Lucarelli aponta equilíbrio entre seleções como principal obstáculo no Rio

Felippe Drummond Neto
fneto@hojeemdia.com.br
22/05/2016 às 00:17.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:33
 (FIVB/Divulgação)

(FIVB/Divulgação)

Ricardo Lucarelli Santos de Souza, ou simplesmente Lucarelli, é apontado como o “Neymar” do vôlei brasileiro. Aos 24 anos, seis deles atuando profissionalmente e como um dos melhores ponteiros do mundo, o atleta do Funvic/Taubaté é uma das principais armas da Seleção Masculina para conquistar a medalha de ouro na Olimpíada do Rio de Janeiro. Vivendo a expectativa de disputar pela primeira vez a maior competição da modalidade, o ex-jogador do Minas, natural de Contagem deu uma pausa na preparação para os Jogos e concedeu esta entrevista exclusiva ao Hoje em Dia.

Como você vê a naturalização em massa de jogadores cubanos (Juan Torena, Leal, Leon) e a possibilidade de jogar ao lado do Leal na Seleção Brasileira daqui a dois anos?
Acho que isso só está acontecendo por uma infelicidade na confederação deles. Eles são “obrigados” a seguir esse caminho para conseguir se realizar como jogadores. Sobre o Leal, acredito que não somente eu, mas todos do mundo do vôlei o consideram um dos melhores ponteiros do mundo na atualidade. A questão da convocação dele sai da minha alçada, mas, caso aconteça, ele será muito bem-vindo ao time.

Sabendo que somente eles poderiam formar uma boa seleção, dá vontade de jogar contra?
Seria um baita time. Provavelmente, com eles na seleção, Cuba estaria brigando pelos principais títulos em todos os anos. Seria mais uma grande equipe para jogar contra a gente.

Como você lida com a fama? Dá para fazer programas normais, como ir ao shopping ou sair à noite, entre outros?
Algumas vezes me reconhecem, mas isso nunca me impediu de fazer nada. Normalmente, me pedem para tirar uma foto e fazem algumas perguntas. Mas nunca tive nenhum problema com isso, nem nunca fui desrespeitado.

Tem algum caso engraçado com os fãs que você possa revelar?
Uma vez fomos jogar em Campinas, uma fã pediu pra tirar foto e começou a chorar de soluçar na hora. Aí eu a abracei, e ela não me largou mais. Toda vez que outra pessoa tentava tirar foto comigo, ela não deixava, ficava me segurando para eu não sair de perto dela. Ficamos assim, eu agarrado com ela e tirando foto com todo mundo.

Como é a sua relação com o Minas?
Excelente. Sempre que estou em Belo Horizonte de folga e tem jogo eu faço questão de ir assistir. Além disso, meus pais moram na cidade e sempre vão aos jogos, tanto do masculino quanto do feminino. Temos um vínculo legal com o clube.

Para a próxima temporada, o Taubaté se reforçou com vários grandes jogadores, como Wallace, Eder e Lucas Lóh. O que esperar desse time, que no papel já é um dos mais fortes do Brasil e do mundo?
Só esperamos coisas boas. O time fez excelentes contratações, e estamos muito esperançosos para essa temporada. Além de ser um time com excelentes atletas, também são grandes pessoas, e essa soma faz com que a equipe tenha ainda mais força.

Algumas dessas contratações só ocorreram graças ao ranking de atletas da CBV. Como você vê o critério? Concorda com ele?
O ranking já existe há muito tempo, mas acredito que, por ter atingido um jogador do tamanho do Wallace, agora todo mundo foi forçado a olhar para ele como algo ruim. O próprio público que já acompanha o vôlei há mais tempo ficou ainda mais inteirado sobre isso. Mas, para ser sincero, não tenho uma opinião formada. O fim do ranking já foi discutido várias vezes, e sempre mantiveram assim. Acredito que ele ajuda, sim, a nivelar a competição, apesar de já ter prejudicado alguns atletas.

Quando você está de folga em Belo Horizonte, o que você gosta de fazer?
Gosto de ficar em casa. Costumo ficar a maior parte do meu tempo com a minha família. Como estou sempre jogando e viajando, quando tenho tempo, gasto matando a saudade.

