Faixa roubada, outra 'confiscada', gás de pimenta e clima de guerra: a noite do sofrimento celeste

Alexandre Simões
06/10/2019 às 10:08.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:05
 (Reprodução/Twitter)

(Reprodução/Twitter)

A tentativa de agressão após o empate por 1 a 1 entre Cruzeiro e Internacional, neste sábado (5), a integrantes da diretoria do presidente Wagner Pires de Sá e ao próprio dirigente, pode ser considerado o episódio menos grave da noite, até porque essa situação foi criada por Alexandre Comoretto, conhecido como Gaúcho, um dos articuladores políticos da situação cruzeirense e que recebe do clube, como funcionário, para cuidar da bocha. Além disso, toda a situação aconteceu no setor mais policiado e seguro do Gigante da Pampulha, a saída dos camarotes, no estacionamento G-2, onde ficam os ônibus dos dois clubes envolvidos na partida, carros dos jogadores e de seus familiares, de dirigentes da equipe mandante e de autoridades.

A confusão no G-2 começou quando Gaúcho tentou impedir de dar entrevista à Rádio Itatiaia um conselheiro, que era ligado a situação, mas diante da grave crise do clube decidiu votar pelo afastamento de Wagner Pires de Sá e toda a sua diretoria no próximo dia 21, quando haverá uma reunião do Conselho Deliberativo. 

Este episódio, assim como o que envolveu Wagner Pires e outras pessoas ligadas a ele ficaram apenas nos xingamentos. Sofrimento mesmo, com o clima de guerra que tomou o Gigante da Pampulha na noite deste sábado, passou o torcedor.

Faixa I

Minutos após a partida, na delegacia do Mineirão, uma evidência de que a atual diretoria conseguiu algo que tinha sido superado pelo clube: provocar um racha entre as organizadas cruzeirenses.

Dois integrantes da Fanáti-Cruz (TFC) tentavam fazer um Boletim de Ocorrência (BO), mas sem sucesso, do sumiço de uma faixa da torcida, que estava posicionada no setor laranja inferior.

“Os policiais disseram que aqui no Mineirão não tem como fazer o BO, mas é inacreditável. Uma faixa de 20 metros sumiu dentro do estádio. Foi colocada antes do jogo, estava lá o tempo todo, mas depois da partida tinha sumido”, desabafou um deles que preferiu não se identificar.

No universo das organizadas, ter faixa, bandeira ou camisa de uma torcida rival tomada vira instrumento para provocações nas redes sociais, mesmo quando se tratam de duas facções do mesmo clube.

Histórico

No último dia 11 de setembro, quando a crise cruzeirense explodiu após uma goleada de 4 a 1 para o Grêmio, no Independência, com o time já eliminado da Copa do Brasil, a diretoria cruzeirense colocou quatro organizadas dentro da Toca da Raposa II para conversar com os jogadores. E barrou outras duas, a Máfia Azul e a Fanáti-Cruz, que têm uma linha de oposição a Wagner Pires de Sá e sua diretoria neste momento de crise.

Essa atitude colaborou para a briga entre integrantes da Máfia Azul e da Pavilhão Independente, uma das quatro organizadas a entrar na Toca II em 11 de setembro, dez dias depois, na derrota de 2 a 1 para o Flamengo, e obrigou um aparato policial muito maior na noite do último sábado, no jogo contra o Internacional.

O clima tenso era visível no entorno do Gigante da Pampulha. A cavalaria teve de evitar um confronto entre integrantes das duas torcidas antes da partida, na avenida Abraão Caram. Na Esplanada, o número de policiais do Batalhão de Choque era muito maior que o normal.

Dentro do estádio, alguns problemas foram registrados, com um torcedor sendo conduzido à delegacia do Mineirão, na metade do primeiro tempo, após uma briga no setor amarelo inferior.

No mesmo local onde Máfia Azul e Pavilhão Independente brigaram no último dia 21, dois inícios de tumulto aconteceram mas rapidamente controlados. Mas o suficiente para assustar muitas famílias que estavam no local, pois é o mais popular do Mineirão, principalmente num dia em que o laranja não é aberto, como aconteceu neste sábado.

O caso mais grave aconteceu pouco antes do pênalti a favor do Cruzeiro, quando uma briga começou no setor onde fica a Máfia Azul. Para acabar com a confusão, a PM usou gás de pimenta, atingindo praticamente todas as pessoas que estavam no amarelo superior.

Muita gente, principalmente quem estava com criança, teve de mudar de setor, passando para o vermelho, pois o cheiro era muito forte.

Faixa II

No setor de camarotes, dois torcedores tentaram abrir uma faixa pedindo a saída de Wagner Pires de Sá e foram impedidos pelos seguranças do Mineirão. O caso circula nas redes sociais, inclusive com um Boletim de Ocorrência, pois um casal foi retirado do estádio e garante ter sido agredido.

De acordo com o relato de um torcedor, alguns seguranças tentaram confiscar a faixa, mas não conseguiram. "Estávamos no vermelho inferior e tentaram, de toda forma, confiscá-la com empurrões. Mas outros torcedores compraram a briga e foram ajudar. Quando íamos perder a faixa, passamos ela para o camarote. O pessoal lá (do camarote) estava mais exaltado, tanto os torcedores, quanto os seguranças. E assim a faixa foi mudando de setores para evitar que ela fosse confiscada. Aos 40 minutos do segundo tempo desistiram e todos os seguranças foram embora", explicou. 

O sofrimento da torcida cruzeirense não se limita ao nome do clube envolvido numa série de irregularidades ou à fragilidade do time, que corre sério risco de ser rebaixado pela primeira vez em sua quase centenária história. Quem paga ingresso e vai ao Mineirão apoiar o Cruzeiro está entrando numa área de risco.Reprodução/TwitterO Boletim de Ocorrência registrado pelos torcedores expulsos do Mineirão por mostrarem faixa contra a diretoria cruzeirense. CLIQUE PARA AMPLIAR

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por