Um clube que já vinha sendo admirado pelos feitos dentro de campo nas últimas temporadas e, agora, certamente contará com uma simpatia ainda maior entre os demais torcedores sul-americanos.
Com ou sem o troféu, o Atlético Nacional de Medellín sai da Copa Sul-Americana de 2016 engrandecido pela postura adotada após a tragédia com o voo da Chapecoense. Os dois times começariam a decidir o título ontem à noite na Colômbia.
A diretoria verdolaga convocou torcedores – inclusive rivais e estrangeiros – para uma grande vigília no estádio Atanasio Girardot, no horário marcado para o jogo de ida. Com lotação máxima no local, o clube ainda disponibilizou telões em duas grandes praças da cidade, para um público estimado em 100 mil pessoas. A cerimônia teve repercussão internacional e já pode ser considerada histórica.
Poucas horas após a confirmação da tragédia, na terça-feira (29), os atuais campeões da Copa Libertadores já haviam solicitado à Conmebol que confirmasse o título da Sul-Americana para a Chape, por decisão unânime dos próprios jogadores. A entidade ainda não se pronunciou.
Desde as primeiras notícias do acidente, o clube se mobilizou de diversas maneiras para homenagear as vítimas e auxiliar os familiares, bem como as autoridades públicas. A primeira manifestação aconteceu às 3h49, pelo Twitter, com uma mensagem de pesar.
Logo depois de convocar a vigília, ainda na manhã de terça, o clube disponibilizou telefones para dar informações aos familiares e amigos das vítimas. E criou também uma campanha com o slogan “Neste momento não há cores”, pedindo doações de sangue para o Hospital San Vicente e a clínica Somer, onde foram internados os sobreviventes.
Além disso, foram muitas as homenagens nas redes sociais. “Nunca esqueceremos o seu legado de campeão. Obrigado por atrever-se a sonhar como os grandes. Isto é a grandeza”, afirma uma das mensagens. As atitudes contaminaram a torcida alviverde, que criou até uma música para os brasileiros: “Que se escute por todo o continente, que sempre lembraremos a campeã Chapecoense”.
De Pablo Escobar a Carlos Lülle
Clube mais popular da Colômbia, o Atlético Nacional vai aos poucos tentando se descolar da imagem negativa ligada ao narcotraficante Pablo Escobar, morto em 1993. Tema de diversos livros e documentários, como “Dois Escobares” (2010), tal relação até hoje é um tabu entre os torcedores do time e causa provocações de rivais.
Os quase 11 milhões de adeptos representam um número três vezes maior que a própria população de Medellín. Tamanha popularidade foi impulsionada na década de 80, sob forte suspeita do apoio direto do Cartel, período que culminou com a conquista da primeira Libertadores do país, em 1989.
Recebi ligações do mundo todo pelos gestos do clube e a decisão de entregar a taça. É um exemplo de nível local e internacional”
Federico Gutiérrez Zuluaga, prefeito de Medellin
Diversas denúncias davam conta de que a conquista teve a influência direta das ameaças e subornos de Escobar a jogadores e árbitros. Torcedor do arquirrival Independiente, o traficante mais poderoso do mundo viu no sucesso dos grandes clubes da cidade um caminho para a entrada na vida política e também para a lavagem de dinheiro dos negócios ilegais.
As suspeitas também recaíam sobre o Cartel de Cali e o América, principal potência futebolística do país na época e três vezes finalista da Libertadores entre 1985 e 1987. As investigações e o assassinato de um árbitro em 1989 levaram a Fifa a suspender o campeonato nacional.
A reconstrução do Atlético e do futebol nacional começou em 1996, quando o clube foi vendido para a organização encabeçada pelo multimilionário Carlos Ardila Lülle. Dono de redes de mídia e empresas de diversos setores, o grupo também detém a marca de bebidas Postobón, patrocinadora master do Nacional e outros grandes clubes, bem como do Campeonato Colombiano e da Copa da Colômbia.
Com o maior poderio financeiro do país (cerca de R$ 85 milhões anuais) e gestão profissional, o Nacional conquistou 17 títulos no período, com destaque para o bicampeonato da Libertadores em 2016, nove campeonatos nacionais e três Copas da Colômbia, além de dois vices da Copa Sul-Americana (2002 e 2014).
Com novos admiradores espalhados pelo planeta após a tragédia, o time colombiano será o representante da América do Sul no Mundial de Clubes da Fifa, no Japão. A estreia será no dia 14 de dezembro, contra adversário ainda não definido, pela semifinal do torneio.