'Eu não tinha a mesma motivação, por causa da dor', diz Pierre, sobre aposentadoria aos 37 anos

Frederico Ribeiro
14/02/2019 às 17:02.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:33
 (Bruno Cantini/Atlético)

(Bruno Cantini/Atlético)

 A eterna formação do Atlético campeão da Libertadores 2013 ganhou mais um ex-jogador. Após Ronaldinho e Gilberto Silva anunciarem a aposentadoria oficial, o volante Pierre também pendurou as chuteiras. Chamado de "Pitbull" pela torcida do Galo, o ex-camisa 5 postou uma mensagem de despedida no Instagram e vira um atleta aposentado aos 37 anos. A ideia era ir além, mas o tornozelo não deixou.

Em entrevista ao Hoje em Dia, o ex-volante revela que a dor sentida no local, onde sua cartilagem foi prejudicada por lesões e cirurgias, o tirava a sensação prazerosa de acordar todas as manhãs e se preparar para treinos e jogos. Pierre não atuava desde maio de 2018 e sua última aventura no futebol foi com o Joinville.

"Todo jogo era anti-inflamatório, tomava injeção. Então não valia mais a pena. Eu acordava de manhã e não tinha mais a mesma motivação, por causa da dor. Eu cheguei a ir pro Atlético-PR, fui campeão estadual, tive rápida passagem no Joinville, mas rescindi o contrato de dois anos justamente por causa do tornozelo", afirmou Pierre.

Titular da equipe de Cuca, paredão do meio de campo ao lado de Leandro Donizete, Pierre viu no capo o Atlético construir o time que levaria a máxima glória ao clube. Depois, seu ciclo foi se fechando após a Copa do Brasil de 2014, principalmente com a chegada de Rafael Carioca. Ele não queria sair do Atlético, mas se viu sem espaço e acertou com o Fluminense.

Agora, terá tempo de descansar com a família, cuidar das filhas ao lado da esposa Moema e também retornar ao futebol, em outra função, ainda a ser definida. "Não sei em que área atuar ainda, mas é no futebol. Pode ser treinador... Não sei. Estou orando a Deus pra me guiar. Penso em me especializar, tomar alguns cursos".  
 

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Você anunciou no Instagram que as chuteiras foram oficialmente penduradas. Uma tomada de decisão que deixa a torcida do Atlético com tempo reservado pra homenageá-lo. E tudo por conta do tornozelo?

Eu tinha em mente ainda de ir mais um pouco, pelo fato de eu me cuidar bastante. Mas há uns dois anos, sofri  bastante com o tornozelo esquerdo, fiz quase três cirurgias. Primeiro no Palmeiras, depois uma artroscopia no Fluminense, junto com um reparo ligamentar. Então começou a afetar a cartilagem do tornozelo e eu sofria muito pra jogar. Todo jogo era anti-inflamatório, tomava injeção. Então não valia mais a pena. Eu acordava de manhã e não tinha mais a mesma motivação, por causa da dor. Eu cheguei a ir pro Atlético-PR, fui campeão estadual, tive rápida passagem no Joinville, mas rescindi o contrato de dois anos justamente por causa do tornozelo. Conversei bastante com a família e chegamos à conclusão que minha carreira profissional já tinha chegado ao seu tempo (de encerramento).

E como foi tomar essa decisão? Abrir mão de uma profissão, que dá prazer, meios de sobrevivência. Imagino você escrevendo o texto no Instagram...
Pra mim foi difícil, mas foi uma decisão bem pensada, bem tomada. Cheguei a rescindir com o Joinville em junho do ano passado. Cheguei à conclusão de que não tinha mais capacidade de desempenhar o meu futebol. Tive convite pra disputar a Série A neste ano, mas não seria do meu perfil... A cabeça queria, o coração, mas o tornozelo não estava deixando. Comecei a não conseguir ter aquele rendimento, aquela capacidade que tinha antes. Não queria, vamos dizer, ficar 'enganando'.
Não estava em condições de empenhar em alto nível. Achei melhor parar, parar bem. A trajetória foi muito linda, vitoriosa, com carinho de vários clubes e torcidas.

