Givanildo Oliveira diz que América precisa armar logo uma nova equipe para 2016

Felippe Drummond Neto e Henrique André - Hoje em Dia
Hoje em Dia - Belo Horizonte
29/11/2015 às 09:47.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:08
 (Crédito: Lucas Prates)

(Crédito: Lucas Prates)

O casamento do técnico Givanildo Oliveira com o América vive mais um capítulo de lua-de-mel. Na quarta passagem pelo clube, o pernambucano de 67 anos comemora mais um acesso, o sexto na carreira, e aguarda por uma reunião com a diretoria para ratificar a permanência em 2016. No Coelho há um ano e dois meses, Giva, como é conhecido por amigos e boleiros, tornou-se o treinador brasileiro (das Séries A e B) há mais tempo no comando de um mesmo clube, após a saída de Levir Culpi do Atlético. Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, ele comenta a trajetória do América rumo à Série A, faz projeções para o próximo ano e revela ter sofrido discriminação quando trabalhou no Sul do país.

O senhor conseguiu o sexto acesso na carreira. Existe uma fórmula para tal? Qual é o segredo de encarar a Série B com tanta segurança?

Não tem segredo. Já trabalhei em outras situações na Série B e não conseguimos o acesso. Em outras, trabalhei chegando no final para ver se conseguia livrar do rebaixamento e conseguimos algumas vezes. No acesso é trabalho. Já peguei time no meio do caminho e conseguimos também. Depende muito do grupo que você tem. Passamos dificuldades com o elenco este ano, tanto que não chegamos nem na semifinal do Estadual. Subimos vários jogadores da base, o que não é certo; o ideal era trazê-los aos poucos. Mas pela necessidade do momento do clube foi acertado desta maneira e eu aceitei. Felizmente, na Série B deu certo. A parte financeira para armar o time não chegava nem perto da de Bahia, Vitória e outros. Com uma ajuda aqui outra ali, o time encaixou.

Analistas dizem que o nível técnico desta Série B não foi dos melhores. O senhor concorda com isso?

O problema é que tem muito corneta que nunca deu um chute na bola. Eles querem sempre estar analisando da maneira deles. O futebol não muda. Para esse tipo de gente, se você ganhou é o melhor do mundo, se perdeu é o pior. Ninguém pode falar da Série B. Há muito tempo ela vem num nível bom. A Série A realmente é outra coisa, mas a Segunda Divisão vem sendo muito bem disputada.

Quando o América passou por momentos difíceis na competição, o senhor chegou a temer que não voltaria para o G-4?

O temor era se nós fôssemos lá para 15ª (colocação), pois o pensamento seria de não ser rebaixado. Nós ficamos sempre ali perto dos primeiros e não podíamos ‘desgarrar’. Por isso não temi.

Qual foi o principal fator para a reação do time?

O grupo. Mesmo assim alguns falam coisas boas e outros continuam cornetando, mas os números não mentem. Me deu na cabeça de colocar três zagueiros e conseguimos ser o primeiro time a derrotar o Sampaio Corrêa na casa deles. Assim começamos a crescer. Ao contrário do que dizem, jogar desta forma não é ser defensivo. Fizemos isso dando condição dos nossos volantes saírem. E eles até fizeram gols. Com esta formação nós chegamos à classificação.

Dizem que o futebol brasileiro mudou demais e muitos técnicos ficaram ultrapassados. Concorda?

Não posso falar por eles, porque não sei se eles estão ultrapassados ou não querem (se atualizar). O Leão, por exemplo, disse em vários programas que não quer mais trabalhar. O que acontece é que quando os ultrapassados ganham um título, deixam de ser. Às vezes eles têm 60, 70 anos, e quando ganham um campeonato voltam a ter 20. Não muda. Isso é o futebol. Canso de lidar com gente da imprensa que pensa assim. Em Natal tinha um colunista muito antigo, que hoje tem uns 75 anos. Uma vez ele disse que eu estava ultrapassado e eu falei que ele tinha que parar de escrever, porque só falava bobagem.

O que falar sobre Richarlison? Foi um grande achado?

