Maior 'papa títulos' da história do Cruzeiro, ex-volante Ricardinho relembra conquistas pela Raposa

Guilherme Guimarães e Henrique André
esportes@hojeemdia.com.br
09/10/2016 às 08:44.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:09
 (Arquivo Hoje em Dia)

(Arquivo Hoje em Dia)

Durante os oito anos em que vestiu a camisa do Cruzeiro (1994 a 2002), o ex-volante Ricardinho conquistou quinze títulos pelo clube celeste. Os números são tão impressionantes que, até hoje, nenhum outro jogador conseguiu superá-lo em voltas olímpicas pela Raposa. 

Negociado com o futebol japonês em 2002, o “Mosquitinho Azul” – apelido dado pelo narrador esportivo Alberto Rodrigues – perdeu a chance de ter feito parte do fantástico elenco do ano seguinte, campeão da inédita Tríplice Coroa (Mineiro, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro). Esta, inclusive, é a única frustração do ex-camisa 8, atualmente empresário do ramo de calçados.

Com um currículo recheado de grandes conquistas no clube, pelo qual marcou 45 gols em 411 partidas, para Ricardinho, só faltou levantar o caneco do Brasileirão. 

Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, o ex-volante relembra as glórias pelo clube mineiro, fala sobre os anos em que viveu no Japão, e comenta sobre a atual fase do time na Série A. 

Aos 40 anos de idade e há oito fora do futebol, o mineiro nascido em Passos, no Sul de Minas, ainda é bastante assediado por torcedores nas ruas da capital.

Em 1993, você assistiu, da arquibancada, o primeiro título do Cruzeiro na Copa do Brasil. De alguma maneira, aquela conquista ajudou a te inspirar a ser um jogador profissional?
Cheguei em 1993 ao Cruzeiro, no Juvenil, e o time já estava disputando competições importantes. A gente ia sempre ao Mineirão ver os jogos. A gente treinava no mesmo lugar dos profissionais, e tínhamos um contato muito próximo, então aquela Copa do Brasil foi o meu ponto de partida. Eu tinha de 14 para 15 anos. O Nonato era nosso exemplo.

No ano seguinte, você iniciou sua trajetória como jogador profissional do Cruzeiro. Qual o treinador você considera ter feito o papel mais importante em sua carreira?
Para mim, o Ênio Andrade foi fundamental. Na categoria de base, eu jogava numa posição e, quando subi para o profissional, ele me mudou de meia para volante. Além disso, me ajudou muito em coisas básicas, como posicionamento em campo, por exemplo, coisas que poucos técnicos atualmente têm paciência para passar aos jogadores. O Levir também me ensinou muitas coisas para dar sequência na carreira. Ele é um cara muito estrategista e inteligente.Henrique André

Sua naturalidade é Passos, no Sul de Minas, a mesma cidade do Careca, ex-atacante do Cruzeiro. Ele teve alguma influência na sua vinda para Belo Horizonte?
Todo mundo que jogava futebol em Passos tinha ele como espelho. O fato de ele estar jogando pelo Cruzeiro nos estimulava muito. Foi um espelho.

Seu primeiro clássico foi em 1995, e o Cruzeiro venceu o Atlético por 2 a 1. Ao todo, você disputou 28 clássicos e mais venceu do que perdeu. Hoje, dá saudade desses grandes jogos, da torcida gritando o seu nome nas arquibancadas, da adrenalina antes das partidas?
Quando eu parei de jogar, eu sonhava bastante. Nos primeiros seis meses, eu sonhava que estava dando entrevista, indo para o jogo, ou jogando... Então é uma loucura, pois você vive aquilo a vida toda e, de repente, muda a rotina. Depois, aos poucos, isso foi diminuindo. A decisão de parar é muito difícil. Parei por contusão, não estava preparado. Tinha de 31 para 32 anos. Senti muito, mas já estava preparado, pois sofria muito dentro de campo. Tomava muito medicamento e sofria muita dor. Não entrar mais no Mineirão e sentir o calor daquela torcida é muito difícil quando você para de jogar.

