Dirigente não assegura árbitro mineiro na final

Henrique André
Hoje em Dia - Belo Horizonte
22/02/2015 às 10:08.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:06
 (Frederico Haikal/Hoje em Dia)

(Frederico Haikal/Hoje em Dia)

Entre as mais de cem partidas que apitou pela Série A do Campeonato Brasileiro, destaque para o jogo no qual assinalou o pênalti que resultou no milésimo gol de Romário – Vasco x Sport, pelo Campeonato Brasileiro de 2007. Giuliano Bozzano, porém, teve de parar cedo, com apenas 33 anos de idade, por conta de uma lesão no calcanhar.   Hoje, aos 37 , além de diretor jurídico da Associação Nacional dos Árbitros de Futebol (Anaf), é presidente da comissão de arbitragem da Federação Mineira de Futebol (FMF), posto para o qual foi contratado por Castellar Neto, dirigente da entidade. Com respaldo financeiro para promover mudanças e melhorar o nível da arbitragem no estado, Bozzano concedeu entrevista exclusiva ao Hoje em Dia. na qual falou das primeiras medidas, dos planos e da impossibilidade de assegurar desde já que um árbitro mineiro apitará a final do Estadual 2015.   A FMF trata a arbitragem como uma bandeira. Criou um repasse para investir na melhoria dela e contratou você. Quais medidas práticas já foram tomadas para melhorar o nível? Cortei três árbitros que eu não via no perfil da profissão. Acho que o árbitro tem que ser exemplo de honestidade para sociedade em tudo que ele faz. Procurei estabelecer um perfil de cidadão honesto e respeitado por todos. Também estabelecemos a corregedoria e a ouvidoria da comissão. A primeira serve para que qualquer cidadão possa mandar um e-mail para a Federação para falar sobre comportamentos (extra-campo) inadequados dos árbitros. A denúncia será analisada, e, se for procedente, o árbitro poderá ser eliminado do nosso quadro. Já a ouvidoria é um canal do clube. Ele nos manda os lances para serem analisados e assim damos uma satisfação, mostrando porque o árbitro errou. Queremos acabar com esta imagem de que o árbitro erra para perseguir determinado clube. São seres humanos.   Quem foram os árbitros demitidos por você? Os nomes não posso citar. É algo subjetivo e se eu revelar quem são, posso prejudicar a mim e a você (repórter). Eu, por ser responsável pela fala, e você, solidário por veicular algo que pode denegrir a imagem dos envolvidos.    O Ricardo Marques Ribeiro ganhou como melhor árbitro do Brasileirão 2014 e recebeu o Troféu Guará, maior premiação do futebol mineiro. Por que ele não apita um Atlético x Cruzeiro? Os clubes vetam árbitros? A questão do Ricardo é pessoal. Ele é funcionário do Tribunal de Justiça de Minas Gerais e trabalha com o desembargador Wanderley Paiva, que é ligado ao Cruzeiro. Foi um veto do próprio Ricardo em não participar na final da Copa do Brasil. Ele analisou a situação e optou em não trabalhar. Pelo menos foi o que ele falou à CBF, justificando questões de cunho pessoal.    Quem escolherá os árbitros das semifinais e final do Módulo I de 2015? Os clubes ou a FMF? É possível adiantar que árbitros mineiros vão comandar as partidas? Eu gostaria que fossem árbitros mineiros atuando na fase final da competição. Para que eu converse sobre isso com o presidente Castellar – pois é ele quem decide isso – tenho que mostrar um parecer positivo do histórico dos nossos árbitros na primeira fase. Espero que eles atuem bem neste início para que possam ser mantidos. Se tivermos um acidente de percurso, eu mesmo posso achar que não há clima para tal.   A Federação vai intensificar os cursos para novos árbitros? Existe projeto em vigor para despertar o interesses de novos “recrutas”? Minas é um estado muito grande. A formação de árbitros hoje está restrita a Belo Horizonte. Pretendo tirar isso da capital e ir para outras cidades. A ideia é ter três outros pontos para formar e treinar árbitros. É um projeto em parceria com a Escola Mineira de Futebol para que tenhamos postos avançados, para que Minas evolua mais neste quesito.   A arbitragem no Brasil ainda é amadora, já que não se trata de uma profissão regulamentada. Isso não é um atraso? Como profissionalizar a classe? Isso ainda é uma realidade distante? Apesar de já termos a lei de profissionalização, não temos uma regulamentação para que ela entre em vigor. O tamanho do nosso país é um obstáculo. Na Argentina, por exemplo, já existe árbitros com carteira assinada. Trata-se de um país com território menor e isso facilita na organização. As federações não podem cuidar sozinhas, porque envolve um alto custo. Algumas conseguiriam e outras, não. Acho que temos um caminho muito longo para que isso (profissionalização) aconteça.   