Aqui no Atlético, você segue com muito carinho da torcida, que sempre te chama de Pitbull. Mas esse problema do tornozelo é um símbolo do sacrifício da profissão....
É um preço que o atleta paga. Quantas vezes eu não fui pra jogo com o tornozelo com entorse? Tive que infiltrar no tornozelo para não perder um jogo. É uma questão de entrega. Fui um jogador que dificilmente fiquei fora de alguma partida por lesão. Fico feliz com essa sensação. Tenho a sensação de dever cumprido, dei o meu melhor e fiz o impossível pra dar alegrias aos jogadores

Esse problema no tornozelo prejudica o seu dia a dia?
Reflete. Eu perdi parte da cartilagem no tornozelo. Eu tento brincar de bola, mas só paradinho, bem calmo. Pra jogar em alto nível, com certeza não tenho mais condições nenhuma. Mas consigo fazer as atividades do dia a dia de forma tranquila. 

E o futuro é no futebol?
Eu tenho muito a contribuir com o futebol ainda. Acho que o meu futuro será no esporte. O que vivi nos 19 anos jogando profissionalmente é uma grande bagagem. Eu cheguei ao Ituano em 2000, em 2001 virei profissional e fui campeão paulista no ano seguinte. Não sei em que área atuar ainda, mas é no futebol. Pode ser treinador... Não sei. Estou orando a Deus pra me guiar. Penso em me especializar, tomar alguns cursos.  

Você voltou pra Itororó-BA?
Eu estou em São Paulo, mas daqui uma "semaninha", vou pra Belo Horizonte. Eu fico entre BH e Bahia. Eu tenho negócios na Bahia também, mas a nossa morada, da família, é permanecer em BH mesmo. O que a gente viveu na cidade, nesses quatro anos e meio, foi muito intenso. Calor, carinho e respeito da torcida. O que o Atlético proporcionou na minha vida é gratificante. Só tenho a agradecer.

A sua saída do Atlético... Você leu uma carta no CT, foi marcante...
Sem dúvida. Eu não queria sair do Atlético. A realidade é essa. Em nenhum momento eu cogitava na minha cabeça de sair do Atlético. Eu sai quando não me quiseram mais no Atlético. Eu não estava jogando, depois não ia pro banco de reserva. Quando veio a proposta do Fluminense, ninguém se colocou contrário à minha saída e eu rescindi o contrato que duraria até dezembro de 2015 (Pierre se despediu em 10 de abril de 2015). 

Você é um bom contador de histórias. E tem aquela famosa do Ronaldinho na final da Libertadores, do pênalti...
Naquele momento de tensão... Caramba, o Mineirão com 60 mil pessoas. Todo mundo apreensivo. Eu não iria bater o pênalti e estava aflito, imagina quem iria bater. Eu tentando passar tranquilidade pros companheiros, e chega o Ronaldo: 'eu vou cavar'. Eu: 'você vai o que?'. 'Eu vou cavar'. 'Você está é maluco. Escolhe outro jogo, você cava, bate de letra'. Vai que essa bola cai errado, mata todo mundo. Mas ele falou mesmo. 

E você acabou virando amigo do Ronaldo, ele até postou foto com você pra falar da aposentadoria.
Conseguir a amizade dele foi algo extraordinário. Apesar todo o status que ele representa pro futebol mundial, é um cara com humildade fora de série. Um cara que eu vou levar pro resto da vida, como um sonho realizado de ter atuado ao lado dele e marcado história no Atlético.

Aquele elenco deve ter muita história, devia ser legal jogar naquele time.
Nosso ambiente foi fundamental, de amizade, alto astral. Não tinha melindre. Quando um jogava, não tinha ninguém que ficava 'bicunho', todo mundo entendi. Eram pessoas capacitadas, de ótimo ambiente. E quando junta isso tudo só resta títulos. 

Foram 171 jogos pelo Atlético de 2011 a 2015. Faltou o gol? E você chegou a fazer um gol no Atlético...
Foi mesmo! Curiosamente, eu fiz um gol no Atlético em 2003, pelo Paraná, no Pinheirão. Olha que coisa inusitada: não fiz gol pelo Galo, mas fiz gol no Galo. Tem no Youtube. O goleirão falha e eu dou uma cabeçada (risos)...

  

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