Você é o recordista de títulos pelo Cruzeiro, com um total de 15 troféus. Todas essas conquistas tiveram uma história bonita, importante. Você consegue eleger a mais emblemática delas?
A conquista que mais me marcou foi a Copa do Brasil de 1996. O nível do campeonato era muito forte, e a competitividade era muito alta. Foi minha primeira competição como titular. Chegamos num nível muito bom naquela final contra o Palmeiras, que era um time muito forte. É a conquista que vou lembrar para sempre.

Você atuou ao lado de dois dos goleiros mais importantes da história do Cruzeiro, Dida e Fábio. Sem ficar em cima do muro, quem é o melhor dos dois? 
Eleger é difícil. Os dois estão na história do clube. Com o Dida, eu joguei mais tempo. Ele era muito seguro e, além de defender bem o campeonato todo, nas decisões ele fazia a diferença. Não tomava gol fácil. Pra mim, ele foi o maior da história do clube. O Fábio também é um excelente goleiro, praticamente do mesmo nível. Não é a toa que está aí com tantos jogos como titular e há tanto tempo no Cruzeiro. O Dida, porém, para mim, é um dos melhores goleiros que eu já vi.

Quem você considera o seu grande companheiro de meio-campo, o jogador com quem você mais se identificou e fez aquela dupla inesquecível no Cruzeiro? 
O Fabinho foi o principal. O Marcos Paulo e o Donizete Oliveira também foram muito importantes.

Queria ficar pelo Brasileiro, que era o único título que eu não tinha pelo Cruzeiro. Eu já estava com muito tempo de casa, e sentia a necessidade de sair. Se eu tivesse ficado, seria fantástico. Mas o que eu consegui fazer lá fora também foi importante.

O Cruzeiro luta hoje contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro. Brigar contra o descenso atuando por uma equipe grande do Brasil é mais difícil? Você também viveu essa experiência em 1997, quando o Cruzeiro escapou da degola na última rodada do Brasileiro, no empate em 3 a 3 com o Santos, na Vila Belmiro. 
O time sofre muita pressão. Vivemos isso quando eu jogava. O fato de o Cruzeiro nunca ter caído, e também por suas conquistas, aumenta mais ainda essa pressão que o jogador sente. Profissionalmente, é muito ruim para o atleta. O lado psicológico é mais importante que a parte técnica nesse momento. O Cruzeiro tem um elenco bom e não tem um time para cair. Falta encaixar para escapar. Tem muitas rodadas ainda, e acho que não vai acontecer (queda).

Durante cinco anos, você atuou no futebol japonês, passando pelo Kashiwa Antlers e pelo Kashiwa Reysol. Como foi sua a passagem pelo futebol asiático? Ainda mantém contato com conhecidos daquela época?
Às vezes, quando eles têm alguma comemoração por lá, sempre me ligam. Tenho uma identificação com o Reysol que é parecida com a que tenho no Cruzeiro. Tive uma passagem muito boa lá. Era um time médio, que ficava sempre no meio da tabela. Lá eles não contratam tantos jogadores. Usam muito os atletas que sobem da base.

O Cruzeiro conquistou a Tríplice Coroa em 2003. Um ano antes, você foi emprestado ao Kashiwa Reysol, e na “temporada mágica” para o Cruzeiro, você foi negociado em definitivo com os japoneses. Fica uma sensação de que você poderia ter ficado e conquistado mais títulos?
Queria ficar pelo Brasileiro, que era o único título que eu não tinha pelo Cruzeiro. Eu já estava com muito tempo de casa, e sentia a necessidade de sair. Se eu tivesse ficado, seria fantástico. Mas o que eu consegui fazer lá fora também foi importante.

Mosquitinho Azul é o apelido que você ganhou quando atuou no Cruzeiro, e até hoje os torcedores te chamam assim. Você gosta?
Todo lugar que eu vou é por este apelido que me chamam. Até hoje, não vi o Alberto Rodrigues (narrador que inventou o apelido), desde que parei de jogar. Sou muito grato a ele. O apelido pegou de um jeito que não saiu mais.Cruzeiro/Divulgação

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