A comissão de arbitragem já arrecadou cerca de R$ 45 mil nas três primeiras rodadas do Estadual. Qual o destino deste dinheiro? Solicitei ao presidente Castellar que nos adiantasse cerca de R$ 170 mil para a compra de seis pontos eletrônicos, usados nas principais competições internacionais, para que os árbitros tenham uma melhor comunicação e atuação. Estes R$ 45 mil são parte da nossa “dívida” com o presidente.    Quanto recebe um árbitro por partida oficial da CBF? E da Fifa? Numa Libertadores, o árbitro ganha líquido 1.200 dólares . Numa eliminatória, ele ganha 500 dólares por dia, durante 4 dias. Numa competição da CBF, um árbitro Fifa ganha 3,5 mil reais por partida, e um CBF ganha 2,5 mil reais.   O Ricardo Marques Ribeiro foi acusado pelo meia Paulo Henrique Ganso de “roubar” do São Paulo no jogo de quarta-feira passada contra o Corinthians, pela Libertadores. Alguma atitude será tomada contra o atleta? O jogador será processado. Ouvir ofensas da torcida não afeta. A partir do momento que alguém ligado ao futebol usa um órgão de imprensa para atacar o árbitro, chamando-lhe de ladrão ou dizendo que aquilo foi um roubo, isso não é aceito. Eu sempre processei quem ofendeu a minha honra e me chamou de ladrão. Não o torcedor, mas quem usa a imprensa para tal.   O mesmo aconteceu com o chargista mineiro Duke. Em 2010, nas semifinais do Campeonato Mineiro, entre Cruzeiro x Ipatinga, ele usou o termo “assalto” ao Ipatinga e foi processado pelo Ricardo. Por quê? O chargista Duke, quando trouxe a informação de que a arbitragem do Ricardo naquele jogo merecia ser analisada pela polícia, informou ao leitor que aquela arbitragem foi ilícita. O árbitro foi chamado de ladrão. Quando isso vai para um jornal, muitas pessoas são atingidas e quem não está acostumado com os jargões da futebol, acaba levando o termo ladrão no sentido literal.   Dois processos do Ricardo Marques, um contra o chargista Duke e outro contra a Rede TV, foram julgados por Wanderley Paiva, chefe do Ricardo no TJMG. Não é antiético? Não foi o Dr. Wanderley que julgou esses casos. Ele falou que não teria condições de julgar algo que um funcionário estivesse envolvido.   Neste futebol moderno, qual é o tipo de lance que vem complicando mais para a arbitragem? O grande problema da arbitragem hoje é o impedimento. É um lance objetivo e a tecnologia que a imprensa tem para falar se foi ou não, vai contra o olho humano, que não consegue tal precisão. Foge da capacidade humana, mesmo quando o árbitro está bem posicionado.   Por que a Fifa é tão resistente ao uso da tecnologia no futebol, como o replay, utilizado no tênis?  Sou a favor de tudo que sirva para facilitar a vida da arbitragem. Não vejo resistência por parte da Fifa. Ela usou a tecnologia do gol durante a Copa do Mundo. Acredito que o que mais dificulta atualmente é o alto custo para implementar mais tecnologias.   A lista de árbitros e assistentes internacionais do Brasil é muito equilibrada, com todas as regiões do país participando. Existe mesmo um equilíbrio técnico na arbitragem brasileira ou isso se deve a uma questão política? Acho que o Brasil tem excelentes árbitros e a lista é realmente equilibrada. É uma questão sazonal. São safras de árbitros. Você terá safras melhores em determinados estados e piores em outros. São condições temporais.   O que você pensa sobre os comentaristas de arbitragem na televisão?  Eu louvo a imprensa. Nosso país hoje é democrático por causa dela. Sobre os ex-árbitros que comentam futebol na TV, acredito que façam um papel importantíssimo. Os que temos hoje são equilibrados e tiram nossos árbitros de uma zona de conforto. Com os comentários, os profissionais evitam outros erros e os equívocos.    O senhor é chefe de árbitros em Minas e também atua como advogado de alguns deles na esfera judicial. Não há um conflito ético nisso? Continuo como diretor jurídico da Anaf. Se acontecer algum tipo de situação que eu me veja impedido, outro advogado assumirá o meu lugar. Neste momento não vejo motivos para sair. Um caso específico seria processar algum jogador que atue em Minas Gerais. Isso eu não faria.

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