Dirigentes do Cruzeiro e especialistas divergem sobre S/A; Presidente confia na ressurreição celeste

Guilherme Piu
@guilhermepiu
01/08/2020 às 00:31.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:10
 (Guilherme Piu)

(Guilherme Piu)

Guilherme Piu  

 Empresas de renome mundial e que analisam a situação financeira do futebol brasileiro apontam que o Cruzeiro deveria "começar do zero", mudar seu modelo de gestão do associativo sem fins lucrativos para S/A. Ou seja, especialistas entendem que a salvação da Raposa, que tem mais de R$ 800 milhões em dívidas, passivo trabalhista enorme e dívidas tributárias quase na casa dos R$ 330 milhões, precisa se transformar em clube empresa.

Vários raios-x foram feitos por grandes consultorias, como a EY (Ernst & Young) e o Itaú BBA. Ambos apontaram dificuldades de o clube se "manter vivo" no modelo de gestão atual por causa da inviabilidade econômica, devido aos bloqueios judiciais e dividas de urgência.

Mas o presidente Sérgio Santos Rodrigues entende o contrário. O dirigente defende que o clube ainda é viável mesmo com o cenário totalmente desfavorável do ponto de vista financeiro. E que o trabalho da atual gestão será buscar, justamente, inverter esse quadro ruim.

"A situação é difícil, mas o Cruzeiro sempre vai ser maior que seus problemas. Aliás, eu vi soltando negócio de banco e banco falando que está no fundo do poço, mas ninguém fez análise de como nós podemos monetizar de forma diferente, uma análise de quanto vale nosso elenco, do que podemos fazer com os nossos imóveis. É por isso que eu discordo de quem é teórico e na prática analisa friamente os números", analisou na "Live do Presidente" da última quinta-feira. 

Estudos

Na última semana, o Itaú BBA publicou um estudo apurado de mais de 300 páginas com um diagnóstico completo dos clubes nacionais. A análise do Cruzeiro feita pelo banco cita que "a corda estourou e o abismo é fundo".

O estudo do braço de investimento do Itaú Unibanco sobre o Cruzeiro, tendo em vista o balanço fiscal de 2019, aponta também: “geração de caixa muito ruim e negativa nas duas medidas, por força da combinação entre menor receita e maior custo. Mas veja, este já era um comportamento usual ao longo dos últimos 6 anos. Portanto, não devemos tratar como novidade”, diz o estudo.

Em entrevista recente à revista Placar, o diretor executivo da EY, Pedro Daniel, falou sobre a situação atual do Cruzeiro.  "Viável ou inviável depende da geração de caixa. O que agrava o caso do Cruzeiro é que ele sai da Série A para a Série B, tem queda de receita muito forte, e não consegue cortar as despesas na mesma velocidade", disse em entrevista publicada na edição de junho da publicação do Grupo Abril.

Explicações do presidente

Também em entrevista à Placar do mês de junho o presidente do Cruzeiro falou sobre o clube deixar de figurar como associação sem fins lucrativos e migrar para o modelo de clube empresa. 
"É preciso aprovar estatutariamente a mudança para S/A e o simples fato de implementá-la não resolveria os nossos problemas. A adoção da falência não seria permitida pela natureza jurídica do Cruzeiro. Falência e recuperação judicial não seriam saídas, até porque não atingiríamos os nossos créditos perigosos que estão na Fifa", explicou o presidente. 

Entendimento de advogados

Essa alteração no modelo de gestão do Cruzeiro também foi comentada pelo superintendente jurídico Flávio Boson Gambogi. Na opinião dele, no ponto de vista tributário, não seria interessante para o clube se tornar um clube empresa.

"Do ponto de vista tributário, na legislação atual, se transformar em S/A, por exemplo, você deixa de ter todos os benefícios fiscais que hoje socorrem uma associação civil sem fins lucrativos como é o Cruzeiro, que tem muitas regalias do ponto de vista tributário. (...) Eu digo que é algo que tem que ser colocado no papel, se estudar e se aprofundar numa decisão que não é do jurídico, é de gestão e engloba toda a diretoria do Cruzeiro, todo o Conselho", frisou durante coletiva para explicar dívidas fiscais da Raposa. 

O tributarista João Paulo de Almeida Melo, que trabalha para o clube na ação que tenta recolocar o Cruzeiro no Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut), também analisa a mudança no modelo de gestão como "desinteressante" do ponto de vista tributário. 

"É uma questão política, de decisão estratégica que passa pela gestão. O Cruzeiro é isento de IRPJ, isento de Cofins, de CSLL, o PIS é sobre a folha (impostos). Então, no aspecto tributário em termos de arrecadação, eu posso dizer que a permanência como associação sem fins lucrativos, como é, abre espaço neste momento para essa isenção e podemos prospectar para o futuro de trabalhar para vir a ser uma imunidade tributária. (...) A conversão para S/A ou não é uma questão política de gestão que não me sinto apto, nem habilitado ara falar. Em matéria tributária a ponderação que faço é essa, com assertiva para que no aspecto tributário a conversão para empresa é desinteressante", pontua. 

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