Além do vôlei, você já se aventurou em outros esportes? Quais?
Para falar a verdade, sempre estive envolvido com o esporte, e por isso me aventurei bastante em outros esportes. Comecei no futsal, depois fiz natação, joguei basquete e também handebol. Só por último é que cheguei ao vôlei. Gosto de todos esses, e acredito que consegui me destacar em todos eles, mas o vôlei foi e é a minha grande paixão.

E que outros esportes você acompanha? Para quais times você torce neles?
Sou atleticano, assisto a todos os jogos do Galo. No basquete, tenho time aqui e nos Estados Unidos. No Brasil, torço para o Minas, e na NBA, para o Golden State Warriors e também para o Boston Celtics.

Que seleções você aponta como grandes adversárias da seleção na Rio 2016? 
No atual cenário, em ordem, coloco Franca, Estados Unidos, Itália, Polônia e Rússia. Acho que estes serão nossos principais adversários.

Ter passado esse ciclo olímpico sem conquistar nenhum título de nível mundial aumenta a cobrança pelo título nos Jogos Olímpicos do Rio?
Nós ganhamos a Copa dos Campeões, no Japão, em 2013, que é um título de nível mundial. Mas não considero que nós fomos mal. Chegamos a várias finais, e apenas não ganhamos essas finais. Além disso, as equipes, num modo geral, evoluíram muito. Hoje, não dá para jogar uma Liga Mundial e se preocupar somente com algumas seleções, pois todas são perigosas. Um grande exemplo disso é o Irã.

Como é a pressão de ser o principal jogador da nova geração da seleção?
Não me considero o principal o principal jogador da seleção. Sei que tive uma grande evolução na seleção, mesmo assim acredito que, para ter sucesso, precisamos ter um grupo forte como um todo. Temos vários jogadores excelentes, e formamos uma equipe extremamente forte.

Você ainda não conquistou nenhuma das principais competições desde que chegou ao vôlei profissional, em 2010. Porque você acha que, apesar do seu bom desempenho, os resultados ainda não estão aparecendo?
Justamente pelo nível das competições e dos adversários, tanto nacionalmente, como internacionalmente. Para você ter uma ideia do quão equilibrado está o vôlei mundial atualmente, desde a Olimpíada de Londres (2012), todos os anos tivemos campeões diferentes nas principais competições. Isso comprova o equilíbrio. A Rússia foi a campeã Olímpica em 2012, a Polônia foi campeã mundial em 2014, e os Estados Unidos ganharam a Copa do Mundo, no ano passado. Além disso, na Liga Mundial, a Polônia (2012), a Rússia (2013), os Estados Unidos (2014) e a França (2015) foram campeões nesse ciclo olímpico. Disputamos seis dessas competições e fomos vices em quatro.

Em 2012, você não disputou a Olimpíada de Londres, mas viajou e treinou com o time. Como foi essa experiência? E como está sua cabeça agora que você está prestes a disputar sua primeira Olimpíada?
Foi muito bom. Eu já viajei sabendo que não iria jogar, então encarei como uma oportunidade de aprendizado única. Agora, o cenário é diferente, estou na briga para estar entre os 12 jogadores que vão disputar a Olimpíada do Rio, e não vejo a hora de realizar esse sonho, que é o sonho de todo atleta.

Uma das grandes disputas pela vaga de titular na seleção é entre William, Bruninho e Rapha, na posição de levantador. Como atacante, você tem preferência por algum deles?
Já tive oportunidade de jogar com os três, e todos eles são muito bons. Por isso, essa escolha é praticamente impossível pra mim. Com quem menos joguei foi o William, mas falar sobre a qualidade dele é perda de tempo. Nos últimos seis anos, ele foi o melhor levantador na Superliga. Por isso, deixo essa difícil decisão para o Bernardinho.

Como é ter como o Sada/Cruzeiro como rival?
Particularmente, eu acho ótimo poder jogar contra um time tão bom como o deles. Acho que me ajuda a crescer. É sempre bom encarar grandes adversários, pois você tem que se esforçar para conseguir jogar no nível deles e, assim, vai desenvolvendo cada vez mais seu jogo e suas habilidades. Eles mantêm uma mesma base há muitos anos, sempre contratam muito bem após alguma perda, e assim conseguem se manter tanto tempo no topo.

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