"A Copa acabará, mas nosso futebol seguirá existindo", diz Toninho Nascimento

Mamede Filho - Hoje em Dia
17/03/2013 às 13:31.
Atualizado em 21/11/2021 às 01:58
 (Glauber Queiroz)

(Glauber Queiroz)

O jargão diz que, quando alguém deixa o jornalismo para assumir outra profissão, se transforma de “pedra” em “vidraça”. Após mais de 15 anos como editor do caderno de Esporte do jornal “O Globo”, no Rio, o jornalista Toninho Nascimento passou a cuidar de seu “telhado de vidro”, ao assumir a Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor.

“Existem convites que não podemos recusar, e este foi o caso”, afirma o secretário, que tomou posse no dia 31 de janeiro, com o desafio de finalmente impulsionar a modernização do futebol brasileiro.

Qual a principal motivação para a criação da Secretaria?

Trabalhar pelo desenvolvimento do futebol e a defesa dos direitos do torcedor. A Copa do Mundo, um evento gigante, um dia acabará, mas o futebol brasileiro continuará existindo. Além disso, temos um projeto para desenvolver o futebol feminino, que é uma das minhas paixões e vive uma situação lamentável.

Qual o primeiro passo para desenvolver o futebol nacional?

Abrir o leque de discussão sobre nosso futebol. A questão do calendário, por exemplo. Será que chegou o momento de mudá-lo? Talvez seja possível aproveitar a Copa do Mundo para adequá-lo ao padrão europeu, o que possibilitaria aos clubes excursionar no exterior na pré-temporada. Outro tema importante é o futebol fora dos grandes centros. Temos de torná-lo mais competitivo ou corremos o risco de nos transformar em Espanha. De, na segunda rodada, sabermos quem será o campeão e os rebaixados.

A função da Secretaria é mais voltada a criar propostas ou fiscalizar?

Estamos mais focados no planejamento, mas forçando os responsáveis a cumprir suas obrigações. O Estatuto do Torcedor é nossa constituição. O Ministério do Esporte não pode fazer revista, mas pode ajudar os órgãos públicos a se modernizar. Especialmente em relação à violência no futebol. Vamos nos reunir, em abril, com outros órgãos para uniformizar as formas de combate à violência. Isso não existe no Brasil. Cada Estado trabalha de uma maneira. A Copa é um bom gancho para criar um padrão, com delegacia especializada, juizado especializado.

O Estatuto do Torcedor trata da punição a torcedores violentos...

Exato. O estatuto permite que você afaste um torcedor por três anos dos estádios. Agora, é preciso cumprir o que está escrito lá. Temos um projeto de cadastramento das torcidas organizadas. Em vez de excluir esses torcedores, você passa a incluí-los, com programas de capacitação técnica, por exemplo. A violência está praticamente resolvida dentro dos estádios. Fora deles, a responsabilidade também é da Polícia.

Qual o plano relativo à dívida dos clubes?

A ideia é trocar as dívidas por apoio ao esporte. Não é perdoar quem deve, mas aproveitar esse momento histórico do país para transformar as dívidas em ações de incentivo ao esporte e inclusão social. O projeto é mais centrado na formação do que no alto rendimento.

Por que esse projeto é diferente de outros?

Porque terá de ter contrapartidas, como a perda de pontos e o comprometimento financeiro dos clubes. Se um clube não cumprir com o que foi acertado, pode, por exemplo, perder pontos e ser rebaixado. E não existe punição maior a um dirigente que essa.

Como a Secretaria tratará o futebol feminino?

O primeiro passo é montar um calendário, o que não existe no Brasil. Fechei com a Conmebol (Confederação Sul-Americana) a realização de uma Libertadores e estou quase fechando um Brasileiro, de julho a novembro, com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Um time jogaria, no mínimo, 12 vezes no ano. Já começamos a pensar no apoio de patrocinadores e da televisão.

Como é a relação da Secretaria com a CBF?

Há um relacionamento formal. Temos uma Copa do Mundo pela frente e a obrigação de fazer com que tudo dê certo. O relacionamento tem de ser formalmente bom.

Qual seu maior objetivo como secretário?

A Copa acabará. O futebol, não. Ele continua depois da Copa. Minha preocupação é com o legado do futebol. Teremos 14 arenas depois do Mundial, e outras podem surgir. Precisamos ter um futebol muito mais forte. Os clubes precisam aprimorar a gestão. Quem não se adaptar vai ficar para trás. 

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