Garantir 'bom uso do dinheiro' e transação em moeda gringa: como o Cruzeiro receberá R$ 300 milhões

Guilherme Guimarães
12/02/2019 às 00:39.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:30
 (Reprodução)

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O Conselho Deliberativo do Cruzeiro aprovou, na noite dessa segunda-feira (11), o plano de viabilidade para que o clube consiga um empréstimo de R$ 300 milhões junto à instituição financeira da Inglaterra.

O dinheiro será utilizado para unificar as dívidas do clube, que tem pendências com outras agremiações - fizeram negócios com a Raposa e cobraram o recebimento dos valores na Fifa -, com o Governo Federal (tributos) e bancos.

Com o aceno positivo da esmagadora maioria dos conselheiros presentes à assembleia realizada no Salão Nobre do Parque Aquático do Barro Preto (apenas dois de 316 conselheiros votaram contra o empréstimo), o Conselho Deliberativo espera os próximos passos para que o dinheiro chegue aos cofres estrelados.

Caminho até o OK dos conselheiros

A atual diretoria do Cruzeiro realizou diversas reuniões prévias à assembleia para mostrar aos conselheiros a necessidade e importância do empréstimo. É que as dívidas emergenciais do clube estão estranguladas e a execução delas poderia criar sanções que gerariam prejuízos incalculáveis à instituição, como a quebra do acordo do Profut (Lei de responsabilidade fiscal dos clubes) e até queda de divisão.

Nesses encontros, membros da atual diretoria garantiram que o valor emprestado ao Cruzeiro será única e exclusivamente para quitar dívidas pretéritas. Números extraoficiais mostram uma "dívida podre" de R$ 290 milhões, valor que o clube precisa pagar imediatamente para evitar sanções graves. 

Com dinheiro na mão, os R$ 300 milhões, o valor dos juros pode ser negociado e o montante total da dívida cairá. Internamente, segundo apurou o Hoje em Dia, a diretoria do Cruzeiro estima que a economia com a queda de juros será de aproximadamente R$ 36 milhões. 

“Foi dado o passo final para o empréstimo. Os próximos passos são, talvez, a assinatura do contrato. Mas não tem previsão (do dinheiro entrar no caixa do clube). Mas os R$ 300 milhões vão existir. Era preciso o respaldo do Conselho para a decisão da diretoria. Mas não está assinado (contrato) ainda”, explicou o vice-presidente do Conselho Deliberativo José Dalai Rocha. 

Garantias

O Cruzeiro não dará imóveis como garantia de pagamento do empréstimo. As garantias dadas ao banco serão os recebíveis do clube, como cotas de TV, patrocínio, venda de jogadores. 

Informações passadas ao HD indicam que há previsão de recebimentos extras por transmissão de jogos fora do país, o que pode render algo em torno de R$ 10 milhões ao clube. Valor que a diretoria poderá usar para somar na amortização do empréstimo, que será dividido em sete parcelas semestrais de aproximadamente R$ 52,3 milhões. 

Além dessa quantia extra, o atual contrato de patrocínio máster no primeiro ano deverá render R$ 15 milhões aos cofres celestes, tendo aumento progressivo nos anos seguintes até R$ 20 milhões. 

Bom uso do empréstimo

Segundo informações recebidas pela reportagem, a ata assinada na reunião dessa segunda-feira garante o comprometimento do Conselho Deliberativo com o Conselho Fiscal para que haja o pleno pagamento dos débitos que, hoje, colocam diariamente vários oficiais de Justiça na porta do Cruzeiro.

Mesmo sem divulgar a entidade financeira que repassará o dinheiro ao clube por questões de cláusulas de confidencialidade, o HD apurou que o empréstimo será feito em Euro. No entanto, haverá acordos para que ocorra proteção cambial. Assim, as duas partes, tanto o banco que emprestará o dinheiro, quanto o Cruzeiro, que receberá a quantia, se resguardarão contratualmente, uma vez que a negociação envolve riscos para ambas as partes.

O dinheiro a ser recebido é tão esperado, que servirá para quitar alguns "valores perigosos". O clube, que deve aproximadamente R$ 178 milhões ao Governo Federal (Profut), recebeu notificação da Receita Federal e tem poucos dias para quitar quantia milionária não divulgada, mas que caso não seja paga, gerará grandes problemas. 

Bem como uma ação trabalhista recente que executou o Cruzeiro em R$ 1,9 milhão, valor que o clube não estava preparado para perder. 

Quase decisão unânime

Quando muitos pensaram que haveria forte concorrência da oposição pela não aprovação do empréstimo, o que aconteceu na verdade foi o contrário. Na assembleia que teve a presença de 316 conselheiros, apenas dois se mostraram contrários ao proposto.

Até mesmo um dos mais críticos a atual gestão, o conselheiro nato Gustavo Gatti, não votou. Ele esteve na porta da sede social do Barro Preto, mas foi embora antes da votação alegando problemas de saúde (diverticulite).

Justamente após as explicações em vídeo feitas previamente e contra os riscos de sanções que o Cruzeiro poderia sofrer em um futuro breve, diversos conselheiros mudaram o voto. Antes contrários ao empréstimo milionário, passaram a aceitar que a alternativa era no momento a mais viável para impedir um colapso financeiro no clube.

Até mesmo o ex-presidente Gilvan de Pinho Tavares, que viu em sua gestão a dívida urgente do Cruzeiro crescer exponencialmente, e que era contra o empréstimo em um primeiro momento, mudou de ideia. E dessa forma acatou o pedido de Wagner Pires de Sá para que a operação fosse aprovada.

"A partir de agora, os conselheiros vão saber de tudo que estamos fazendo, o Cruzeiro está demonstrando ao próprio país e ao futebol brasileiro, que a gente tem condição de sair dessa dívida constante que passa o futebol (...) O que nós fizemos foi exatamente isso. Estamos negociando com empréstimos, com financeiamentos internacionais com taxas de juros baixíssimas (...) estamos conseguindo financiamentos com condições excepcionalmente benéficas para o clube, vamos trocar dívidas que termos internamente com taxas de juros internas altíssimas, que chega em uma média de quase 2% ao mês, por uma de 0.68%, então foi uma grande vitória e graças a Deus nós tivemos a aprovação unânime do conselho. Na verdade, teve um voto contra. Dois. É bom isso, porque toda unanimidade é burra", comentou o presidente Wagner Pires de Sá após assembleia no Barro Preto. 

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