Especialista contesta estudo sobre 4 melhores clubes do Brasil e indica como melhorar análise

Da Redação*
06/04/2019 às 16:20.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:07
 (Reprodução/Sportv)

(Reprodução/Sportv)

Quais os maiores clubes do Brasil? Essa pergunta gerou uma resposta polêmica nesta semana, quando o jornalista Rodrigo Capelo, no programa “Acabou a Brincadeira”, do canal fechado Sportv, usou uma metodologia própria, balizada por indicadores considerados por ele adequados para definir que Corinthians, São Paulo, Flamengo e Palmeiras seriam hoje os grandes “bam-bam-bans” do futebol brasileiro.

Entretanto, essa pesquisa condiz mesmo com a realidade do esporte mais popular do País? De fato são esses quatro clubes, três de São Paulo e um do Rio de Janeiro, os maiores do Brasil?

O Hoje em Dia buscou explicações com um especialista em gestão. Júlio Reis, da empresa Smart Valor, que apontou qual foi o equívoco cometido por Capelo e apresenta estratégias para se definir com mais exatidão quais os maiores clubes do Brasil.

“Ele falou que a análise dele foi por competitividade, mas na verdade fez pela capacidade de investimento e tamanho da torcida. Capacidade de investimento é algo que demanda cuidado. Capacidade de investimento tem relação não com o tamanho do clube, mas sim com a gestão. O Flamengo ficou muito tempo sem capacidade de investimento por má gestão. O Flamengo foi pequeno nesse período? Não foi pequeno! O Palmeiras ficou muito tempo sem capacidade de investimento, ele foi pequeno nesse período? Não foi! Por outro lado, o próprio Palmeiras está em capacidade de investimento acima de seu potencial, seu tamanho, tamanho de sua torcida. Significa que isso o torna suprassumo? Não, isso é pontual. A Crefisa sai do clube e isso modifica. O Juventude já foi patrocinado pela Parmalat, quer dizer, chega uma empresa e investe uma carga financeira muito grande em um time menor e esse time passa a ser grande, porque ele tem capacidade de investimento? É totalmente equivocado esse critério”, analisa.Reprodução/Sportv 


​Como encontrar resultado mais real?

Júlio Reis aponta quais seriam os indicadores para, de forma mais empírica e objetiva, chegar a uma decisão sobre a grandeza dos clubes nacionais.

“O tamanho da torcida, sim, esse é um bom critério para se juntar ao número de títulos e apontar a grandeza do clube. Mas também é necessário pegar critérios inteligentes, pesquisa, e não uma só, porque como varia muito, você pega as últimas pesquisas dos três, quatro maiores institutos de pesquisa e faz uma média em cima da torcida e avalia tendência, por que tem time com tendência de alta e de queda. Se você pegar torcida hoje o Vasco ainda tem uma torcida muito grande. Flamengo e Corinthians em um agrupamento, São Paulo isolado, depois Palmeiras, Cruzeiro e Vasco no meio, e Atlético, Botafogo, Fluminense, Grêmio, Internacional um pouco abaixo. Tem que avaliar isso e tem que avaliar tendência. Por isso tem uma falha (na análise do Capelo)”, explica.

Para o melhor entendimento da análise feita por Rodrigo Capelo e para melhor apontar os equívocos em dizer que apenas quatro clubes são os maiores hoje do País, Júlio Reis destrinchou o estudo feito por Capelo.

“Sou muito fã do Rodrigo Capelo, do Sportv, um dos poucos analistas de televisão que falam sobre gestão financeira, gestão organizacional dos clubes no futebol brasileiro. Eu, respeitosamente, faço alguns questionamentos sobre sua análise. Quando a gente lida com gestão, lidamos com muitos indicadores de desempenho e a melhor maneira de tirar qualquer subjetividade, qualquer sentimento de análise é por meio de critérios objetivos, de indicadores de desempenho. A análise do Rodrigo, ele que é metódico, falhou na hora de definir o critério e por isso, no meu entendimento, ele cometeu alguns equívocos”, comentou o especialista entrevistado pelo Hoje em Dia.

Reis pontuou em uma análise completa o que considerou como falhas cometidas por Rodrigo Capelo ao apontar apenas Corinthians. Flamengo, Palmeiras e São Paulo como os maiores clubes do Brasil.

