um pequeno diferencial. Ao contrário do passado, em que bons jogadores sempre tinham craques fora de série, o Cruzeiro de Marcelo Oliveira se sobressaiu por um ter um coletivo forte, com peças de qualidade do goleiro ao centroavante.   Assim, nesses dois últimos anos, os comandos de Marcelo Oliveira conseguiram dominar o país graças ao bom futebol praticado mesmo em momentos de oscilação pelo desgaste físico.  

Elenco tricampeão não fugiu da tônica (Foto: Eduardo Martins/Agência A Tarde/Estadão Conteúdo)   Com os passes precisos de Henrique e Lucas Silva, a boa visão de jogo e imprevisibilidade de Ricardo Goulart, a técnica refinada de Everton Ribeiro e as descidas fulminantes de Willian, Alisson, Mayke e Egídio, o ataque do Cruzeiro fez com que muitos relembrassem os esquadrões do passado.   Mesmo com pequenas oscilações ao longo dos dois anos, o Cruzeiro de Marcelo Oliveira conquistou o bicampeonato de forma absoluta. Com um estilo de jogo baseado em saídas de jogo em velocidade, com passes precisos em diagonal e movimentação constante, poucas equipes conseguiram conter o poder de fogo da Raposa.  

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