Há dois anos sem antiga casa, tomada pela lama, União São Bento atua na ‘cidade grande’

Henrique André
hcarmo@hojeemdia.com.br
11/09/2017 às 19:26.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:30
 (Samuel Consentino/Divulgação)

(Samuel Consentino/Divulgação)

Hoje não vamos falar de lama, sofrimento, destruição e traumas familiares; palavras estas que marcaram o acidente que dizimou Bento Rodrigues, distrito de Mariana, em novembro de 2015. O assunto, no linguajar do futebol, será resumido como “segue o jogo”, e o personagem é o mecânico Osório Souza, auxiliar técnico do União São Bento, tradicional time do vilarejo que comoveu o mundo.

Residindo atualmente na “cidade grande” (Mariana), como ele mesmo diz, e tendo que se adaptar à nova rotina, Osório evita retornar ao local da tragédia, mas, com saudade dos tempos de outrora, fez questão de acompanhar a reportagem para mostrar o que se tornou o antigo campo. Um verdadeiro rio de lembranças onde a bola não rola mais.

“Isso me emociona de novo. Volta tudo na memória. Eu vinha muito aqui, mas parei porque sempre voltava triste para casa”, conta o mecânico que não perdeu familiares naquela ocasião.

Pai de quatro filhos (Joelma, Josimara, Jardel e Josiana), e casado com a dona de casa Maria de Lourdes, Osório se enche de orgulho quando o assunto é a função nos fins de semana: cuidar dos jogos do “Bento”, que disputa a segunda divisão da região.

Casa nova

Exercendo o mando de campo no estádio Marianense há dois anos e com 25 jogadores no elenco, o modesto time, de aproximadamente 43 anos da fundação, seguiu com a bola nos pés.

Longe dos holofotes, mas mantendo viva tal história, os titulares do União entram em campo geralmente aos sábados. Mas, para que ninguém fique sem ritmo de jogo, no domingo são os “suplentes” que calçam as chuteiras para fazer amistosos.

Com ajuda da prefeitura e de parceiros, hoje o time novamente tem o jogo de uniformes. Os antigos, assim como toda mística do campinho, foram imortalizados e emoldurados pelo inesperado lamaçal.

“Eu morava na Rua Dona Olinda, que ficava de frente para o campo lá em Bento. A gente tinha uma lanchonete pertinho. Depois de tudo, recebemos doações para recomeçar. Ganhamos uniformes, chuteiras e tudo o que precisávamos para que o time seguisse o jogo”.

Sem pretensão de figurar entre os grandes clubes do futebol brasileiro e de fazer parte do mercado que gira cifras incontáveis, o que Onésio e toda equipe querem é que as próximas gerações mantenham tudo o que foi construído na década de 1970. Com lama, com destruição ou com qualquer outro tipo de barreira, o que jamais vai se romper no alviverde é o desejo de entrar em campo após a semana cheia de muito trabalho na cidade.

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