Em milagre em meio a tragédia, goleiro sobrevive a desabamento de ponte na Itália

Estadão Conteúdo
15/08/2018 às 10:50.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:56
 (AFP)

(AFP)

Na última terça-feira, a ponte Morandi, em Gênova, na Itália, despencou e deixou ao menos 39 mortos no colapso. No local do acidente estava o goleiro Davide Capello, ex-atleta do Cagliari e que atualmente joga pelo Legino Calcio, clube amador da cidade da região da Ligúria.

"Devo ter caído uns 20 metros, meu carro ficou destruído. Eu consegui descer e telefonar para os bombeiros, depois liguei para minha família. Foi chocante. Sinto que nasci de novo. Fui tocado por um milagre", desabafou o jogador de 36 anos em entrevista ao jornal italiano La Repubblica.

"Estava passando pela ponte quando, num certo ponto, vi a estrada à minha frente colapsar. Eu também caí. Fiquei preso com o carro em ferragens e por isso não despenquei", contou o goleiro ao canal de TV italiano Sky Tg24.

Davide Capello também descreveu que não se lembra de ter visto um raio ou algo atingir a ponte, mas que no momento do acidente chovia bastante. "Só tenho uma memória na cabeça: a estrada a cair", afirmou o goleiro italiano.

Resgate

Trabalhando com equipamentos pesados, as equipes de resgate escalaram os pedaços de concreto com cães farejadores durante toda a noite e seguiram no início do dia, em busca de sobreviventes ou corpos. Segundo Borrelli, mais de 1.000 atendentes de emergência estão no local. Enquanto isso, investigadores trabalham para determinar de quem é a responsabilidade pela tragédia.

A ponte, de 1967, foi considerada inovadora à época de sua inauguração pelo uso de concreto ao redor dos cabos, mas uma reforma era necessária, especialmente porque o tráfego sobre a estrutura estava mais pesado do que os projetistas inicialmente previram.

O especialista Antonio Brencich, da Universidade de Gênova, havia anteriormente chamado a ponte de "falha de engenharia".

Uma mulher cuja identidade não foi divulgada disse que estava em pé, abaixo da ponte, e a estrutura desmoronou como se fosse um monte de farinha. Especialistas em engenharia, observando que a ponte tinha 51 anos, disseram que a corrosão e o clima podem ter influenciado em seu colapso.

A sociedade italiana de engenharia CNR disse que estruturas que datam da época em que a Ponte Morandi foi construída já ultrapassaram seu tempo de vida útil. O grupo pediu um "Plano Marshall" para reparar ou substituir dezenas de milhares de pontes e viadutos construídos nos anos 1950 e 1960. Além disso, a CNR afirmou que simplesmente atualizar ou reforçar as pontes seria mais caro do que destruí-las e reconstruí-las com nova tecnologia.

Mehdi Kashani, professor associado em mecânica estrutural na Universidade de Southampton, no Reino Unido, disse que a pressão de "cargas dinâmicas", como tráfego pesado ou ventos fortes, podem ter causado danos em partes da ponte.

O ministro italiano dos Transportes e Infraestrutura, Danilo Toninelli, disse que há um plano pendente de gastos na casa dos 20 milhões de euros em licitações para trabalhos de segurança significativos na ponte.

Embora a causa do desabamento ainda não tenha sido determinada, disputas políticas se intensificaram ao redor da questão. Toninelli, populista do Movimento 5 Estrelas, usou o Facebook para a ameaçar que o Estado, se necessário, assumiria o controle direto da empreiteira responsável pela ponte se a empresa não puder cuidar adequadamente das estradas e pontes pelas quais é responsável.

A rádio estatal italiana informou que alguns legisladores do 5 Estrelas questionaram em 2013 a sensatez de um programa ambicioso e caro para a reforma da infraestrutura, considerando um possível desperdício. No site do partido, o texto que falava sobre o assunto foi removido na terça-feira, após o acidente.

Poucas horas depois do colapso, o ministro Salvini tentou tirar a culpa do novo governo populista do país, prometendo não deixar que a União Europeia (UE) pare os esforços para tornar segura a infraestrutura do país. O bloco atualmente enfrenta sobrecarga com dívidas públicas.

Gênova é uma cidade propensa a enchentes e autoridades alertaram que os destroços do desmoronamento devem ser removidos o mais rápido possível. Alguns dos pedaços da ponte caíram no leito seco de um rio que pode inundar quando a estação chuvosa recomeçar, em poucas semanas.

No Vaticano, o papa Francisco fez preces pelas vítimas do acidente. Falando a fiéis na Praça de São Pedro, o pontífice expressou "proximidade espiritual" com as vítimas, os feridos e suas famílias, além das centenas de pessoas que foram forçadas a sair de suas casas na área do desmoronamento.

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