Competitividade

“A primeira coisa que ele fala sobre a análise é que o critério é a competitividade. Ele dá exemplo de Portuguesa e América Mineiro que foram clubes grandes e não são mais por que não mantêm essa competitividade. Bom, quando ele fala competitividade, entendo que competitividade é disputar títulos, e, obviamente, que os mais competitivos tendem a ganhar mais títulos. No meu critério de grandeza realmente deveriam ser os clubes que têm maiores títulos os maiores. Se quiser aumentar um pouco a avaliação de grandeza, podemos colocar também os times que chegaram à final mas não ganharam títulos. Esses clubes foram tão competitivos quanto o que ganhou. Mas o que deveria ser feito mesmo é uma média de competitividade dos times. Ou seja, os times que foram competitivos só em determinada parte da história, eles não estariam na lista dos grandes? Ok! é um critério dele e não é tão questionável, mas não pode ser um recente tão imediato, porque de repente surge um São Caetano da vida, por dois anos com um time competitivo, e aí ele passa a ser grande. E não é assim. Podemos pegar duas décadas, três décadas da história e de lá para cá medir a competitividade. Nesse ponto não há muito questionamento, apesar de achar que pegar a história completa seria mais correto”, comenta.Reprodução/Sportv 

Potencial de investimento x maior torcida

Qual o indicador correto para avaliar a competitividade? O Rodrigo Capelo mesmo cita que hoje os times competitivos são os que têm maior torcida e os que têm maior capacidade de investimento. Até acho que há uma correlação entre os dois, quanto maior torcida, maior capacidade de investimento. Mas aí que eu discordo dele. Ele quer medir os fins ou os meios? Se o critério dele é competitividade, ele tem que medir os times que têm sido mais competitivos, e não os times que têm mais capacidade de investimento ou até mais torcida. Às vezes o time que tem capacidade de investimento alto, tem muita torcida, mas não é competitivo. E isso acontece exatamente pela sua falta de grandeza. E o clube que consegue mesmo sem ter dinheiro, mesmo sem ter capacidade alta de investimento, recorrentemente e historicamente ser competitivo, esse time não é grande? Aí para mim o Rodrigo Capelo comete um erro crasso, porque ele começa avaliar pelos meios e não pelos fins. Se ele mesmo propõe o critério de competitividade, há meios objetivos de se fazer isso. Tem que definir premissas. Pegar os grandes campeonatos históricos e olhar quais foram os times que mantiveram o maior nível de competitividade pela classificação histórica desses em um extrato de tempo. Aí sim vamos ter uma avaliação positiva. Eu garanto que se a gente fizer isso o quadro apresentado por ele muda. A partir do momento que ele avalia grana e torcida, ele avalia capacidade de competitividade, avaliando futuro. Não é critério de competitividade, é critério de qual time tem potencial de ganhar título no futuro. Isso mede grandeza? Não!

Melhor método para avaliar grandeza

Vamos supor que o critério continue sendo competitividade. Se ele quiser pegar ao longo dessa história toda uma média de competitividade, times vencedores que venceram muito em um passado mais remoto, tipo o Santos, por exemplo, será que deixaria de ser grande nesse critério? Não tenho certeza, é preciso fazer análises com critérios objetivos. Na minha visão a gente criaria pontuações pela participação dos times. Time que chegou à final da Libertadores, x pontos, chegou na semifinal, y pontos, chegou nas quartas de final, isso é competitividade, abaixo disso deixa de ser competitivo. Time que na época do mata-mata do Brasileiro chegou entre os oito, é uma competitividade, entre os quatro, entre os dois, nos pontos corridos disputou o título, ficou entre os quatro, foi para Libertadores. Dá para definir um critério, lógico que todos terão questionamentos, principalmente porque envolve clubismo, mas dá para criar critérios objetivos. Se você pega uma história mais recente, o São Paulo sairia dos grandes clubes por que não ganha título há bastante tempo? Eu considero o São Paulo um grande clube porque tem um histórico de vitórias muito grande. Baseado no critério do Rodrigo Capelo de que não vale as coisas de antes, como o Cruzeiro que é um grande vencedor recente está fora dessa lista de grandes e o São Paulo está dentro? Mesmo que considere o volume de títulos de um Cruzeiro, do Santos, do Vasco, não os colocaria em cima? Temos que tomar esse cuidado por que você está mexendo com coisa séria e que impacta no valor do clube. A minha discordância é nesse ponto.

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