Infectologista vê 'peladas clandestinas' como inadequadas e teme 'efeito dominó'; entenda

Henrique André
@ohenriqueandre
06/05/2020 às 12:29.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:26
 (Riva Moreira)

(Riva Moreira)

Muito além de uma simples "escapada" durante a quarentena. Assim pode ser classificada a atitude dos meias Otero e Cazares, ambos do Atlético, que nesta terça-feira (5) foram flagrados jogando futebol numa quadra de Santa Luzia, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Por meio de nota, o clube afirmou que a recomendação passada pelo Departamento Médico foi para que todos os atletas ficassem em casa. Além disso, o alvinegro afirma que o equatoriano e o venezuelano serão orientados novamente e se submeterão aos testes antes da volta aos treinos, que continuam sem data estabelecida.

Contudo, o assunto é bem mais sério do que se imagina. Em contato com o doutor Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, o Hoje em Dia teve acesso a informações importantes. Segundo ele, inclusive, a atitude dos atletas foi, no mínimo, inadequada.

"Não estamos ainda no momento de aglomerações. O futebol, a pelada, e o encontro de pessoas, em qualquer objetivo, aumenta a chance de transmissão e também de aquisição da Covid-19. É mais do que claro que, o futebol, pela proximidade das pessoas, é um terreno fértil para esta transmissão", destaca o infectologista.

"No mínimo, existe uma possibilidade pequena de alguém (presente na pelada) ter adquirido o vírus, estar numa fase assintomática, tendo a imensa capacidade de transmiti-lo, como num 'efeito dominó'. Temos que lembrar que este vírus apresenta rápida passagem de uma pessoa a outra. Se houve momento de contato, cria-se o terreno", acrescenta.

Ainda de acordo com Estevão Urbano, isso pode ocorrer na pelada, no ônibus, numa corrida de rua ou em outros ambientes.

Retorno das atividades

Questionado sobre a ideia de alguns clubes e federações de iniciar o retorno às atividades, de forma gradual e levando em conta as orientações, Urbano crê que ainda não é o momento para tal. Segundo ele, há um enorme risco de voltar o futebol sem que todas as medidas necessárias sejam tomadas.

"Estamos vendo estados que perderam completamente o controle, exatamente porque o vírus tem uma dispersão exponencial. O grande problema da transmissão é que, em boa parte das pessoas, ele existe/existiu sem ter apresentado sintomas", afirma o infectologista.

"Pensar em retorno dos campeonatados nacionais é fora de hora e de propósito, por mais que esteja com casos controlados em alguns estados. É nesta hora que você toma decisões que mudam o cenário e corre o risco enorme de perder o controle", vai além.

Na opinião do especialista, apenas os torneios regionais deveriam ser considerados. Mesmo assim, só a partir de junho ou julho, com portões fechados e com todos os profissionais envolvidos no evento devidamente testados.

"Tudo o que se fala é empírico. Desconfiem das certezas. Sabemos muito pouco e estamos aprendendo com os erros dos outros. O ideal (retorno do futebol) seria setembro ou outubro. Mas, como existem outros pontos envolvivos, como o financeiro, no mínimo seria jogo fechado, com todo controle possível", opina.

"Nos torneios nacionais, o controle teria que ser maior. Imagina uma delegação passando por aeroportos, hotéis e outros lugares. Creio que seja inviável. São Paulo e Rio, por exemplo, estão no auge da pandemia. Estados que hoje estão controlados, podem viver o mesmo em seguida. Não sabemos", finaliza.

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