Início do Brasileirão provoca inatividade de clubes e desemprego de jogadores

Alexandre Simões - Hoje em Dia
11/05/2015 às 07:18.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:58
 (Leonardo Morais)

(Leonardo Morais)

O Democrata de Governador Valadares iniciou a disputa do Módulo I sonhando alto. O clube, que voltava à Primeira Divisão do Campeonato Mineiro, trabalha para trocar o estádio Mamudão por um centro de treinamentos e uma arena na periferia da cidade. Como parte do projeto, o objetivo era inaugurar a nova casa participando ao menos da Série C do Brasileiro. Para isso, seria fundamental disputar a Série D em 2015, mas a Pantera viu o ano “acabar” em abril, rebaixada no Estadual.

A situação é regra no futebol brasileiro, pois 64% dos clubes que disputam a primeira divisão dos estaduais – ocupando assim o calendário nos três primeiros meses da temporada – não jogam nenhuma das quatro divisões do Campeonato Brasileiro.

No total, as 26 competições regionais reúnem 270 clubes apenas em suas respectivas primeiras divisões. Ao passo que as quatro séries do Brasileirão abrigam 100 equipes.

“É preciso arrumar uma forma de os clubes terem receita para um calendário cheio. Liberamos nosso grupo todo. Se tivesse programação, estaríamos nos armando. Alguns atletas permaneceriam, e contrataríamos outros. Mas isso não existe. Só no Democrata, são 50 pessoas que perderam o emprego após o Campeonato Mineiro”, conta o presidente da Pantera, Edvaldo Soares.

A revelação do dirigente reforça o que o Bom Senso F.C. vem cobrando desde seu surgimento: um calendário mais democrático e inclusivo no país.

Segundo levantamento do grupo, a maioria dos clubes brasileiros disputa apenas 17 partidas por ano, em média. Após os Estaduais, que terminaram na semana passada em quase todo o país, o número de profissionais do futebol desempregados chega a 16 mil.

“É uma situação bem difícil. O jogador do interior vive em cima da linha. Se o clube atrasa um pouquinho, complica a vida dele. Muitas vezes, são de outras cidades e deixam a família na dependência do salário que vão receber.
 
Imagina agora, que temos muita gente desempregada, não só atletas, mas também comissão técnica. Só quem gosta muito de futebol mesmo para estar nesse meio”, desabafa o técnico Gilmar Estevam, que comandou o Democrata-GV no Campeonato Mineiro e, agora, está desempregado.

Números
 
Com base no caso do Democrata - cuja estrutura era de 50 funcionários no futebol profissional –, os 173 clubes que participaram dos 26 estaduais pelo Brasil somam juntos mais de 8 mil profissionais que agora estão em busca de emprego. O cálculo considera que o campeonato estadual do Amapá começa apenas em julho, e que três representantes do estado de São Paulo no Brasileiro (Oeste, Guarani e Guaratinguetá) disputam a Série A2 do Paulistão.

“A maioria dos clubes, inclusive o Democrata, não joga no segundo semestre por falta de receita. Não tem como pagar. Tem time que se classifica para a Série D e não disputa, por falta de dinheiro. Imagina participar de um torneio regional”, conclui Edvaldo.

Opção para os clubes, Taça Minas Gerais ‘morreu’ em 2012 O Bom Senso F. C. coloca como desafio para o Brasil o desenvolvimento de um calendário que permita um futebol de melhor qualidade para os clubes grandes e de maior sustentabilidade para os pequenos.   Em Minas Gerais, a necessidade de mudanças fica evidente com a “morte” da tradicional Taça Minas Gerais, que era disputada após o término dos Módulos I e II do Campeonato Mineiro, mas que foi realizada pela última vez em 2012.   “O nosso objetivo é fazer a Taça Minas Gerais. Só que ela precisa ser atrativa. Queremos dar uma vaga na Copa do Brasil, mas o Regulamento Geral de Competições da CBF exige que pelo menos quatro clubes do Módulo I participem da competição para que ela possa ser classificatória para a Copa do Brasil”, revela Paulo Bracks, diretor executivo da Federação Mineira de Futebol (FMF).   Segundo o dirigente, o grande problema para a realização da Taça Minas Gerais é o aspecto financeiro.  “Dependemos da iniciativa dos clubes. Não fizemos consulta individual, mas após o Módulo I não tivemos retorno. Esbarra sempre na questão financeira, pois as despesas são altas com atletas e viagens. Para a FMF, é difícil bancar a competição, pois, pela primeira vez nos últimos anos, não conseguimos patrocínio para o Módulo I. Custear a competição é inviável”, afirma Bracks.   No meio da batalha entre o Bom Senso F. C., a CBF e as federações, os clubes pequenos agonizam num futebol brasileiro cada vez mais desequilibrado, técnica e financeiramente.

 

 

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