Invisível aos grandes de BH, Bruno Henrique levou o bairro Concórdia para a Liga dos Campeões

Frederico Ribeiro
fmachado@hojeemdia.com.br
08/04/2016 às 21:25.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:51
 (Flávio Tavares/Hoje em Dia)

(Flávio Tavares/Hoje em Dia)

Capitão do Real Madrid, Sergio Ramos nunca ouviu falar do bairro Concórdia, da Vila Tiradentes ou do Inconfidência Esporte Clube. Mas foi ali que nasceu o pesadelo do zagueiro espanhol na Liga dos Campeões (o lateral-esquerdo Marcelo que o diga). A derrota por 2 a 0 para o Wolfsburg, na última quarta-feira, pelas oitavas de final, teve a participação decisiva do atacante Bruno Henrique, nascido e criado no terrão do Inconfidência Esporte Clube, time de futebol amador de Belo Horizonte.

“Hoje, você só entra nos clubes se tiver empresário. Como ele veio da várzea, nunca teve oportunidade em um clube profissional. Só foi ter uma chance depois que ganhamos a Copa Itatiaia”, conta o presidente do Inconfidência, Alex Veiga, ao Hoje em Dia.

A assistência para o segundo gol dos alemães foi o ápice da estreia como titular do jogador de 25 anos, que saiu da capital mineira invisível aos olhos dos três clubes profissionais da cidade. Bruninho rompeu o rumo natural da profissionalização. Agora, na terça-feira, terá o maior desafio da carreira: eliminar o Madrid em pleno Bernabéu.

Mas a importância do duelo da volta pela Champions League não tira o sono do belo-horizontino, que já escalou alambrado para fugir de briga generalizada no campo do Tupinense e jogava de graça até os 21 anos. A vida mudou da água para o vinho, e o “olho do furacão” aconteceu no início de 2016. Foi vendido por quase R$ 20 milhões pelo Goiás para os Lobos da Baixa Saxônia.

Fortuna incapaz de mudar o estilo de vida simples da família, que segue morando na mesma casa rosa ao lado do campo do Inconfidência, que virou o quintal de Bruno na infância.

“Ele foi criado aqui no Concórdia, só pulava o muro aqui na frente de casa e já dava para o campo. Era o que ele adorava fazer. Minha vida não mudou nada, ela é a mesma de antes, minha morada é igual. Só ficamos alegres pelo trabalho que ele vem fazendo”, contempla “Seu” Genésio, avô de Bruno, que celebra 75 anos hoje e nem pensa em comemorá-los com o neto mais novo na Alemanha.

“Vou ficar no meu cantinho mesmo. Prefiro enfrentar esse calor do Brasil do que a Alemanha, porque é muito frio. Fico por aqui, desejando boa sorte”, acrescenta o orgulhoso avô.

 Tempos na várzea teve briga apartada por helicóptero da polícia

Bruno não é o único filho do Inconfidência que virou profissional. O irmão mais velho, Wander Junior, o Juninho, de 26 anos, usava a camisa 11 do time e também ergueu a Copa Itatiaia de 2012. Hoje, após percalços na carreira, torce pelo atacante do Wolfsburg enquanto tenta evitar o rebaixamento do Guarani de Divinópolis para o Módulo II do Campeonato Mineiro.

“Juninho é outro que, daqui um tempo, a gente vai ver ele indo para fora, seguindo os passos do irmão. É muito bom jogador”, garante o amigo Barriga, lateral-direito do Inconfidência e companheiro dos irmãos na equipe campeã. Barriga, inclusive, é o próximo a fazer sucesso no Concórdia. Afinal, é pai do pequeno Kevin, considerado o próximo Bruno Henrique do IEC.

Nos tempos em que Bruno vestia a 10 do time do Concórdia e fazia dupla de ataque com Juninho, gols, títulos e confusões eram a rotina dos irmãos.

“O nosso time era muito brigão. Qualquer coisa caçava confusão. Mas eu e meu irmão nunca fomos de entrar nela”, afirma Juninho, sem se esquecer de uma cena pitoresca que vivenciou na várzea.

“Na final da Copa Centenário de 2006, a gente perdia o jogo para a Portuguesa (do Providência). Mas eu fiz dois gols e viramos. Já havia uma rixa que virou uma briga incontrolável entre os jogadores. Ela só parou depois que o helicóptero da Polícia Militar aterrissou no meio de campo”.Luciano Eurides

Juninho tenta salvar o Guarani-MG para seguir os passos do irmão famoso

 Juninho chegou a abandonar a carreira profissional em 2013, por problemas pessoais, e voltou para o Inconfidência. Mas, na Copa Corujão de 2015, foi observado por Marcos Rocha e, após elogios do lateral-direito do Atlético, retornou aos campos e virou escudeiro do técnico Ramon Menezes, primeiro no ASEEV, depois no Anápolis (ambos de Goiás), e agora no Bugre mineiro.

Terrão com os dias contados
Orgulho do Concórdia, o Inconfidência se prepara para transformar o velho campo de terra em grama sintética. A diretoria, que gasta cerca de R$ 1.2oo para colocar o time em campo, sobrevive através de ajuda de custo de parceiros. 

Um deles é famoso na várzea. Demóstenes de Oliveira, o “Dedé ” é considerado um patrono do time. Nesta relação, o empresário que atua no ramo de maquinários já levou Bruno Henrique para jogar no Vasco, tradicional equipe amadora de Esmeraldas.

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