Inércia da Mesa Diretora faz conselheiros do Cruzeiro pressionarem por expulsão de ex-dirigentes

Guilherme Piu
@guilhermepiu
25/08/2020 às 22:57.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:22
 (Igor Sales/Cruzeiro)

(Igor Sales/Cruzeiro)

Igor Sales/Cruzeiro / N/A

Wagner Pires e Hermínio Lemos estão na mira de conselheiros, que cobram expulsão da dupla do Conselho

Os conselheiros do Cruzeiro aprovaram na noite desta terça-feira as contas do exercício 2019 do clube, mas o encontro que discutiu sobre o balanço fiscal cruzeirense do ano passado ganhou outros contornos. Na mesma reunião outro assunto chamou a atenção e ganhou holofotes: a expulsão do ex-presidente Wagner Pires de Sá e do ex-vice-presidente administrativo Hermínio Lemos.

Alguns membros do Conselho Deliberativo cobraram da Mesa Diretora uma posição mais firme sobre a expulsão dos ex-dirigentes, que ainda estão nos quadros do clube mesmo após renúncia e denúncias de irregularidades durante o período em que dirigiram o Cruzeiro.

O conflito de ideias e pontos de vistas sobre a permanência de Pires de Sá e Lemos no Conselho Deliberativo começou quando o ex-integrante do Conselho Gestor - que dirigiu o Cruzeiro entre dezembro de 2019 e maio de 2020 – Gustavo Gatti cobrou uma definição sobre a expulsão da dupla.

"Não podemos aprovar essas contas e quem causou esse mal ao Cruzeiro continue da mesma forma. Nós quando do Conselho de Ética fizemos todos os desenvolvimentos para a cassação do senhor Wagner (Pires de Sá) e senhor Hermínio (Lemos) que são os responsáveis diretos. As cópias dos processos estão aqui, e queria colocar por aclamação, a expulsão do Conselho do senhor Wagner Pires e do senhor Hermínio. Gostaria que quem concordar fiquem do jeito que está. Está ok”, propôs.

Em sequência ao pronunciamento de Gatti, o presidente do Conselho e responsável pela condução da reunião, Paulo Pedrosa, chamou para discursar outro conselheiro, José Eustáquio Lucas Pereira.

Pereira, que é presidente da Reforma do Estatuto, mostrou outro ponto de vista, não tão congruente ao dito por Gatti.

“Com todo respeito que tenho pelo Gatti, data máxima vênia, as colocações feitas por ele sobre cassação imediata do senhor Wagner Pires, não que eu não concorde, evidentemente, mas existe um princípio esculpido na nossa Constituição chamado devido processo legal. Nós não podemos jamais expulsar alguém ou aplicar penalidade em quem quer que seja sem dar o direito de defesa. Por mais temerária que seja a administração dele, que nós todos reconhecemos e provamos, temos que fazer o processo de forma legal. Não podemos jamais fazer como acontecer anteriormente, de expulsar, excluir, 30 conselheiros, e 29 acionaram a Justiça e foram reintegrados. Para tudo existe a forma legal. Se vamos exonera-los, elimina-los do Cruzeiro, vamos dar a eles o direito de defesa com o devido processo legal”, contestou.

Gatti pediu a tréplica e contextualizou os fatos ao conselheiro José Eustáquio. “Não sei se o doutor José Eustáquio tem conhecimento, eles (ex-dirigentes) foram notificados, tiveram o direito de resposta, e houve a conclusão do Conselho de Ética, e ficou simplesmente de ser agendado pela Mesa Diretora para que o Conselho Deliberativo do Cruzeiro fizesse a exclusão. Eu estou propondo já que ninguém o fez até agora, propondo a exclusão imediata desses dois senhores responsáveis pela falência do Cruzeiro”, explanou.

Sem falar algo, o presidente do Conselho, novamente, apenas passou a palavra para outro membro dos quadros. Desta vez José Carlos Cruvinel, jurista, deu o seu ponto de vista.

“Só uma questão de ordem: essa reunião precede da publicação de um edital. E só o que está contido no edital pode ser tratado aqui. Fora disso, é arbitrariedade, é ilegalidade e não podemos conviver com isso”, pontuou.

Um dos integrantes do Conselho Fiscal em 2018 que pediu desligamento das funções por problemas envolvendo os atos da gestão Wagner Pires de Sá, Celso Luiz Chimbida corroborou o pensamento de Gatti e pediu que o ex-presidente executivo e seu vice direto fossem expulsos do Conselho Deliberativo.

 “O que essa antiga diretoria fez? Eles deixaram de fazer o pagamento regular do FGTS por nove meses, eles praticaram atrasos dos salários dos jogadores, não fizeram o recolhimento de tributos, praticaram, enfim, infrações à Lei de Responsabilidade do Desporto. O não recolhimento do FGTS o que causou ao Cruzeiro? Um prejuízo fenomenal. Perdemos inúmeros atletas, os direitos federativos (ele quis dizer econômicos) nós perdemos. Perdemos por que? Pelo serviço desses dois senhores. Eu volto a pegar e insistir. Para obedecer o previsto no Estatuto do Cruzeiro, que esses dois senhores sejam excluídos. Como condicionante para aprovação dos números vexatórios. Desses números horripilantes”, considerou

Chimbida foi além. “É muito simples a gente aprovar essas contas, esses números, e simplesmente falar que vai ser resolvido posteriormente isso (expulsões dos ex-dirigentes). Nós somos ou não somos soberanos? Precisamos provar isso (...) Passar a mensagem de que não fomos omissos”, completou antes de o microfone ser cortado pelos dois minutos de pronunciamento terem se esgotado.

Ex-integrante de chapa de Conselhos Fiscais em outrora, o conselheiro Anísio Ciscotto também foi de encontro ao pronunciamento de Gustavo Gatti e Celso Luiz Chimbida.

“Já que o (Gustavo) Gatti colocou a questão, o doutor Eustáquio falou que tem de ter o rito, eu sugiro, então, tem a quantidade de pessoas suficientes aqui, que a gente convoque a reunião, que a gente marque a reunião que vai analisar a questão dos conselheiros remunerados ou do presidente, seus diretores que estão excluídos. É uma ótima oportunidade”, apontou o conselheiro membro do Conselho Fiscal nos últimos triênios das presidências de Alvimar Perrella e Zezé Perrella, e no primeiro mandato de Gilvan de Pinho Tavares.

Depois de todos os comentários dos conselheiros foi a vez do presidente Sérgio Santos Rodrigues dar o seu ponto de vista sobre o polêmico tema. “Ninguém pode falar mais de ir atrás do que fizeram com o Cruzeiro do que temos feito. Inclusive, como relatei, sofrendo ameaças pessoais, mas tomando as ações necessárias. A diretoria do Cruzeiro deu procuração aos advogados nas áreas criminal e cível para bloqueios. Ainda não tivemos êxito no bloqueio. Temos corrido atrás”, disse.

O Hoje em Dia noticiou no dia 22 de abril deste ano as movimentações do Conselho de Ética pela expulsão dos ex-dirigentes do Cruzeiro. O tema foi noticiado em primeira mão pelo HD.

Em maio os integrantes do próprio Conselho de Ética encaminharam o pedido de expulsão de Wagner Pires de Sá e Hermínio Lemos.

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