Gripe Espanhola: os reflexos da pandemia de 1918 na 4ª edição do Campeonato Mineiro

Alexandre Simões
@oalexsimoes
20/03/2020 às 21:06.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:02
 (Arquivo/América)

(Arquivo/América)

As informações não são muitas, mas um registro encontrado pelo pesquisador Henrique Ribeiro, autor do Almanaque do Cruzeiro, em jornais da época, não deixa de passar praticamente a certeza de que o Campeonato Mineiro de 1918, quando o mundo, que já vivia a Primeira Guerra, passou pela Gripe Espanhola, também foi paralisado por causa da pandemia.

“Em novembro, o América e outros clubes suspenderam suas atividades esportivas por causa da Influenza Espanhola – uma epidemia de gripe na cidade. A sede do América foi oferecida a diretoria de higiene para atender aos enfermos”, aponta a pesquisa de Henrique.Arquivo/AméricaO América iniciou em 1916 a maior sequência de títulos mineiros da história. Este time era ainda a base em 1918, quando o clube chegou ao tri numa competição que sofreu os reflexos da pandemia de Gripe Espanhola

Isso é reforçado por um parágrafo do livro “América – o Deca Campeão”, publicado no início da década de 1970 e que relata o fato de o clube, que naquele ano chegou ao tricampeonato da Cidade (Estadual), ter entregado os pontos na competição do Segundo Quadro por não ter jogadores suficientes para formar duas equipes.

Disputa

O Campeonato da Cidade, ou Mineiro, de 1918 teve uma história de abandono de clube e muitas partidas não disputadas (W.O.), algo muito comum no início do século passado, quando o futebol brasileiro ainda vivia a Era do Amadorismo. Era apenas a quarta edição do torneio, que teve início em 1915.

A competição começou com seis clubes – América, Atlético, Yale, Luzitano, Sete de Setembro e Villa Nova. Mas o Leão do Bonfim disputou apenas o turno, quando fez as suas cinco partidas em Belo Horizonte, no Prado Mineiro, onde hoje está o Clube dos Oficiais da Polícia Militar. O clube pagou as despesas de deslocamento dos seus dois quadros a cada rodada.

No returno, quando teria de receber as equipes da capital em Nova Lima, isso não aconteceu. No “Almanaque do Leão do Bonfim”, livro dos jornalistas Wagner Augusto Álvares de Freitas, Rodrigo Rodrigues e Henrique Ribeiro, eles relatam: “As despesas com a locomoção das equipes principal e secundária para Belo Horizonte podem ter sido as causas da desistência do Villa em disputar o
returno, já que os clubes de BH não aceitavam se deslocar até Nova Lima”.

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Pode parecer estranho falar em preço de deslocamento entre Belo Horizonte e Nova Lima nos dias de hoje. Mas no livro, os autores citam um exemplo de como era isso no início do século passado: “Uma reportagem sobre um desafio automobilístico publicada pelo jornal Minas Geraes em junho de 1923 ilustra essa dificuldade de locomoção de forma cristalina. Luiz Pradez, diretor da Inspetoria de Iluminação do Rio de Janeiro, utilizou o carro de propriedade do senhor Santos Souza e fez o percurso Belo Horizonte – Nova Lima em ‘apenas’ sete horas, no dia 12 de junho de 1923”. Isso foi registrado cinco anos depois da pandemia.

Não há relatos específicos sobre a Gripe Espanhola ter influenciado na decisão do Villa Nova de deixar o Campeonato Mineiro de 1918. Há registros apenas de que a questão do custo do deslocamento foi o motivo.

Amistosos

De toda forma, em 13 de outubro, logo no início da pandemia em Belo Horizonte, o Villa Nova recebeu o Atlético, no Castor Cifuentes, para um amistoso. Essa partida, originalmente, estava marcada pelo Campeonato Mineiro, como mostra tabela publicada pelo Minas Geraes. Mas como o Leão deixou a competição, ela não teve o resultado computado no torneio.

Foi a primeira vitória do Villa sobre o Atlético, naquele que é o jogo mais antigo de Minas Gerais entre clubes ainda em atividade. E a equipe de Nova Lima alcançou sua primeira vitória sobre o rival aplicando uma goleada por 7 a 2.

No “Almanaque do Leão do Bonfim” há ainda referência a um jogo entre Villa Nova e América, também em Nova Lima, em 27 de outubro. Mas não há registro de resultado. Henrique Ribeiro tem referências à disputa da Taça Cruz Vermelha, mas também não há conhecimento sobre o placar. O confronto não é relatado pelo blog “Canto do Coelho”, que acumula todas as fichas de jogos do clube, o que deixa em aberto a possibilidade de o amistoso nem ter sido disputado.

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