França x Uruguai com dois séculos de história político-cultural de pano de fundo

Agence France Presse
05/07/2018 às 14:49.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:13
 (Jewel SAMAD, Odd ANDERSEN / AFP)

(Jewel SAMAD, Odd ANDERSEN / AFP)

Dois séculos de história compartilham as Seleções da França e do Uruguai, que na sexta-feira se enfrentam nas quartas de final da Copa do Mundo-2018: os dois países têm uma relação especial com um pano de fundo político, cultural e futebolístico.

O ponto de partida se situa no início do século XIX, quando a França se torna o primeiro país a reconhecer a independência do Uruguai (declarada em 1825 e consagrada em 1828), antes de intervir para apoiar Montevidéu na chamada Grande Guerra.

Inspirada na França, a nação "charrúa" separou a Igreja do Estado em 1917 (algo raro na época em uma América do Sul muito católica) e escreveu seu Código Civil com base no Código Napoleônico.

Numerosos líderes políticos se formaram no liceu francês, chamado Jules Supervielle, em homenagem a um dos três grandes poetas franceses nascidos em Montevidéu, juntamente com o conde de Lautréamont (Isidore Ducasse) e Jules Laforgue.

O francês foi a primeira língua estrangeira obrigatória no ensino médio até a década de 1990. Além disso, o Uruguai é um dos poucos países latino-americanos membro da Organização Internacional da Francofonia (OIF), como observador (juntamente com a Argentina e a Costa Rica).

De Laurent a Cavani

A poesia da bola também aproximou os dois povos. De partida, com um fato histórico: em Montevidéu, o atacante Lucien Laurent marcou o primeiro gol da história de uma Copa do Mundo, em 13 de julho de 1930 (França-México 4-1).

Foi no estádio Pocitos, hoje destruído. Não muito longe do lendário Centenário, há uma placa comemorativa do feito, localizada no lugar exato do gol que tornou famoso o francês falecido em 2005.

Sobre as quatro estrelas que exibem orgulhosos os uruguaios em sua camisa, somando as duas medalhas olímpicas conquistadas antes da primeira Copa do Mundo ser disputada, a primeira alude ao título dos Jogos de 1924 em Paris.

Por acordo entre a Fifa, que ainda não organizava o seu próprio torneio, e o COI, o campeonato de futebol dos Jogos (nas edições de 1924 e 1928) foi considerado como Mundial.

Alguns grandes jogadores uruguaios atuaram em terras francesas, de Ildo Maneiro em Lyon nos anos 1970 até Edinson Cavani, que recentemente se tornou o maior artilheiro da história do Paris Saint Germain.

Outros jogadores também deixaram sua marca em Paris, como o ex-capitão da Celeste Diego Lugano ou Cristian "Cebolla" Rodriguez, que faz parte dos 23 convocados por Tabárez na Rússia de 2018.

Outra passagem inesquecível foi a do elegante Enzo Francescoli no final dos anos 1980 em solo francês (Racing Club de Paris e Marselha).

Ele se tornou o ídolo do futuro ícone do futebol francês Zinedine Zidane, que batizou seu primeiro filho de Enzo, em homenagem ao charrúa.

A quadrilha uruguaia também deixou marca em Nancy, com Ruben Umpiérrez (1978-1985), Carlos Curbelo (1971-1980) e, em seguida, seu filho Gaston (2000-2009), e especialmente Pablo Correa, que jogou e depois treinou várias vezes entre 1995 e 2017 este clube.

Modelo francês

Antoine Griezmann se encontra um pouco nessa confluência. Ele desenvolveu a garra charrúa desde a sua estreia pelo Real Sociedad, graças ao seu treinador Martín Lasarte e seu colega Carlos Bueno, para depois compartilhar o vestiário no Atletico Madrid com Diego Godín e José María Giménez, seus rivais na sexta-feira.

Mas a influência é recíproca. O técnico uruguaio Oscar Tabárez participou da Copa do Mundo de 1998 como membro do grupo técnico da Fifa e aproveitou a oportunidade para aprender e implementar certos ensinamentos em sua terra.

"Eu estava em Bordeaux e conversei com o técnico dos sub-17 e das seleções femininas", lembrou em 2013, antes de um amistoso Uruguai-França 1 a 0.

"Eles me explicaram como desenvolviam a formação de jogadores na França, percorrendo o mesmo caminho da infância à maturidade. Aprendi muitas coisas. Eles tinham uma tecnologia que lhes permitia analisar o rival, algo que não conhecia", acrescentou.

"Ao retornar de uma partida na Argélia (em agosto de 2009), tínhamos onze horas de escala na França e aproveitei a oportunidade para visitar Clairefontaine", o centro nacional da Federação Francesa, recordou Tabárez.

Em Copas do Mundo, os dois times se enfrentaram três vezes, sempre na fase de grupos: 2-1 para a Celeste  em 1966, 0-0 em 2002 e em 2010. Nesta sexta-feira, um novo capítulo será escrito sobre esta longa história entre os dois países.

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