Ex-presidentes do Cruzeiro garantem que venda de imóvel do clube só com aval de 90% de todo Conselho

Guilherme Piu
@guilhermepiu
16/07/2020 às 11:30.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:02
 (Montagem sobre fotos do Cruzeiro)

(Montagem sobre fotos do Cruzeiro)

Montagem sobre fotos do Cruzeiro  

Qual o quórum necessário para o Conselho Deliberativo do Cruzeiro aprovar a possibilidade de venda da Campestre 2? Esse tema virou debate após alas dentro do clube interpretarem de forma diferente o artigo 20 do Estatuto estrelado, que fala o seguinte: 

"Autorizar a alienação de bem imóvel do Cruzeiro Esporte Clube, excluídas as unidades que compõem o Parque Esportivo do Barro Preto, o Centro Administrativo, as Sedes Campestres, a Toca da Raposa I e a II, imóveis somente alienáveis em situação altamente vantajosa para o Cruzeiro Esporte Clube, mediante proposta aprovada por 9/10 (nove décimos) dos Conselheiros"
E então, o que é necessário para vender um dos imóveis citados de forma direta pela "Constituição do Cruzeiro"?

O Hoje em Dia apresenta os dois lados que hoje são divergentes. A atual diretoria, comandada pelo presidente Sérgio Santos Rodrigues, entende que os 9/10 citados no artigo se referem à quantidade de presentes na reunião que discutirá o tema. 

"Sobre o quórum, entendemos que o Estatuto, que precisa ser atualizado urgentemente, ao não determinar que seja qualificado para o início da votação, mas sim para a aprovação, possibilita que a venda seja aprovada por 90% dos PRESENTES" (sic)", publicou em seu Twitter pessoal o superintendente de relações institucionais e governamentais, o deputado Léo Portela, que é advogado por formação.

Palavra de presidentes

Entretanto, dois ex-presidente da Raposa, também juristas, entendem de forma completamente diferente do pensamento demonstrado por Portela.

José Dalai Rocha e Gilvan de Pinho Tavares explicam que essa cláusula foi criada justamente por se tratar de assunto “espinhoso” e de relevada importância para o clube. E que leva em consideração não os presentes na reunião que discutirá o tema, mas todos os conselheiros dos quadros do clube. 

"Imagina se fosse apenas 90% dos presentes o número necessário para aprovação da venda de um imóvel do clube. Nós, que estávamos nas mãos da antiga gestão e da Família União, certamente não teríamos mais nem meia bicicleta, o clube já estaria acabado", afirma Dalai, que presidiu o clube entre dezembro de 2019 a maio de 2020, após renúncia de Wagner Pires de Sá no fim do ano passado.

Gilvan de Pinho Tavares, que presidiu o clube entre 2012 e 2018, também interpreta de maneira diferente da atual diretoria.

"O Estatuto é muito claro. O inciso VI do artigo 20 dispõe que, para autorizar venda de imóvel, é preciso da votação de 9/10 do número de conselheiros que o Cruzeiro possui. A gente deve ter em torno de 440 cconselheiros. É preciso de 9/10 do número total e existente de conselheiros", explica.

Dalai diz que o Estatuto do Cruzeiro, com nobreza e clareza, especifica que alienar a Campestre 2 ou os outros imóveis citados diretamente no artigo 20 dependem de uma aprovação de 90% de todo o Conselho.

"Maioria dos presentes, essa expressão dos presentes ela é juridicamente aceita, é determinante para atestar que determinada votação conte apenas com presentes. O Estatuto do Cruzeiro é claro ao dar importância bem nítida daqueles bens citados, o Estatuto reserva essa importância, inclusive à Campestre 2. Ele fala assim, o Conselho tem possibilidade de aprovar alienação de qualquer bem, com a excludente de tais imóveis alvo de votação diferenciada, o Estatuto dá uma nobreza à exclusão para os quais uma alienação só seria possível com os nove décimos dos votos dos conselheiros num todo. Qualquer interpretação jurídica séria leva em conta isso", garantiu 

Favoráveis à venda

Tanto Gilvan quanto Dalai são favoráveis à venda da Campestre 2 para a quitação de dívidas. 

"Acredito que essa discussão é estéril (necessidade da venda). Pela importância do assunto, da matéria, os conselheiros vão permitir a venda de um imóvel que não tem muita utilidade para o Cruzeiro. Imovel que serve para colocar o carro de associados na garagem e pagar pelo estacionamento", disse Gilvan.

Na visão de Dalai, que já havia comentado sobre algumas dificuldades pontuais para a venda do imóvel. "Vender da forma certa. Nosso Conselho é composto com 70% dos conselheiros tendo mais de 70 anos, e vivemos um período de pandemia do coronavírus. Se vencesse tudo isso, os conselheiros em 9/10 aprovando essa venda, cairíamos nos credores que estão prontos para promover bloqueios. Chegaram a fazer várias vezes bloqueios enquanto fui presidente. Aves de rapina prontas para dar o bote, só aparecer o dinheiro, que é a carne fresca que procuram, que eles vão atrás. E é direito deles, estamos devendo. Temos que sair disso com prudência e calma", ressaltou.

Culpado pela dívida

A venda da Campestre 2, se aprovada, acontecerá para pagar, também, a dívida de aproximadamente R$ 5 milhões que o Cruzeiro ainda tem com o Al-Wahda, dos Emirados Árabes, pelo empréstimo do volante Denílson, ainda em 2016.

Nesta época o presidente do clube era Gilvan de Pinho Tavares, chamado de "culpado" pelos torcedores pelos seis pontos já perdidos pelo clube na Série B deste ano (perdeu o primeiro prazo de pagamento e foi punido pela Fifa), e por dívidas milionárias contraídas durante sua gestão.

O ex-presidente tratou do assunto com a reportagem do Hoje em Dia, e exaltou suas conquistas no período em que comandou o clube. 

"Torcedor me enxerga como o grande culpado, mas fui culpado também de ganhar dois Campeonatos Brasilerios seguidos (2013 e 2014), de ter tirado o Cruzeiro do rebaixamento em 2011, quando o clube se livrou na última partida, e eu que estava lá. Fui culpado de ter ganhado também a Copa do Brasil de 2017 e de ter deixado o time montado para a diretoria seguinte ganhar a competição de 2018. Essas coisas a gente sabe, o torcedor é passional. Quando as coisas estão bem, aplaude, grita o seu nome, quando não ganha, perde jogo ou competição, o torcedor vaia, xinga. O torcedor acha que o presidente do clube é um Deus. A gente sabe disso tudo. O Denilson foi uma tentativa, não deu certo, faltou dinheiro para pagar, não conseguimos o acordo com esse clube, normalmente a gente conseguia, mas as dificuldades financeiras daquela época, já com o Brasil em crise, fizeram as coisas piorarem, dificultaram, e a torcida relacama. Isso é normal. Dentro do clube sou respeitado e isso importa para mim também", explicou o ex-presidente.

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