Busquei ele na base porque tínhamos jogadores machucados e de repente ele correspondeu. Ele não veio no grupo que chegou no Mineiro, mas com a ajuda daquele lá de cima, deu certo quando foi aproveitado.

O fato de ser um treinador vindo do Nordeste restringiu o seu mercado, tornando mais complicada a possibilidade de treinar um grande clube de expressão nacional, que constantemente figura na Série A?

Atrapalhou. Se tiver que ir ainda, apesar de não ter mais aquela ânsia, eu quero sim. Sempre quis. Já tive sondagens (do eixo Rio-São Paulo), mas para aguentar reunião com diretor depois de jogo; para chegar dirigente, como no Guarani e Bragantino, querendo escalar o time. Lá eu mandei todos para aquele lugar. Não precisa dizer mais nada, né? É o meu jeito. Tem discriminação sim, e eu enfrentei isso. No Atlético Paranaense foi onde eu mais enfrentei. Foi pesado, e discriminação mesmo. Bem pesada.

Como será o 2016 do América? O senhor fica? Se sim, já está sendo planejado?

Pretendo acertar. Só aí vou ver o planejamento. Não posso mudar as coisas.

Dos titulares, apenas três têm contrato com o clube estendido. O senhor teme uma grande debandada em dezembro?

Isso faz parte e não tem como. Só acho que tem que correr. No ano passado eu trabalhei e perdemos 18 jogadores para 2015. Este ano podemos correr o mesmo risco. Tem jogador que é difícil segurar, pelo o que fez em campo. Temos que esperar para ver o que a diretoria quer e o que vai fazer. Tem que entender que agora é uma Série A e outras competições, como Mineiro, Sul-Minas e Copa do Brasil. No Brasileiro tem que chegar pronto, porque senão leva ferro e vai cair de novo.

O que fazer para evitar um “bate-volta”?

A receita vai aumentar 17 milhões (de reais) só com a cota da televisão. Patrocinadores aparecerão também. Dentro das condições, o América tem que armar um time preparado para a Série A. O nível é outro.

A torcida americana pede uma homenagem digna ao trabalho que o senhor já realizou no clube. Até um busto já foi falado. Seria um grande presente?

É interessante, principalmente quando o trabalho dá certo. No Paysandu, onde fiquei dois anos e meio, ganhei vários títulos e deixei o clube pela primeira vez da história na Libertadores. Por isso deram meu nome ao CT. É bom e gratificante.

Um torcedor do Coelho prometeu fazer uma tatuagem com o seu rosto em caso de acesso. Ainda não fez. Quer fazê-lo desistir da ideia ou acha que deve cumprir a promessa?

Vixe! Aí eu não sei não, hein? Se ele acha que vai ficar bem, que faça. Não vai ter problema algum.

Ser dirigente é uma possibilidade de futuro? Passa pela sua cabeça aceitar o desafio caso seja convidado?

Não. Eu tive uma parada antes de ir para o ABC (2013) e nela apareceu um convite para ser um dirigente. Não aceitei e nem pretendo. Não é o meu ramo e aquilo que eu gosto.

Na época que o senhor foi jogador, a influência dos empresários na vida dos atletas era bem diferente. Como enxerga esta relação hoje?

Muita gente acha ruim, principalmente os clubes. Alguns empresários por mim nem existiriam. Outros, que sei das histórias, ajudam os jogadores. Tem o outro lado e eu vivenciei muito isso. Eu já fui uma espécie de empresário do meu time, pois eu era capitão e orientava os jovens que não tinham ninguém para ajudá-los.

O senhor quer trabalhar com o futebol por mais quanto tempo?

Todos nós treinadores temos que saber a hora certa de parar. Eu tenho na minha cabeça. É segredo e só a minha esposa sabe. Não digo a você e a ninguém; mas não é muito longo, não.

Tem um sonho que o motiva a seguir no futebol?

Se eu dissesse para você que meu sonho é ser campeão da Série A com o América eu estaria exagerando. Mas tenho o sonho de continuar aqui e o time fazer uma grande campanha; quem sabe ir para uma Libertadores?

 

 

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